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Peru: Castillo nomeia terceiro governo em seis meses

A primeira-ministra demitiu-se na sequência da falta de apoio do presidente ao seu ministro do Interior que queria mudar o chefe das polícias depois de notícias sobre corrupção em nomeações. O novo titular do cargo diz-se social-liberal mas foi eleito para o congresso por um partido ultra-conservador com o qual depois cortou laços.
Novo governo do Peru. Foto da Presidência.
Novo governo do Peru. Foto da Presidência.

Pedro Castillo empossou o seu terceiro governo em seis meses de presidência. A primeira-ministra peruana, Mirtha Vásquez, tinha-se demitido esta segunda-feira com Castillo a reagir na sua conta de Twitter escrevendo: “Como sempre anunciei nas minhas intervenções, o executivo está em constante avaliação. Por esse motivo, decidi renová-lo e constituir uma nova equipa”.

Vásquez, uma advogada especialista na defesa dos direitos humanos, tinha substituído Guido Bellido, membro do partido que elegeu o atual presidente, o Peru Livre, mas que depois se afastou deste.

A nova crise surgiu na sequência da saída do ministro do Interior, Avelino Guillén, na passada sexta-feira. Este demitiu-se porque pretendera reformar o chefe da polícia, Javier Gallardo, e não obteve apoio de Castillo para isso. Em causa estavam as notícias sobre um sistema de corrupção montado no interior das forças policiais no que diz respeito às nomeações e promoções. O portal informativo IDL-Reporteros tinha revelado que houve subornos que chegavam aos 25.000 dólares. O responsável máximo por essas decisões tinha sido Gallardo. Para o agora ex-ministro Guillén, as mudanças em curso nas chefias policiais também enfraqueceriam as unidades de combate ao crime organizado e à corrupção política de acordo com. Guillén é uma figura popular que chefiou a equipa da acusação que levou à condenalão do ex-presidente liberal Alberto Fujimori a 25 anos de prisão por massacres como os de Barrios Altos e La Cantuta. Criticado pela forma como conduziu todo o processo, Castillo acabou mesmo por demitir o chefe das polícias, mas só depois da saída do ministro do Interior.

A seguir foi a vez de sair Vásquez, que também no Twitter justificou que a crise no ministério do Interior “não é um assunto qualquer nem conjuntural, é a expressão de um problema estrutural de corrupção em diversas instâncias do Estado” e que se demitira “face à impossibilidade de alcançar consensos em benefício do país”.

Na sua carta de demissão, a ex-primeira-ministra esclarece que estaria em causa a possibilidade de concretizar “mudanças imprescindíveis” numa altura em que “é inadmissível dúvidas ou indecisões”, expressão que foi lida como uma crítica ao presidente ao qual muitos setores apontam demoras em avançar com medidas estruturais. Sobre o decorrer do seu mandato salientou que, em menos de quatro meses, enfrentou crises “com clara intenção golpista” por parte da direita e extrema-direita e devido “lamentavelmente a possíveis atos de corrupção ou irregularidades cometidos por funcionários de alto nível desta administração”.

Para o seu lugar entra o advogado Hector Valer. Este apresenta-se na publicação que fez quando foi eleito para o Congresso como “próspero empresário ganadeiro” apesar das dívidas milionárias ao fisco. Define-se politicamente como social-liberal mas tem uma carreira política “diversificada”, tendo sido já passado por sete partidos ou grupos parlamentares da esquerda à direita ultra-conservadora. É há algum tempo promotor de um Partido Força Liberal que nunca foi a votos mas no Congresso foi eleito pelo partido de extrema-direita Renovação Popular, presidido pelo empresário da Opus Dei Rafael López Aliaga que se chegou a proclamar o “Bolsonaro peruano” tendo-se mais tarde arrependido destas declarações. O terceiro classificado nas últimas presidenciais defendeu políticas económicas neoliberais durante essa campanha.

Valer fez campanha contra o “idealismo marxista leninista” e a “ideologia de género” mas depois rompeu com o partido que o elegeu e passou para o campo que apoia o atual presidente. Nas suas primeiras declarações depois de ser conhecido que ficaria no cargo, reiterou apoio à decisão de Castillo de mudar a constituição mas avisou que o processo irá levar cerca de quatro anos de forma a reunir apoios de vários lados do espetro político. Aliás, durante a campanha que o elegeu tinha-se manifestado contra qualquer alteração constitucional considerando que estas produzem “incerteza” legislativa e afasta os “investidores”.

Para a pasta das Finanças entra o economista Oscar Graham, com carreira no Banco Central e nos ministérios da Economia e Finanças, tendo já sido brevemente vice-ministro das Pequenas e Médias Empresas e da Indústria de um governo de direita, em 2019, sob a presidência de Martín Vizcarra. Os especialistas ouvidos pelo Bloomberg salientam que é um nome que “tranquiliza os investidores” e dá garantias que a política macro-económica do país não mudará.

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