You are here

Palmira: “Não façamos de Bachar o salvador”, afirma historiador francês

O exército sírio reconquistou Palmira, com o apoio da Rússia. O historiador francês Maurice Sartre afirma: “Não façamos de Bachar o salvador a quem é preciso agradecer. Ele é, em grande parte, cúmplice do Daesh [Estado Islâmico]”.
Palmira, 27 de março de 2016 – Foto STR/Epa/Lusa

O exército sírio do regime de Bachar al-Assad reconquistou neste domingo, 26 de março de 2016, Palmira, a cidade histórica que o Daesh (Estado Islâmico) tomou em junho de 2015 e, em parte, destruiu.

A vitória estratégica do regime sírio foi conseguida com o apoio russo. Nas últimas três semanas de combate pelo controle da cidade Palmira terão morrido 400 membros do Daesh e 188 do exército sírio, segundo dados do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, citados pelo jornal “Público”.

Bachar Al-Assad entregou Palmira ao Daesh "sem combate"

Palmira, vista geral com o Templo de Bel em evidência, 2009 – Foto de Arian Zwegers/wikimedia

Em entrevista à France culture1, o historiador Maurice Sartre2 acusa Bachar Al-Assad de estar “na origem de todo o drama que atravessa a Síria”, sublinhando que oito em cada dez mortos são da responsabilidade de Bachar al-Assad e não do Daesh.

Questionado se “enquanto historiador, poderá dizer 'obrigado Bachar al-Assad por nos ajudar a libertar Palmira'”, Maurice Sartre responde que “certamente que não”, acusando o presidente da Síria pela responsabilidade principal do que se passa no país, apontando que o exército de Bachar é também responsável pela pilhagem, nomeadamente entre 2012 e 2015.

O historiador acusa ainda Bachar al-Assad de ter entregado Palmira ao Daesh “sem combate” e “abstendo-se mesmo de bombardear os comboios de veículos do Daesh que percorriam a estrada de Deir ez-Zor a Palmira através de 200 km de um deserto plano, como a palma da mão, e onde não há qualquer esconderijo”.

“Isto não impede que esteja muito feliz por ver o Daesh fugir”, destaca Maurice Sartre, acrescentando no entanto que o “segundo tirano” retomar o controle de Palmira, não alegra ninguém, “muito menos os sírios”.

Maurice Sartre afirma ainda que “o diretor geral das antiguidades, que fez um trabalho formidável, vai sem dúvida fazer rapidamente o balanço das destruições”, nomeadamente a “extensão das pilhagens e o desaparecimento de um património arqueológico insuspeito, desconhecido, não identificado mesmo pelos historiadores” e alerta que “é extremamente importante fazer isto rapidamente antes de o exército de Bachar al-Assad se entregar à pilhagem do local e ao tráfico de antiguidades, como o fez no passado”.


2 Professor emérito de História Antiga na Universidade de Tours e co-autor de “Zénobie, de Palmyre à Rome”

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Cultura
Comentários (3)