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As políticas de saúde na “vanguarda” do combate às alterações climáticas

Se os países tomassem medidas adequadas ao cumprimento do Acordo de Paris, seria possível salvar milhões de pessoas anualmente, conclui um relatório publicado na revista Lancet.
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Alteração do número de dias de exposição da população a riscos muito elevados ou extremos de incêndio rural - 2016/19 - 2001/04 (Watts et al. 2020)

O Acordo de Paris foi celebrado há 5 anos, com o objetivo de articular esforços a nível internacional para combater as alterações climáticas, estabelecendo que até ao final do século a temperatura média da terra não poderia aumentar mais do que 1,5ºC a 2ºC. Até ao momento os resultados são péssimos, com os últimos 5 anos a atingirem as temperaturas mais altas desde que há registo. À medida que o processo de alterações climáticas avança, os seus impactos são sentidos de forma diferenciada em várias regiões do globo, prejudicando mais as populações que menos contribuíram para a emissão de gases com efeitos de estufa.

Segundo um relatório recente do projeto “The Lancet Countdown on Health and Climate Change”, que procura ligar o universo da saúde pública à resposta às alterações climáticas, o aquecimento global afeta a saúde humana direta e indiretamente e se os vários países tomassem medidas adequadas ao cumprimento do Acordo de Paris, seria possível salvar milhões de pessoas anualmente.

O crescimento das emissões tem levado a um aumento da degradação da qualidade do ar, dos alimentos e da habitação, prejudicando de forma mais intensa a saúde das populações mais desfavorecidas. Para agravar a situação, as alterações climáticas estão a gerar condições mais propícias para a transmissão de doenças infeciosas em todo o mundo. Os investigadores que participaram neste estudo apontam que, só em 2019, as populações mais vulneráveis foram expostas a 475 milhões de ondas de calor, possibilitando maior incidência de doenças e maior mortalidade. A título de exemplo, na Índia e na Indonésia, as perdas de capacidade de trabalho consequentes da mortalidade e do sofrimento gerado por ondas de calor, representam 4 a 6% do PIB anual destes países. De 2001 para 2019, cerca de 60% dos países viram aumentar o número de dias de risco muito alto ou extremo de incêndios rurais, encontrando-se os casos mais graves no Líbano, Quénia e África do Sul. Em 2018, a superfície do globo que foi afetada por um número excessivo de meses em seca mais do que duplicou os valores históricos de referência.

A pandemia Covid-19 adiou a conferência das Nações Unidas (COP26) que estava prevista para 2020, esperando-se que a mesma venha a decorrer em 2021, de 1 a 12 de novembro em Glasgow. Neste momento pretende-se estabelecer compromissos nacionais que possibilitem o cumprimento das metas do Acordo de Paris, pois as metas atuais ultrapassam largamente os 2º C.

Segundo Ian Hamilton, diretor executivo deste projeto citado pela agência Lusa, os benefícios para a saúde de políticas climáticas ambiciosas têm um impacto positivo imediato, representando uma oportunidade para “colocar a saúde na vanguarda das políticas relativas às alterações climáticas” e salvar mais vidas.

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