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“Panama Papers”: Pode a cofundadora do Partido Pirata tornar-se primeira ministra da Islândia?

Amy Goodman e Juan González entrevistam a poetisa Birgitta Jónsdóttir, ex-voluntária do WikiLeaks e atual deputada pelo Partido Pirata, que, segundo as mais recentes sondagens, reúne 43% das intenções de voto.

Na terça-feira, o primeiro-ministro da Islândia tornou-se na primeira grande vítima das revelações “Panama Papers”. Sigmundur David Gunnlaugsson apresentou a sua demissão após ter sido noticiado que o ex governante e a esposa, Anna Sigurlaug Pálsdóttir’s, são donos de uma empresa estabelecida no offshore das Ilhas Virgem britânicas pela Mossack Fonseca. A Wintris Inc. detém perto de 4 milhões de dólares em obrigações nos três maiores bancos islandeses, falidos na crise financeira de 2008. Esta informação terá sido ocultada por Gunnlaugsson quando entrou no Parlamento.

Entretanto, Sigurdur Ingi Johannsson, até agora ministro da Agricultura e das Pescas, foi nomeado primeiro-ministro interino, e já foram anunciadas eleições antecipadas para o outono.

A indignação da população islandesa não se fez tardar, e traduziu-se não só na intensificação dos protestos que têm enchido as ruas de Reiquiavique, como também no crescente apoio ao Partido Pirata.

Se, nas eleições de 2013, esta organização política obteve apenas 5,1% dos votos e elegeu três deputados, segundo as mais recentes sondagens, se as eleições fossem hoje, o Partido Pirata atingiria 43% dos votos, o que levaria Birgitta Jónsdóttir a tornar-se a primeira-ministra do país.

Em entrevista ao Democracy Now, conduzida por Amy Goodman e Juan González, Birgitta Jónsdóttir sublinhou que o Partido Pirata representa “exatamente os valores opostos àqueles que os partidos tradicionais que estão agora no poder representam”.

A poetisa descreve a organização política “como uma espécie de Robin Hood do poder” que quer “transformar o sistema” e “tirar o poder aos poderosos e devolvê-lo ao povo, tal como deveria funcionar a democracia”. Jónsdóttir compara os objetivos e aquilo em que tem trabalhado o Partido Pirata à campanha de Bernie Sanders.

A ex-voluntária do Wikileaks refere ainda que o Partido Pirata está muito focado em “adaptar a legislação ao século 21 quando se trata de privacidade, de acesso à informação, de abrir governação, e, claro, no que respeita à democracia direta”.

“Queremos capacitar as pessoas (…), queremos ter um sistema modernizado da democracia, onde o público em geral pode estar envolvido em cocriar a realidade em que vive”, acrescenta.

Segundo Birgitta Jónsdóttir, é possível aprender com o sucesso e o fracasso de organizações políticas como o Podemos e o Syriza. “E essa é a beleza de estar na política, hoje, é que somos, de facto, um mundo globalizado”, frisa, acrescentando que “estamos realmente a viver tempos de transformação incríveis, e é emocionante estar vivo, porque começamos a moldar os novos sistemas”.

Questionada sobre quem no Partido Pirata seria primeiro-ministro, caso este fosse o partido mais votado, Jónsdóttir explica que nesta organização política não há “uma estrutura de liderança tradicional”. “Não temos uma pirâmide de poder, vemo-nos mais como um círculo de poder, vamos apenas tentar encontrar a pessoa que seria mais apta para estar nessa posição nestes momentos críticos para o nosso país”, refere.

Jónsdóttir afirma que, caso se torne primeira-ministra da Islândia, elegerá como prioridade começar a preparar a implementação da nova constituição, assegurar que terá lugar um referendo nacional, que foi prometido à nação, sobre se os e as islandeses/as querem manter o acordo com a União Europeia, e, seguidamente, começar a analisar como é possível fortalecer o Parlamento.

O Parlamento “não pode ser apenas uma máquina de processamento de leis que ninguém sabe quem escreve”, defende a poetisa.

Sobre as declarações do primeiro-ministro islandês nos últimos dias, Jónsdóttir afirma que, a seu ver, Gunnlaugsson está a ter uma espécie de colapso, porque o seu comportamento nos últimos dias tem sido tão ultrajante que parece que estamos presos numa sátira de Dario Fo, num verdadeiro teatro do absurdo”. “E, sabendo que é isso a que o mundo está a assistir, sinto-me profundamente humilhada em nome do meu país”, avança.

A porta voz do Partido Pitrata lembra que Gunnlaugsson, além de esconder os seus investimentos, esteve também envolvido na negociação com os bancos falidos, dos quais ele e sua esposa eram credores.

“Podemos estar perante uma conduta criminosa”, afirma, sublinhando, contudo, que, “mesmo que não seja criminoso, o povo islandês está totalmente farto do ditado: 'Não é ético, mas é legal'".

Birgitta Jónsdóttir expressa a sua “gratidão” a Chelsea Manning, afirmando que a sua coragem é contagiosa e que ela “é a inspiração para tudo o que está a acontecer”.

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