As manifestações regressaram a Istambul e outras cidades turcas esta terça-feira, após ser conhecida a morte de Berkin Elvan após nove meses em coma. A impunidade da violência policial concentrou boa parte das palavras de ordem entoadas no funeral do jovem, já que os responsáveis pela sua morte nunca foram investigados e continuam em funções. Berkin Elvan não participava nas manifestações e terá saído de casa para comprar pão, sendo atingido na cabeça por uma das milhares de latas de gás disparadas contra as multidões que afrontaram a repressão no centro de Istambul.
Uma multidão juntou-se à volta do hospital onde Berkin acabara de falecer e a polícia voltou a dispersar as pessoas recorrendo a gás lacrimogéneo que chegou a entrar no hospital. Vários utentes e familiares dos doentes foram apanhados pela repressão. A família do jovem responsabiliza diretamente o chefe do governo pela morte de Berkin, que acabou por falecer com apenas 16 quilos.
"Não foi Deus que levou o meu filho. Foi Tayyip Erdogan", disse a mãe de Berkin aos jornalistas. O primeiro-ministro turco não se cansou de louvar a ação policial na repressão dos protestos contra a destruição do Parque Gezi, no centro de Istambul, considerando-as "ações heróicas".
Concentrações de solidariedade em várias cidades, incluindo Lisboa
"Berkin é a quarta pessoa a morrer em resultado do abuso da força por parte da polícia nos protestos do ano passado no Parque Gezi. A ausência de investigações sobre o uso dessa força que também deixou milhares de feridos pôs o dedo na ferida e resultou numa vaga de manifestações antigoverno que voltam agora a varrer a Turquia", declarou Andrew Gardner, da Amnistia Internacional.
Em 31 cidades turcas houve protestos esta terça-feira à noite e alguns contaram com repressão policial com canhões de água e recurso a gás lacrimogéneo. No funeral realizado na quarta-feira de manhã, houve dezenas de milhares de pessoas a percorrer as ruas de Istambul, relata a BBC. Muitos milhares juntaram-se também na praça Kizilay em Ancara, antes de serem retirados pela violência policial.
Em Lisboa, a concentração de solidariedade vai durar até às 21h de quarta-feira no Largo Camões. "Uma nova frase começa a ser repetida: 'Berkin não acordou, é bom que acordemos nós'", apelam os organizadores deste evento de solidariedade contra a repressão na Turquia.
A Turquia tem eleições municipais marcadas para o fim do mês e Erdogan já anunciou que se demite do governo em caso de derrota, depois de ter sido fortemente abalado por um escândalo de corrupção.