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Presidente sérvio cancela EuroPride

A edição deste ano do evento internacional LGBTI+ está marcada para setembro em Belgrado. Aleksandar Vucic cedeu aos protestos da extrema-direita, dos conservadores e da igreja ortodoxa.
Marcha LGBTI+ em Belgrado em 2021. Foto BelgradePride/Facebook

Em conferência de imprensa realizada este sábado o presidente sérvio Aleksandar Vucic anunciou que o evento anual pan-europeu da comunidade LGBTI+ já não terá lugar no seu país. "Juntamente com a maioria dos membros do Governo e com a primeira-ministra [...] a marcha dos orgulhos, ou lá como isso se chama, será adiada ou cancelada", afirmou Vucic, citado pela France Presse.

Questionado sobre se a decisão seria uma cedência aos opositores do evento, que tem sido alvo de protestos por parte de grupos da extrema-direita, conservadores e da igreja ortodoxa do país, o chefe de estado respondeu que o país está "sob pressão" e confrontado "com toda a espécie de problemas", admitindo que a sua decisão é "uma violação dos direitos das minorias" e o deixou contrariado. "Simplesmente, a dado momento não se pode lidar com tudo", acrescentou, em referência à atual crise no Kosovo, além da crise económica e a guerra, a juntar às ameaças de violência de que o evento era alvo.

Organização não desiste do evento

Em resposta, a organização internacional do evento afirma que o Presidente não tem poderes para o cancelar, pois trata-se de um direito consagrado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos. A presidente da European Pride Organizers Association, Kristine Garina, deixou o apelo às autoridades sérvias para que sejam firmes contra os que querem atacar o evento e lembrou o compromisso dado pela primeira-ministra Ana Brnabic no processo de candidatura, com garantias de total apoio por parte do governo.

Por seu lado, Goram Miletic, da organização nacional do EuroPride, diz que a polícia até pode proibir a realização da marcha, sujeitando-se à contestação na justiça por ser inconstitucional, mas não pode impedir a realização de eventos em espaços fechados. Desde 2014, Belgrado acolhe anualmente uma marcha LGBT realizada sob fortes medidas de segurança, depois do violento ataque contra a edição de 2010 que fez mais de 100 feridos. Foi justamente esse exemplo de resistência que contribuiu para dar a vitória a Belgrado na seleção feita em 2019, afastando as candidaturas de Portugal, Espanha e Irlanda.

Relator do Parlamento Europeu sobre a adesão sérvia disse que cancelamento teria consequências

Esta cedência aos protestos não constituiu uma surpresa para o relator do Parlamento Europeu para a Sérvia, país que prepara a sua adesão à Uniao Europeia. Na quarta-feira, Vladimir Bilčik afirmou que um eventual cancelamento teria consequências no seu relatório aos eurodeputados. "Este ano, será um Pride especial, uma vez que terá uma forte dimensão europeia. Portanto,  considero perigosas todas aquelas vozes [que querem cancelar o evento]. Obviamente não querem ver a Sérvia a progredir no seu caminho na UE, não querem ver o futuro da Sérvia na UE", disse à Radio Free Europe.

Em declarações à Prva TV, o presidente da Cãmara de Belgrado tinha também afirmado a sua oposição ao EuroPride, "mesmo que fosse organizado por heterossexuais". Aleksandar Šapić acrescentou que o problema não era a expressão da orientação sexual mas "o aspeto daquilo", que no seu entender "vai contra alguns dos nossos valores tradicionais".

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