Patrão do grupo mercenário Wagner admite ingerência nas eleições norte-americanas

10 de November 2022 - 9:54

Depois de admitir ter criado o grupo mercenário, o aliado de Putin Prigozhin gaba-se agora de outra das coisas de que tem vindo a ser acusado. Em 2016, as “fábricas de trolls” dispararam todo o seu arsenal em apoio de Trump.

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O "cozinheiro de Putin" com o presidente russo. Foto de Trong Khiem Nguyen/Flickr.
O "cozinheiro de Putin" com o presidente russo. Foto de Trong Khiem Nguyen/Flickr.

Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo russo de mercenários Wagner, ativo em vários cenários de guerra em apoio aos interesses do Kremlin, admitiu esta segunda-feira “ingerências” em anteriores eleições norte-americanas.

O patrão do grupo Concord é considerado como sendo muito próximo do presidente russo. Tornou-se mesmo conhecido internacionalmente como o “cozinheiro de Putin” por ter a seu cargo o catering do Kremlin e por servir pessoalmente, em várias ocasiões mediáticas, o chefe de Estado do seu país. Vindo de um passado obscuro, passou a ser dono de restaurantes de luxo e ganhou vários contratos de fornecimento de refeições com o Estado, nomeadamente escolares e militares.

Apesar de várias vezes referido em notícias da imprensa ocidental como sendo o homem forte por detrás do Wagner, acusado por várias organizações dos direitos humanos de atrocidades em vários cenários de guerra, Prigozhin mantinha uma presença discreta e não o assumia. Em setembro passado escolheu a rede social Vk do grupo da sua empresa de catering para assumir a criação do grupo paramilitar, gabando-se da sua intervenção na Ucrânia.

Esta segunda-feira escolheu o mesmo meio, meticulosamente nas vésperas das eleições intercalares dos EUA, para assumir outra das acusações que lhe têm sido feitas: a de interferir nas eleições norte-americanas. Aí escreve: “fizemo-lo e continuaremos a fazê-lo. Com precaução, precisão, de forma cirúrgica, de uma maneira que nos é própria”.

O conteúdo da afirmação não será surpreendente. Prigozhin também há muito vinha sendo citado como o financiador e o patrão da “fábrica de trolls” russa, os perfis falsos em série contratados para intervir nas presidenciais dos EUA de 2016 em apoio a Donald Trump através de ataques aos adversários e de informações falsas. Isso fê-lo figurar na lista de sanções dos EUA.

A novidade está na sua estratégia de afirmação como figura pública. Para além destes “reconhecimentos” publicados nas redes sociais internas da sua empresa mas pensados para terem efeitos bem para além dela, tem surgido desde o início da invasão da Ucrânia várias vezes no espaço público do seu país em apoio à ofensiva. E depois de ter sido filmado a recrutar prisioneiros russos para participarem na invasão da Ucrânia, oferecendo-lhes amnistias e recompensas materiais, também inaugurou na semana passada um edifício para ser a sede do Wagner, um grupo que se mantinha até agora numa situação de semi-clandestinidade.