Mais de dois meses após as eleições que voltaram a dar maioria aos partidos pró-independência, o parlamento da Catalunha continua sem poder eleger o presidente do governo. O candidato do bloco maioritário continua a ser Carles Puigdemont, mas os entraves do Tribunal Constitucional, que só aceita uma investidura presencial e com garantias de um juiz, dificulta a tarefa ao líder dos Junts per Catalunya exilado em Bruxelas.
Esta quinta-feira os deputados discutiram o bloqueio institucional e aprovaram algumas resoluções no sentido de denunciar “a deriva autoritária do Estado espanhol” e as pressões do governo aos juízes, bem como ratificar a confiança em Carles Puigdemont como presidente da Generalitat.
A proposta do partido de Puigdemont contou com o apoio dos grupos parlamentares da Esquerda Republicana (ERC) e dos anticapitalistas da CUP, que recuaram nas propostas de mencionar explicitamente na resolução uma ratificação da declaração de independência feita a 27 de outubro, evitando assim mais problemas legais para os deputados que já se encontram presos ou em liberdade sob fiança.
As propostas apresentadas pelos deputados do PP, Ciudadanos e PSC, que acusavam os partidos independentistas de “bloqueio institucional” e pretendiam ativar o prazo de dois meses para investir o presidente do governo - prazo atualmente suspenso enquanto correm os recursos junto dos tribunais para investir Puigdemont - foram todas chumbadas.
Aprovadas foram as propostas do grupo Catalunya en Comú, que integra o Podemos catalão, no sentido de defender o modelo linguístico da escola pública catalã e travar o financiamento público de escolas que segregam por sexo, mas também de instar o presidente do parlamento a tomar medidas para desbloquear a situação política e a favor do estabelecimento de um governo efetivo.
Puigdemont abre caminho a Jordi Sànchez na liderança do governo catalão
Enquanto o parlamento debatia o bloqueio, prosseguem as negociações para a formação de governo entre os Junts per Catalunya e a ERC. Em cima da mesa está a proposta de alterar a lei para criar um Conselho da República, presidido por Puigdemont, e investir um governo na Catalunha presidido por Jordi Sànchez, ex-presidente da organização Assembleia Nacional Catalã que se encontra na prisão desde outubro. À semelhança dos restantes deputados presos, o seu lugar no plenário foi ocupado por um laço amarelo, o símbolo da campanha pela libertação dos presos políticos catalães.
Soc diputat i els vots dels meus electors valen tant com els vots rebuts pels altres diputats. Per això em pregunto com és possible que jo no tingui igual dret de participar en l'activitat del @parlamentcat que la resta de diputats #llibertat pic.twitter.com/GE4nxnuQXo
— Jordi Sànchez (@jordialapreso) March 1, 2018
Numa declaração divulgada a partir de Bruxelas após a sessão parlamentar, Carles Puigdemont anunciou renunciar "provisoriamente" à sua candidatura à liderança do governo, por causa dos impedimentos causados pela aplicação do artigo 155. Em seu lugar, indicou que o partido que lidera apresentará a candidatura de Jordi Sànchez e deixou o apelo para que o processo de investidura tenha lugar rapidamente.
Esta escolha irá certamente levantar um novo debate político-jurídico a partir de Madrid. Se o governo de Rajoy já deu sinais de não aceitar que qualquer preso político catalão possa assumir os cargos para que seja eleito, os juízes que decretaram a prisão preventiva do ex-líder da ANC e dos restantes deputados, como Oriol Junqueras, da ERC, abriram a porta a que pudessem assumir o seu mandato em circunstâncias a definir pelo juiz de instrução.
Missatge institucional del president de la Generalitat de Catalunya https://t.co/acydz8HGlF
— Carles Puigdemont (@KRLS) 1 de março de 2018