You are here

Principais empresas petrolíferas investem fortunas em “desinformação climática”

Empresas como a Shell adotam um discurso verde ao mesmo tempo que continuam a investir nos negócios mais poluentes. Esta estratégia permite-lhes iludir a opinião pública e garantir que continuam a ser subsidiadas pelos governos.
Foto de Mike Mozart, Flickr.

O estudo promovido pelo InfluenceMap, divulgado esta quinta-feira, revela um “desalinhamento significativo” entre as estratégias de comunicação e os planos de negócios de cinco das maiores empresas privadas de energia. Em vez de apostarem na descarbonização, empresas como a BP, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies assumem um discurso verde que lhes permite iludir a opinião pública e continuar a receber financiamentos públicos.

O órgão de fiscalização da indústria analisou o conteúdo de mais de 3.400 comunicações públicas, a partir de comunicados de imprensa, discursos e redes sociais destas empresas e dos seus administradores.

De acordo com o InfluenceMap, BP, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies estão a gastar centenas de milhões de dólares a cada ano numa “estratégia sistemática para se apresentarem como positivas e proativas na emergência das alterações climáticas”. Esta prática contrasta com os planos das empresas para investimento de capital nos seus negócios.

Em 3.421 comunicações públicas das cinco empresas em 2021, 60% continham pelo menos uma afirmação verde, como metas de redução de emissões, enquanto apenas 23% continham conteúdos a promover o petróleo e gás. Essas comunicações públicas contrastam com as despesas de capital planeadas para 2022, com apenas 12% dos novos investimentos destinados a atividades de baixo carbono.

“Pode ver essa diferença real entre uma elevada utilização de afirmações verdes em comunicações públicas versus essa estratégia em andamento para minar e bloquear a política climática”, afirmou Faye Holder, coautora do relatório e gestora do programa, em declarações à AFP.

Faye Holder assinalou que “com base nas comunicações públicas, e particularmente nas redes sociais, é natural ficar com a impressão de que essas empresas estão a agir para resolver as alterações climáticas, porque é isso que elas estão a dizer”.

A Shell, entre as cinco empresas em análise, é a que apresenta uma maior disparidade entre aquilo que anuncia e as práticas. O InfluenceMap refere que 70% das comunicações da Shell no ano passado continham pelo menos uma afirmação verde, em comparação com apenas 10% do investimento planeado em atividades de baixo carbono este ano.

Já a TotalEnergies menciona atividades verdes em 62% das suas comunicações, ao mesmo tempo que paneia alocar 25% das despesas de capital de 2022 em projetos de baixo carbono.

O estudo revela que, no global, as cinco empresas gastaram 750 milhões de dólares em mensagens relacionadas com o clima apenas no ano passado. O coautor do relatório, Ed Collins, explicou que isso representa um bom negócio para as grandes empresas, pois é significativamente mais barato do que descarbonizar os modelos de negócios e leva a que os governos continuem a subsidiar os seus produtos.

“Os custos parecem enormes, mas o investimento é minúsculo em comparação com a recompensa potencial em termos de condições políticas favoráveis ​​e subsídios de ativos de construção”, apontou.

Algumas das empresas analisadas planeiam, inclusive, aumentar a produção de petróleo e gás até 2026.

Gwendoline Delbos-Corfield, membro dos Verdes do Parlamento Europeu, disse que a análise de quinta-feira provou que as empresas estudadas estavam envolvidas em “desinformação climática”. “Isso mostra até onde as empresas de petróleo e gás estão dispostas a ir para enganar os cidadãos e proteger os seus próprios interesses.”

Termos relacionados Ambiente
(...)