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Prémio Sakharov: premiar a oposição da Venezuela é “uma situação vergonhosa”

O grupo parlamentar europeu da Esquerda Unitária boicotou a entrega do Prémio Sakharov à oposição venezuelana. “O Parlamento Europeu, ao escolher um dos lados, colocou-se numa situação vergonhosa”, afirmou a eurodeputada do Bloco, Marisa Matias, que também não esteve presente.
Esta quarta-feira, em representação da “oposição democrática da Venezuela”, Júlio Borges e António Ledezma receberam o Prémio Sakharov. Foto de Ian Langsdon, EPA/ LUSA.
Esta quarta-feira, em representação da “oposição democrática da Venezuela”, Júlio Borges e António Ledezma receberam o Prémio Sakharov. Foto de Ian Langsdon, EPA/ LUSA.

Esta quarta-feira, em representação da “oposição democrática da Venezuela”, Júlio Borges e António Ledezma receberam o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu. Na cerimónia que decorreu em Estrasburgo, os dois agradeceram emocionados a distinção, que consideraram ser um importante contributo para o “resgate da democracia” no seu país, e pediram à Europa para manter o seu compromisso com os princípios do Estado de direito, da democracia e dos direitos humanos.

Os dois líderes trouxeram também uma mensagem concertada sobre a necessidade de unir a oposição ao chavismo: “Só unidos vamos conseguir vencer o regime que existe na Venezuela”, afirmou Borges, para quem “a única coisa que [Maduro] quer é a força bruta”. Pelo contrário, garantiu António Ledezma, a oposição quer “resolver as nossas diferenças pelo caminho cívico, democrático e legal".

Porém, no passado, António Ledezma esteve ligado a vários episódios de violação dos Direitos Humanos na Venuzuela e participação em tentativas de golpes de estado, tendo apoiado a repressão policial aos protestos populares contra o aumento do preço dos bens alimentares, em 1989, que dizimou milhares de pessoas; em 1992, altura em que ocupou o cargo de Governador Federal do distrito de Caracas, justificou a repressão e o assassínio de centenas de prisioneiros em Retén de Catia, no contexto do seu envolvimento no então golpe de estado falhado de Chavez.

A polémica com o Prémio Sakharov de 2017 não tardou e a escolha do Parlamento Europeu mereceu duras críticas da esquerda parlamentar europeia que, logo em Outubro, quando foi anunciado o vencedor, determinou que iria boicotar a cerimónia de entrega do prémio à oposição venezuelana, a qual não considera de todo “democrática”.

No comunicado tornado público na altura, o grupo parlamentar europeu da Esquerda Unitária/ Esquerda Nórdica Verde (GUE-NGL) expressou o seu descontentamento com a tomada de posição política e parcial do Parlamento Europeu (PE), considerando que “tal mina qualquer hipótese de prevalência do diálogo e também da paz, em qualquer democracia” e que “os Direitos Humanos são um assunto muito sério e não deveriam ser instrumentalizados, pelo PE, com propósitos políticos”.

No comunicado, o GUE-NGL lembrou também que, no vasto grupo da oposição na Venezuela, encontram-se representantes da extrema-direita venezuelana, que “não têm qualquer interesse em restaurar a democracia na Republica Boliviana”, antes ambicionam o regresso dos “episódios mais negros da história da América-Latina”.

Além disso, considera o GUE-NGL, “uma tão politizada nomeação” veio impedir que outras “corajosas lutas” pudessem ter visibilidade, como a da jornalista sueca-eritreia Dawit Isaak, que “é um símbolo da luta contra as mais graves violações da liberdade de expressão”, ou a de Lolita Chavez, “uma icónica activista pelos direitos ambientais, nomeada pela luta que tem travado em várias partes do mundo, espacialmente na América-Latina”.

Marisa Matias: “O Parlamento Europeu colocou-se numa situação vergonhosa”

Numa entrevista à Rádio Renascença, esta quarta-feira, a eurodeputada do Bloco de Esquerda, que integra o GUE-NGL, explicou porque também boicotou a cerimónia do Prémio Sakharov, começando por lembrar que entre os galardoados estão “organizações paramilitares colombianas, responsáveis por diversos atos de instigação à violência”.

Marisa Matias declarou a sua “total oposição ao regime venezuelano e a regimes opressores ditos de esquerda ou direita”, considerando que “o Parlamento Europeu, ao escolher um dos lados e assumindo uma posição política, colocou-se numa situação vergonhosa”.

Condenando o que afirma ser “um gesto de conivência com quem instiga à violência”, a eurodeputada defendeu que “se era para atribuir um prémio e destacar o caso da Venezuela, este deveria ser entregue ao povo venezuelano”.

Vários eurodeputados e eurodeputadas, de vários países, incluindo membros dos grupos parlamentares socialistas e dos verdes, também não assistiram à cerimónia. Dos eurodeputados portugueses, apenas Bloco e PCP boicotaram a cerimónia.  

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