Com mais de 100 migrantes refugiados a bordo, o navio Open Arms continua num impasse entre as ordens de Matteo Salvini, imperativos humanitários e decisões do sistema judicial italiano. A bordo, os migrantes começam a desesperar e alguns atiraram-se este domingo ao mar, tentando chegar à costa a nado.
Óscar Camps, fundador da organização humanitária espanhola que dá nome ao navio, colocou um vídeo no Twitter onde se vê alguns migrantes afastando-se do navio a nado, numa tentativa desesperada de chegar à costa de Lampedusa. "Estamos a avisar há dias, o desespero tem limites. Lançam-se ao mar e os socorristas tentam pará-los", denunciou Camps.
Horas mais tarde, também no Twitter, Camps voltou a denunciar: "Depois de 26 dias de missão, 17 dias de espera com 134 pessoas a bordo, uma resolução judicial a favor e seis países dispostos a acolher, querem que naveguemos 950 milhas, uns cinco dias mais, até ao porto mais distante do Mediterrâneo, com uma situação insustentável a bordo?". Justificava assim a recusa da ONG perante proposta do governo de Espanha para acolher o navio em Algeciras. Laura Lanuza, deu mais explicações à Associated Press: "Há ansiedade, episódios de violência, o controlo da situação é cada vez mais difícil. Iniciar uma viagem de seis dias com estas pessoas a bordo, que estão no limite das suas possibilidades, seria uma loucura. Não podemos pôr a saúde e a vida delas em risco".
O caso está a quebrar a linguagem diplomática habitualmente usada entre governos, com o governo de Espanha a qualificar de "inconcebível" a atitude do governo italiano, sem se coibir de nomear o responsável: "A inconcebível resposta das autoridade italianas, e em concreto do ministro do Interior, Matteo Salvini, de fechar todos os seus portos, e as dificuldades expostas por outros países do Mediterrâneo central, levaram Espanha a liderar mais uma vez a resposta a uma crise humanitária".
No final da semana passada, um tribunal italiano levantara a proibição decretada por Matteo Salvini para o Open Arms acostar em Lampedusa, e seis países da UE (Portugal, Espanha, Alemanha, França, Luxemburgo e Roménia) disponibilizaram-se para receber os migrantes a bordo. Mas quando a situação parecia estar em vias de se resolver, o ministro de interior de Itália continua a bloquear a situação por todos os meios. No sábado, Itália autorizou o desembarque apenas de 27 menores não-acompanhados, de pessoas necessitadas de assistência médica urgente. A bordo, ainda e sempre ao largo de Lampedusa, continuam 107 migrantes e 19 voluntários.