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A primeira vez dos novos deputados: Jorge Falcato, o parlamento não estava preparado para ele

Enquanto os empreiteiros trabalham arduamente, os deputados esperam para poderem começar os trabalhos. Aproveitando o momento, falámos sobre os mais diversos temas, entre os quais os motivos que o levaram a envolver-se na vida política; quando começou a sua filiação ao Bloco de Esquerda; se alguma vez pensou chegar a deputado e qual foi a sua reação quando soube que foi eleito; como está a ser a adaptação à vida na Assembleia e que trabalho vai realizar; as suas expectativas. Pedi-lhe para definir a política portuguesa em apenas uma palavra (um ato bastante complicado).
Jorge Falcato começou na vida política devido ao ambiente familiar, isto antes do 25 de Abril. Nessa altura já tinha alguma consciência anti-fascista mas o momento de entrada na faculdade, mesmo antes já apresentava consciência da vida política do país, fez com que se envolvesse nos movimentos estudantis.
Sempre teve atividade política. Mas, desde os anos 80, a atividade política desenvolvida aconteceu sem ter estado envolvido em nenhum partido. O grande envolvimento na militância partidária aconteceu de 1974 até 1980, uma época de grande efervescência em que toda a gente sentia necessidade de participar.
O deputado é independente, não têm filiação com nenhum partido, mas sente o Bloco de Esquerda como fazendo parte da sua família política, desde sempre. Foi militante da UDP desde a sua fundação.
A 4 de outubro foi eleito como deputado mas admite nunca ter pensado chegar à Assembleia da República.

Jorge Falcato - Foto de Paulete Matos
Teve atividade em inúmeros movimentos cívicos como o movimento "Que se lixe a Troika!" e foi um dos fundadores dos "Deficientes indignados". O deputado defende que é importante que as pessoas se juntem e façam coisas mesmo que não estejam filiados em partidos políticos. Dá o exemplo do movimento dos "(d)Eficientes Indignados" para provar que quando se quer é possível fazer coisas, já que o movimento era formado por "meia dúzia de pessoas" que juntaram vontades e agora têm uma atividade importante que tem como objetivo colocar na agenda temas que são importantes para as pessoas com deficiência. O deputado conta que a ideia surgiu devido à vontade de um grupo de amigos.
Os novos medias (como as redes sociais) são bastante utilizados para juntar pessoas em torno de uma ideia comum.
Falcato acha que o momento em que vivemos é excelente para a difusão de ideias. As redes sociais podem ajudar bastante os movimentos sociais, logo estas devem ser utilizadas e aproveitadas. "Deve-se fazer coisas que podem ir desde o nível mais micro, dos bairros até à cidade ou ao país. Com as ferramentas que estão disponíveis não há desculpa para não se fazer nada. Se se fizer as coisas vão acabar por mudar", é o que defende.
E no parlamento vai poder apresentar as ideias que defende a todos os representantes da nação.
Jorge Falcato espera que a legislatura que agora começou consiga levar para a frente uma solução política que significa a melhoria da condição de vida das pessoas com ou sem deficiência e que se pare o assalto feito por "liberais extremistas"
A atividade parlamentar ainda é muito reduzida. Mas as obras no edifício já estão a ser efetuada e o que é necessário resolver para melhorar a mobilidade já foi identificado. Alguns dos acessos que precisam ser melhorados são: escadas onde deve ser colocada uma plataforma elevatória e casas-de-banho a serem adaptadas no piso do hemiciclo. Os serviços da assembleia comprometeram-se a realizar estas adaptações o mais rapidamente possível. Só que estas obras ainda vão demorar pois só na zona do hemiciclo são necessárias três plataformas elevatórias e outras duas nas ligações e corredores. Jorge Falcato espera que estas obras não demorem eternamente.
Ainda não sabe a que comissão de trabalho irá pertencer mas pretende trabalhar as questões relacionadas com a deficiência, só que esta área é bastante vasta pois existem temas que estão ligados à saúde; educação; transportes ou planeamento urbano. A questão é muito transversal. Mas, para além do trabalho, na área da deficiência pretende fazer outro tipo de coisas.
Questionado se achava que deveria haver uma comissão para a deficiência, defende que as abordagens sejam inclusivas e que cada tema seja tratado na respetiva comissão de trabalho. Na comissão dos transportes deve-se tratar da acessibilidade das pessoas com deficiência aos transportes; etc. Caso existisse uma comissão para a deficiência, no final podia-se correr o risco de não se conseguir resolver os assuntos necessários. Relembra que em todas as comissões devemos ter representantes que se lembrem que existem pessoas com deficiência que necessitam de abordagens especificas.

Jorge Falcato - Foto de Paulete Matos
Os deputados já tomaram posse e preparam-se para começar a trabalhar. Jorge Falcato espera que a legislatura que agora começou consiga levar para a frente uma solução política que se traduza na melhoria da condição de vida das pessoas com ou sem deficiência e que pare o assalto feito por "liberais extremistas" que acabaram com muitas das conquistas, que eram uma realidade, e que se reverta esta situação. Esta é a esperança que expressa para os próximos quatro anos.
Pensando na atualidade e questionado se seria capaz de resumir a política portuguesa em apenas uma palavra, o recém-eleito deputado acha que com a situação complexa em que a política portuguesa se encontra, é impossível resumi-la em apenas uma palavra.
Muitas palavras foram ditas e outras tantas ficaram por dizer mas "os atos valem mais do que mil palavras". Depois de um vasto trabalho realizado em inúmeros movimentos cívicos, chegou a hora de Jorge Falcato entrar no hemiciclo e ajudar nas principais decisões do país.
Entrevista realizada por Andreia Rodrigues, para esquerda.net
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