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Protesto em Lisboa contra prisão de líderes da oposição turca

Concentração em solidariedade com copresidentes e deputados do partido pró-curdo HDP está agendada para este domingo, às 17h, no Rossio. HDP garante que a sua "luta democrática prevalecerá”.

Na convocatória, publicada no facebook, os promotores da iniciativa defendem que é preciso dizer "Não! ao fascismo na Turquia (e em nenhum outro lugar)” e declaram a sua solidariedade com os povos da Turquia. Durante a ação será lida e distribuída a defesa coletiva dos deputados e das deputadas do HDP, bem como alguns comunicados dos movimentos sociais da Turquia.

Líderes do HDP em prisão preventiva

Segundo a agência pró-governo Anadolu, os dois copresidentes do Partido Democrático do Povo (HDP), Selahattin Demirtas e Figen Yüksekdag, bem como dez outros deputados do partido, entre os quais o presidente do grupo parlamentar, Idris Baluken, foram detidos na noite de quinta para sexta-feira no âmbito de uma investigação "antiterrorista" ao Partido dos Trabalhistas do Curdistão (PKK, independentista curdo).

A Anadolu informa que um tribunal de Diyarbakir decidiu colocar os dois líderes do partido em prisão preventiva. Outros cinco membros do HDP estão também em prisão preventiva em Diyarbakir e em outras cidades. Três membros do HDP foram libertados e estão sob supervisão judicial.

A sede nacional do partido também foi alvo de uma rusga policial e o acesso às redes sociais foi cortado em boa parte do país logo após o início da operação policial.

As detenções motivaram manifestações nas principais cidades turcas. Foram detidas dezenas de pessoas em manifestações um pouco por toda a Turquia. Na capital Ancara, a polícia chegou utilizou canhões de água para dispersar os manifestantes.

Martin Schulz: “Detenção é um golpe no pluralismo e na democracia”

No seu twitter, a responsável pelas relações externas da União Europeia, Federica Mogherini, já manifestou a preocupação europeia com a detenção dos líderes e deputados do partido pró curdo HDP: "Extremamente inquietos com a detenção", escreveu.

No twitter da Comissão Europeia lê-se: "Esperamos quea Turquia salvaguarde a sua democracia parlamentar, o respeito pelos direitos humanos e o Estado de direito".

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, destacou, por sua vez, que o HDP é essencial para a vida democrática na Turquia e que a “detenção dos líderes do partido é um golpe no pluralismo e na democracia”.

Em comunicado, Schulz refere que “as autoridades turcas não estão só a afastar ainda mais a Turquia da democracia, como estão também a virar as costas aos valores, princípios, normas e regras que são a base das relações entre a Turquia e a UE”.

“Estes dias de tirania vão acabar”

Numa mensagem enviada pelo seu advogado, o copresidente do HDP Selahattin Demirtaş, que foi detido na quinta-feira, sublinha que “estamos a viver uma fase diferente do atual golpe civil liderado pelo governo e pelo palácio”.

“Os meus colegas e eu vamos continuar a enfrentar este golpe ilegal em todos os lugares e em todas as fases. Queremos que saibam que seremos fiéis à luta pela democracia, liberdade, e paz, travada com devoção pelo nosso povo”, assinala Demirtas.

O copresidente do HDP destaca ainda que “estes dias de tirania vão acabar mais cedo ou mais tarde, perante a nossa resistência”.

“Aqueles que pensam que podem quebrar a nossa vontade com conspirações baratas apenas confirmam a sua própria natureza lastimável. Sejam quais forem as circunstâncias, vamos continuar a nossa luta política e democrática. Vamos repetir os nossos apelos à paz”, acrescenta Selahattin Demirtaş.

Também a copresidente Figen Yüksekdag enviou uma nota através do seu representante legal: “Estamos orgulhosos do nosso povo. É uma honra representar a sua vontade. Nunca percam a vossa alegria e resiliência!”.

"A nossa luta democrática prevalecerá”

Numa declaração conjunta, os deputados que foram detidos lembram que o HDP obteve mais de seis milhões de votos nas eleições gerais de 7 de junho de 2015, passando o limite dos 10% e elegendo 80 deputados, e que a sua vitória democrática nas eleições acabou com a regra do partido único do AKP e impediu-o de elaborar sozinho uma nova constituição.

“O presidente Recep Tayyip Erdoğan, que pretende estabelecer um regime autocrático no país, e que não hesitou em recorrer a todo o tipo de ilegalidades para atingir os seus objetivos, não respeitou o resultado das eleições. Ele impediu a formação de qualquer governo de coligação e marcou eleições antecipadas. Entretanto, Erdoğan também acabou com o processo de paz de quase três anos (com o movimento curdo), na medida em que se apercebeu que o mesmo não servia os seus interesses e não contribuía para o alargamento da sua base eleitoral, e empurrou o país para um processo de conflito inflamado”, escrevem os deputados.

“Este ambiente de conflito levantou sérias preocupações entre os nossos cidadãos no que respeita à segurança. Entre este clima de choque e medo, as eleições antecipadas tiveram lugar sob condições que estiveram longe de ser justas e livres. O AKP ganhou as eleições de novembro e formou novamente um governo de um único partido”, acrescentam.

Segundo os deputados do AKP, “depois de ouvir os resultados das eleições de 7 de junho, Erdoğan encenou com grande pânico e pressa um golpe político no país substituindo o parlamento e o governo, tomando em grande extensão o controlo do poder judiciário e monopolizando os media. Ele chegou a anunciar ter apreendido o Estado, declarando não estar vinculado à Constituição, declarando a efetiva mudança do regime, e declarando que não vai reconhecer as decisões do Tribunal Constitucional”.

“Erdoğan está ciente de que a única maneira de efetivamente encobrir os seus crimes é monopolizando todos os poderes nas suas mãos”, assinalam, sublinhando que o HDP, atualmente com 59 mandatos, é o único obstáculo que impede Erdoğan de “alcançar o seu objetivo; que é, para estabelecer uma ditadura sob o disfarce de um presidencialismo”.

Os deputados garantem que continuarão a sua luta política “até que se estabeleça um regime democrático pluralista e se obtenha paz e serenidade” na Turquia, combatendo as políticas sectárias e racistas, a violência, a discriminação e o discurso de ódio promovidos pelo regime fascista de Erdogan.

Segundo apontam, o HDP bate-se pela igualdade e pelos direitos dos curdos, por direitos iguais de cidadania para a comunidade Alevi e pela liberdade de crença para todas as minorias religiosas, pela participação igualitária das mulheres na vida social, política e económica, pela proteção do meio ambiente, pela ecologia contra a destruição capitalista, e pela defesa dos direitos dos trabalhadores.

“Não temos dúvidas de que nos vamos livrar dessa ordem fascista que nos foi imposta e ao nosso país em nome de um sistema presidencialista. Mais cedo ou mais tarde, a nossa luta democrática prevalecerá”, vincam.

 

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