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Poesia em Médio Plano: um casal a filmar poesia entre quatro paredes

Francisca lê, João filma. Poesia em Médio Plano é um projeto de leituras de poesia já disponível no instagram e no facebook. 
Poesia em Médio Plano. Fotografia de João Coles
Poesia em Médio Plano. Fotografia de João Coles

Francisca Camelo e João Coles são um casal fechado em casa que decidiu gravar leituras de poesia em circunstância de confinamento para partilhar com o exterior. Os vídeos do recém-criado projeto - Poesia em Médio Plano - vão ficando disponíveis no instagram e no facebook

As condições são três: a preto e branco, entre quatro paredes (pelo menos por enquanto não há outra opção), e a médio plano - o espaço da casa não permite muito mais. Francisca lê, João realiza - assim começa mas em breve as leituras serão feitas por ambos.  E a preferência é por autoras mulheres e poesia feminista, embora possa haver exceções. 

As primeiras leituras foram de Bénédicte Houart e de Maria Teresa Horta, mas percorrerão Audre Lorde, Angélica Freitas, de Brecht a Pasolini, passando por Bukowski ou Roger Wolfe. A selecção dos poemas é feita pelos dois e é variada, não há uma prevalência por um tipo de leituras, é uma questão de gosto.

Francisca Camelo nasceu em 1990 e é uma novíssima poeta da cidade do Porto, co-fundadora da Revista A Bacana, com já três livros publicados: Cassiopeia (Apuro Edições, 2018), Photoautomat (Enfermaria 6, 2019) e O Quarto Rosa (Editora Exclamação, 2019). João Coles, nascido em Lisboa no mesmo ano mas residente no Porto, publicou este ano o seu primeiro livro de poesia intitulado Merda Para as Musas, pela Fresca Editores, e conta para breve com a publicação de uma tradução de Pier Paolo Pasolini. 

Francisca Camelo. Fotografia de João Coles.

Questionados pelo Esquerda sobre a ideia de realizar estes vídeos, respondem-nos contando um conto, que aceitamos e citamos na íntegra:

«A bem dizer, não foi algo ponderado. A ideia nasceu no dia  21 de Março, dia mundial da Poesia. A Francisca tinha recebido um desafio da livraria Menina e Moça do Porto para gravar uma leitura de um poema à sua escolha e pediu ao João que a filmasse com o telemóvel, coisa que ele recusou, “Se é para fazer isto, vamos fazê-lo como deve ser” e agarrou no seu tripé e na sua câmara. Com a experiência profissional em fotografia que o João tem, a somar aos 12 anos de teatro amador da Francisca, bem como o seu hábito dee organizar leituras de poesia, de forma espontânea num só dia 10 poemas tinham sido gravados. Aperceberam-se que tinham em mãos material para algo que pudesse sair de casa deles para as dos outros, levando cultura, em forma de poesia e fotografia, em tempos de isolamento e de profunda carência de meios que estimulem a capacidade de interpretação e reflexão  – é este o propósito da Arte: ser um meio fecundo de evasão e simultaneamente de acção, individual ou civil. Enfim, uma provocação, uma flecha afiada arremessada de uma janela para outras tantas e que incite uma reacção. Para terminar, a Francisca gostaria de citar Audre Lorde, que fala da poesia como meio de transformação dos sonhos em mudanças concretas: “[...] a poesia não é um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência.” O João, noutro tom, prefere citar Lawrence Ferlinghetti: “Poesia, uma mulher nua, um homem nu, e a distância entre eles.” e Roger Wolfe: “A poesia é um revólver apontado ao coração."»

Se a poesia é afinal necessária, e se a arte pode ser esse “meio fecundo de evasão e simultaneamente de ação”, aproveitemos então a entrega ao domicílio para acolher novos mundos cá dentro e para construir outros tantos lá fora. 

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