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Pinhal de Leiria: população pede intervenção urgente do Governo

A Comissão Popular "O Pinhal é Nosso" dirigiu uma carta ao Ministro da Agricultura, exigindo a concretização do plano de ação de emergência já existente, para evitar o arrastamento das cinzas dos incêndios de outubro, a erosão do solo e a contaminação de recursos hídricos.
Pinhal de Leiria: população pede intervenção urgente do Governo

"Não podemos aceitar que, dois meses após o incêndio, ainda não tenham ocorrido quaisquer medidas de proteção do solo e das águas. Apelamos ao senhor ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, que tomem as medidas necessárias para reforçar os meios de intervenção na Mata Nacional de Leiria", disse à Lusa o porta-voz da Comissão Popular "O Pinhal é Nosso", Ricardo Vicente.

Segundo Ricardo Vicente, na sequência da reunião que esta comissão realizou com o Secretário de Estado das Florestas, com o presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e com a presidente da Câmara da Marinha Grande, "foi decidido avançar com um plano de ação de emergência na zona ardida do Pinhal de Leiria". No entanto, esse plano nunca chegou a ser concretizado.

O porta-voz adiantou que a comissão popular realizou também um dossier técnico, que foi já encaminhado para o ICNF. "Disponibilizámo-nos desde logo a mobilizar a população para participar voluntariamente em ações de urgência para estabilização dos solos e fixação das cinzas", disse Ricardo Vicente, alertando ainda que este é um trabalho que "deve ser feito antes de começarem as chuvas". "Temos aqui uma pequena janela de oportunidade. Já se deveria ter começado esta fase. Há um elevado risco de erosão e arrastamento das cinzas para as linhas de água", reforçou.

Na terça-feira, a Comissão Popular reuniu com representantes do ICNF, que admitiu a falta de recursos técnicos e operacionais. "Percebemos que o ICNF não tem meios e nós precisamos de pessoas especializadas para a intervenção. Não podemos fazê-lo só com voluntários", afirmou Ricardo Vicente.

A Comissão Popular "O Pinhal é Nosso" também enviou uma carta à presidente do município da Marinha Grande, dando conta do mesmo dossier técnico enviado ao Ministro, assim como das “medidas de estabilização de emergência delineadas pelo ICNF para concretizar no Ribeiro de São Pedro de Moel”.

Publicamos aqui a carta enviada pela Comissão Popular "O Pinhal é Nosso":

Exmo. Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos,

A Comissão Popular – O Pinhal é Nosso, fundada após o grande incêndio que destruiu a Mata Nacional de Leiria, lançou no dia 27 de Novembro um Dossier Técnico que visa contribuir para a reflexão e ação imediata sobre a área ardida na maior mata nacional do país. Este documento foi encaminhado ao ICNF e à Câmara Municipal da Marinha Grande, juntamente com a nossa demonstração de solidariedade e disponibilidade para participar voluntariamente em ações de urgência para estabilização dos solos e fixação de cinzas, visando a proteção de recursos hídricos e restantes recursos naturais.

Na sequência deste nosso trabalho, o ICNF produziu um documento que responde a uma das medidas necessárias e por nós também identificada, com intervenção sobre o Ribeiro de São Pedro de Moel. Segundo os representantes do ICNF com que reunimos na passada 3ª feira, 12 de Dezembro, na Marinha Grande, esta área reúne condições para acolher o trabalho voluntário disponível no imediato. Durante esta reunião foi visível a falta de meios humanos e materiais que afeta esta tão importante instituição.

A Câmara Municipal da Marinha Grande ainda não realizou qualquer diligência no sentido de agilizar os necessários trabalhos de campo, mobilizando recursos, apesar de se ter comprometido para tal numa reunião com a Comissão Popular, o ICNF e o Secretário de Estado da Floresta, Miguel Freitas.

A nossa preocupação é a reconstrução sustentável da Mata Nacional de Leiria e a proteção dos recursos naturais, por isso lutamos e estamos disponíveis a colaborar em todas as ações que rumem nesse sentido, respeitando a natureza pública deste recurso, ao nível da sua propriedade e gestão. A mata é muito mais do que o Ribeiro de São Pedro de Moel, são cerca de 11 mil hectares, dos quais 9 mil arderam e cerca de 20% correm graves riscos de erosão e arrastamento de cinzas que contaminarão os recursos hídricos locais.

Sabemos que o ICNF não tem recursos locais para responder a tão grande calamidade e sabemos também que não está ao alcance da nossa Comissão Popular mobilizar os recursos técnicos e operacionais necessários para o fazer.

Por isso apelamos a que o Sr. Ministro Luís Capoulas Santos e restantes membros do Governo tomem as medidas necessárias para reforçar os meios de intervenção sobre a Mata Nacional de Leiria, pois se tal não acontecer, o arrastamento das cinzas, a erosão do solo e a contaminação de recursos hídricos será uma pesada fatura que toda a população desta região pagará durante o inverno.

Senhor ministro, está nas suas mãos evitar esta calamidade e dar o primeiro passo para a reconstrução da mais prestigiada mata nacional, a qual o seu ministério não soube cuidar durante as últimas décadas. Não podemos aceitar que dois meses após o incêndio, ainda não tenham ocorrido quaisquer medidas de proteção do solo e das águas.

Até este momento, a nossa comissão recolheu mais de 150 inscrições de voluntários para participar nos trabalhos pós-fogo, a programar em articulação com o ICNF e a Câmara Municipal da Marinha Grande. Propomos a estas duas organizações que se criem condições para a aplicação deste trabalho voluntário durante os fins de semana de Janeiro, no entanto estas entidades não devem aguardar pelo trabalho voluntário para iniciar os trabalhos em falta.

Com os melhores cumprimentos

P’la Comissão Popular “O Pinhal é Nosso”

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