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Onde está Santiago Maldonado, o primeiro desaparecido da presidência Macri?

Passam dois meses desde o desaparecimento do jovem ativista solidário com a causa autóctone mapuche. Neste artigo publicado no Libération, Tariq Ali junta-se a vários políticos e intelectuais franceses na exigência do reaparecimento de Santiago Maldonado, são e salvo.
Foto ¿Dónde está Santiago Maldonado?/Facebook

Como nos tempos mais sombrios da ditadura na Argentina, nos anos 1970, as palavras “desaparecimento forçado” ressurgem. Um grupo de personalidades exige ao governo argentino o “reaparecimento” do jovem ativista solidário com a causa autóctone mapuche, Santiago Maldonado.

Santiago Maldonado, 28 anos, foi visto pela última vez a 1 de agosto, quando a polícia argentina levava a cabo a enésima operação de repressão contra a comunidade autóctone mapuche em luta (“Lof”, na Resistência do Cushamen, “Lof” é uma palavra índia que designa uma comunidade indígena), que se manifestava na estrada nacional nº 40, na província do Chubut, no Sul do país, numa propriedade da multinacional Benetton, território reivindicado pelos Mapuches.

Jovem ativista solidário da causa autóctone, as testemunhas oculares afirmam que ele teria sido capturado, agredido e enfiado numa camioneta com a identificação da polícia argentina. Desde essa data, o discurso do governo argentino tem mudado muitas vezes, negando inicialmente qualquer responsabilidade da polícia no desaparecimento do jovem ativista solidário com a causa mapuche. O caso, mesmo assim, foi reclassificado pela justiça como um caso de “desaparecimento forçado”, uma expressão que, na Argentina, evoca os tempos mais sombrios da história do país.

Trata-se portanto do primeiro desaparecimento de um ativista sob a presidência de Mauricio Macri, que foi recentemente felicitado pelo vice-presidente estadunidense Mike Pence, durante a sua digressão latinoamericana, pela sua boa gestão do país.

O método do desaparecimento forçado foi introduzido nos anos 1970 pelas forças argentinas de repressão, treinadas designadamente por antigos oficiais franceses que serviram na Indochina e na Argélia. Foi ao fazer “desaparecer” os e as militantes, ativistas e oposicionistas que a última ditadura argentina levou a cabo a sua guerra suja que fez 30 mil vítimas entre 1976 e 1983.

O caso Santiago Maldonado, de quem até hoje não há novidades, está a gerar na Argentina uma grave crise política. A 2 de setembro, uma enorme manifestação em Buenos Aires e noutras cidades, a par de concentrações organizadas em consulados da Argentina nas Américas e na Europa, reclamaram de novo o “aparecimento” de Santiago Maldonado, são e salvo. Na antevéspera, foram feitas rusgas nas sedes dos partidos de esquerda em Córdoba, por causa das suas ligações à resistência mapuche, apelidada de “terrorista” pelas autoridades, enquanto membros do governo continuam a fazer passar a ideia de que Maldonado teria “passado à clandestinidade”, ou mesmo sido assassinado pelos Mapuches de Cushamen. Este discurso e estas práticas fazem lembrar a forma como as autoridades da ditadura procuravam ocultar os raptos de militantes nos anos 1970 e justificar a repressão.

No décimo primeiro aniversário do desaparecimento de Julio López, antigo desaparecido sob a ditadura e novamente raptado a 18 de setembro de 2006, após testemunhar num processo por crime contra a humanidade contra os responsáveis da polícia sob o regime militar, juntamos a nossa voz à de centenas de personalidades do mundo da cultura, das ideias, das artes, da política e do movimento social, como Miguel Ángel Estrella, Noam Chomsky, Adolfo Pérez Esquivel ou Piedad Córdoba, para pedir ao governo argentino que clarifique este caso e exigir o reaparecimento, são e salvo, de Santiago Maldonado.
 


Tariq Ali, escritor e editor da  Verso-New Left Review;
Olivier Besancenot, porta-voz do Nouveau parti anticapitaliste (NPA);
Franck Gaudichaud, professor universitário e co-presidente de France Amérique Latine (FAL);
Danièle Obono, deputada de Paris (France Insoumise);
Jean Baptiste Thomas, professor universitário especialista da Argentina contemporânea.  

Artigo publicado no Libération a 25 de setembro de 2017. Tradução de Luís Branco para o esquerda.net.

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