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Preços das casas sobem 38% desde 2019

Ao mesmo tempo que as famílias portuguesas perdem poder de compra, o preço da habitação agrava-se exponencialmente. Em Lisboa, a taxa de esforço face ao rendimento disponível já ascende a 67% e comprar casa é ainda mais caro do que arrendar.
Foto de Paulete Matos.

O estudo “Acessibilidade à Habitação em Portugal”, realizado pela consultora Century 21 Portugal, e citado pelo Expresso e DN/Dinheiro Vivo, traça um retrato dramático no que respeita aos custos da habitação. Em Lisboa, um empréstimo para a compra de casa representa uma taxa de esforço de 67%, e no Porto de 50%. No caso de Faro, a percentagem é de 39%.

“Nos últimos três anos, a taxa de esforço associada à compra de habitação agravou-se em todas as capitais de distrito, mas apenas em Faro e no Porto esse aumento significou perda de acessibilidade à habitação, através de aquisição”, lê-se no documento.

Inclusive nas cidades onde a compra continuou a exigir uma taxa de esforço abaixo do aconselhado (30% ou inferior), verificou-se um agravamento: em 2019, existiam 15 capitais de distrito onde comprar uma casa de 90 m2 representava 20% ou menos do orçamento; hoje, são apenas seis as capitais nessas condições.

Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), 43% da oferta apresenta preços acima dos 330 mil euros, o que contrasta com a percentagem bastante mais reduzida de famílias (14%) que consegue ainda “responder a esse nível aquisitivo”. O administrador da Century 21 Portugal aponta que na AML 55% das famílias inserem-se na classe média, ao passo que apenas 33% da oferta se adequa ao nível de rendimento dessa classe.

“Já na Área Metropolitana do Porto (AMP), a classe média agrega 61% das famílias, que dispõem apenas de 41% da oferta de imóveis nesse nível de rendimento, novamente, com uma grande parte dos imóveis para venda (28%) a direcionar-se para o público com maior capacidade financeira, mas que representa a menor fatia dos agregados familiares (11%)”, acrescenta.

Nas capitais de distrito, o valor de um apartamento de 90m2 oscila entre os 375.480 euros em Lisboa e os 59.040 na Guarda. Já a média nacional é de 152.159 euros. Aveiro, Braga e Setúbal registaram as maiores valorizações das casas. Guarda, Portalegre e Bragança foram as capitais com menor agravamento. De qualquer forma, “em termos absolutos, comprar atualmente 90 m2 exige pelo menos mais 25.000 euros do que há três anos, na grande maioria das cidades”.

De acordo com o estudo da Century 21, “o problema passa pela perda de poder de compra da população, com os preços das casas a atingirem uma subida média de 38% [entre 2019 e 2022], a nível nacional, enquanto o aumento do rendimento disponível das famílias, no mesmo intervalo de tempo, se fixou apenas nos 9%, na média das capitais de distrito".

Acresce que "o agravamento da acessibilidade dos portugueses à habitação é o reflexo da inadequação da oferta existente de imóveis, ajustada ao nível de rendimento das famílias nacionais".

Dados do INE comprovam agravamento dos preços

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados pelo Público, comprovam as subidas de preços, que ultrapassam os 20% nas grandes cidades. O jornal diário enfatiza que, nos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes, que concentram 44% da população portuguesa, os preços das casas continuam a crescer a ritmo acelerado. No resto do país, ainda que as subidas tenham registado um abrandamento, mantêm-se em níveis elevados e muito superiores ao que é registado a nível europeu. No terceiro trimestre de 2022, o preço mediano das casas vendidas em Portugal era de 1.492 euros por metro quadrado, o que corresponde a subida de 13,5% face ao período homólogo.

Em Lisboa, identificado como o município mais caro para adquirir casa, o preço mediano dos alojamentos familiares rondou os 3.882 euros por metro quadrado, o equivalente a 2,6 vezes mais do que o preço mediano a nível nacional. No Porto, os preços são quase 75% superiores à mediana nacional, ascendendo a 2.603 euros por metro quadrado.

O INE faz também referência ao facto de existir uma discrepância notória entre o poder de compra de cidadãos nacionais e o de estrangeiros, com estes últimos a pagar mais 59% pelas casas.

Em Lisboa comprar é ainda mais caro do que arrendar

O estudo da Century 21 revela que, em Lisboa, “comprar 90 m2 envolve um encargo mensal maior (14%) do que arrendar uma casa com a mesma área". Já no Porto a vantagem da compra é "bastante reduzida (-6%)".

"Em todas as outras cidades comprar envolve uma mensalidade inferior à renda, e na maioria delas essa diferença atinge -20%", lê-se no documento. Portalegre e Bragança são as cidades onde a compra "apresenta vantagem mais robusta sobre o arrendamento, envolvendo uma prestação cerca de 50% abaixo da renda".

No entanto, "embora a compra continue a ser a opção mais vantajosa - com exceção de Lisboa - há uma evidente perda de competitividade desta opção face ao arrendamento em todas as cidades".

A Century 21 revela que, em 2019, a mensalidade da compra mantinha-se 40% a 60% abaixo de uma renda em todas as cidades, com exceção de Lisboa, Porto e Faro). No ano passado, a diferença diminuiu na maioria das cidades, com a compra a situar-se agora entre 20% a 30% abaixo da renda.

Renegociação de empréstimos dispara

Noutro artigo publicado esta sexta-feira, o Público dá conta de que a renegociação de empréstimos à habitação disparou desde outubro, com as taxas de juro médias dos novos empréstimos a mais do que triplicarem em 2022, para 3,24% no final do ano.

Em dezembro de 2022, e conforme revelou o Banco de Portugal (BdP) na quinta-feira, a percentagem relativa a reestruturações de créditos ascendeu a 22% das novas operações de crédito. Em dezembro de 2021 a percentagem era de 6%.

O conceito "novos empréstimos à habitação" abrange os créditos concedidos pela primeira vez em cada mês, mas também os já existentes que foram sujeitos a renegociação regular, que não resultaram de situações de incumprimento, ou de prestações em atraso.

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