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Open Arms: justiça italiana dá ordem para desembarcar migrantes

Após examinar as condições a bordo do navio de resgate Open Arms, a Procuradoria siciliana mandou apreender o barco e desembarcar os cerca de 90 migrantes a bordo.
Desembarque de oito pessoas do Open Arms para assistência médica, 19 de agosto. Foto: Francisco Gentico/proactivaopenarms/Instagram.
Desembarque de oito pessoas do Open Arms para assistência médica, 19 de agosto. Foto: Francisco Gentico/proactivaopenarms/Instagram.

A saga dos migrantes a bordo do Open Arms parece aproximar-se do fim após mais de duas semanas em que o navio, com mais de 100 migrantes a bordo resgatados do mar, ficou retido ao largo de Lampedusa, foi autorizado a desembarcar por um tribunal italiano, de novo impedido de desembarcar por Matteo Salvini, viu migrantes em desespero atirar-se ao mar, e levou a um conflito diplomático inflamado entre Itália e Espanha.

Esta terça-feira, a Procuradoria de Agrigento, na Sicília, decidiu dar ordem para apreensão do Open Arms e o desembarque dos cerca de 90 migrantes a bordo no porto de Lampedusa. A decisão foi tomada pouco depois de uma visita do procurador Luigi Patronaggio para inspecionar as condições do navio de bandeira espanhola operado por uma ONG que já resgatou centenas de migrantes à deriva no Mediterrâneo. Horas antes, o governo espanhol anunciara o envio de um navio para recolher os migrantes a bordo do Open Arms e trazê-los para Espanha, após a ONG ter dito que o navio não tinha condições para fazer essa viagem. 

Este fim de semana, recorde-se, apesar de um tribunal italiano ter permitido o desembarque do navio e seis países europeus (Portugal, Espanha, Alemanha, França, Luxemburgo e Roménia) se terem disponibilizado para acolher os migrantes a bordo, o ministro do interior italiano Matteo Salvini voltou a bloquear por despacho a entrada no porto de Lampedusa. Só permitiu a contragosto o desembarque de 27 menores e algumas pessoas necessitadas de assistência médica. "Faço isto contra a minha vontade" e só "porque o primeiro-ministro me pediu", declarou Salvini segundo o La Repubblica. Uma "inconcebível resposta das autoridade italianas, e em concreto do ministro do Interior, Matteo Salvini", respondeu o governo de Espanha.

A guerra diplomática e de palavras continua entre os dois países, com a ONG espanhola de permeio. O governo espanhol ofereceu o porto de Algeciras como alternativa, mas a Open Arms recusou devido à situação crítica a bordo que diz inviabilizar uma viagem tão longa. A recusa levou Madrid a criticar também a Open Arms: "Oferecemos todo o tipo de ajuda: assistência médica, alimentação. Está tudo preparado para virem. Não é fácil entender que estes migrantes, que estão numa situação muito difícil e têm uma travessia garantida, não estejam a caminho de Espanha", disse esta segunda-feira Carmen Calvo, a vice-presidente do governo espanhol, à rádio Cadena Ser. A Open Arms respondeu acusando Calvo de "deturpar a realidade" e considerando que as soluções oferecidas por Espanha são "ridículas" e "denotam falta de vontade". "Tem de se impor o porto mais próximo" de Lampedusa, "que está a meia milha", afirmou uma fonte da organização ao jornal El Pais.

Isabel Pires, deputada do Bloco, criticou no Facebook os "17 dias sem resposta séria de nenhum governo europeu", enquanto Salvini "continua a sua senda xenófoba e racista que mata, literalmente, pessoas". "Este é um dos piores exemplos da política migratória europeia, que nem o chega a ser. Quando se deixa na mão de racistas e xenófobos como Salvini a decisão de poder salvar vidas, é isto que acontece. Quando a União Europeia cede a estes governos não se pode chocar quando organizações como a Open Arms (ou outras) se vêm nestas situações", denunciou.

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