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Peru: Castillo sobrevive ao voto de destituição

É a crónica de uma tentativa de golpe anunciada. Desde que Pedro Castillo tomou posse como presidente do Peru, há quatro meses, que a extrema-direita começou a procurar juntar votos para a sua destituição. Apoiada por um procedimento constitucional nunca regulamentado que permite que o Parlamento abra um processo sumário de destituição por “incapacidade moral permanente” sem haver sequer qualquer decisão judicial, os setores mais à direita tentaram obter os 52 votos necessários. Falharam por pouco.
Esta terça-feira, apenas seis votos impediram que o desfecho fosse diferente. Em 130 votos, a extrema-direita obteve 46. Um revés desta área política que contava à partida com 43 votos e esperava a vitória da iniciativa, mas que apenas conseguiu convencer mais alguns parlamentares de direita que votaram contra a decisão das suas bancadas.
Para além dos 76 votos contra, houve quatro abstenções. Em desespero de causa, a extrema-direita ainda teve esperança que as divisões no interior do Peru Livre, o partido pelo qual Castillo foi eleito mas que dele se afastou, lhes valessem mais alguns votos, mas os 37 deputados do PL votaram em bloco contra. Apesar disso, Vladimir Cerrón, secretário-geral desta força política, explicita que tem “profundas divergências” com um Governo que terá, afirma, moderado demasiado as suas posições quando entrou em funções.
Ao clima de cisão à esquerda, juntam-se vários erros da gestão de Castillo e um conjunto de casos não esclarecidos que diminuem a sua capacidade de implementar a agenda reformista de que se tem reclamado. Nas acusações com que procuraram justificar a destituição, os deputados da extrema-direita misturavam várias situações. Há casos que foram denunciados, alguns estão em investigação mas sem conclusão, como uma alegada tentativa de um ministro pressionar para a promoção de cinco militares, que aliás nunca chegou a acontecer, ou a ação de um ex-secretário que teria intervindo a favor de algumas empresas face à autoridade tributária. E até acusações sobre financiamento ilegal da sua campanha mas que não o envolvem. Há outras acusações que são provenientes apenas da cartilha ideológica da extrema-direita: o seu suposto comunismo, o estabelecimento de relações diplomáticas com a Venezuela ou a habitual tentativa de associá-lo ao terrorismo.
Fora do texto que justificava o pedido de cassação de mandato, por ter sucedido depois, mas bastante presente no debate parlamentar esteve o caso das reuniões que Castillo teve fora da sua agenda oficial. A mais polémica com uma empresária que ganhou um concurso público, o que permitia toda a espécie de insinuações.
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