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Quebra no consumo alimentar em 2022 foi a maior de que há registo

“Apesar de gastarem mais, as famílias estão na verdade a cortar na comida. O crescimento do PIB não nos diz assim tanto sobre condições de vida”, afirma o economista e eurodeputado José Gusmão sobre os dados divulgados pelo INE.
Foto Paulete Matos.

Segundo o último destaque do Instituto Nacional de Estatística, o ano de 2022 foi marcado pelo maior corte que há registo no consumo alimentar.

Por um lado, foi o setor que sofreu mais com a inflação. Mesmo agora que se começa a registar um abrandamento da inflação, o aumento de preços específico aos produtos alimentares continua a acelerar e chegou em fevereiro a ultrapassar os 20%. 

Assim, o valor da despesa com este tipo de consumo atingiu o pico o ano passado: quase 29 mil milhões de euros em 2022. As famílias residentes aumentaram a sua despesa alimentar em 9,7%. 

Ao mesmo tempo, descontando o efeito da inflação, a despesa com alimentação teria caído na mesma. A quebra real, ou seja, sem esse efeito do aumento do preço, foi de 2,3% - a maior registada nas séries do INE que remontam a 1995.

O jornal Diário de Notícias sublinha que “é preciso recuar aos anos de chumbo do programa de ajustamento do governo PSD-CDS e da troika para encontrar um encolhimento nos gastos reais com alimentos. Mas nem nessa altura foi tão grande: caíram 0,7% em 2011 e 1,3% em 2012”.

Fica claro que as famílias estão a optar por cortar na despesa com bens alimentares para poder face a outros pagamentos, como a renda das casas. 

Crescimento do PIB esconde realidade social

O eurodeputado José Gusmão comentou a notícia, sublinhando que “apesar de gastarem mais, as famílias estão na verdade a cortar na comida. O crescimento do PIB não nos diz assim tanto sobre condições de vida”. 

Gusmão refere-se ao crescimento anunciado de 6,7% do PIB em 2022 em termos reais, sendo o mais elevado desde 1987, quando se registou 5,5%. 

Este crescimento é explicado pela maior faturação das empresas através da subida dos preços, o valor dos bens produzidos e transacionados e pelos impostos. 

O relatório do INE esclarece ainda que "a procura interna apresentou um contributo positivo expressivo para a variação do PIB, embora inferior ao observado no ano anterior, verificando-se uma aceleração do consumo privado e uma desaceleração do investimento".

Esta aceleração do consumo privado refere-se a bens duradouros, geralmente adquiridos por grupos de maiores rendimentos, e restantes bens correntes (não alimentares), bem como um aumento das exportações acima das importações. 

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