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OGMA: as razões de uma luta

No dia 8 de Julho os trabalhadores das OGMA estiveram em greve. A última actualização da tabela salarial que a empresa fez foi há 5 anos com o irrisório aumento de 0,5%. Assim um trabalhador que ganha 600 euros, teve um aumento de 3 euros por mês! A empresa apresentou um lucro de 11,6 milhões de euros em 2015.
Trabalhadores da OGMA em luta - Foto de Tiago Petinga/Lusa (arquivo)
Trabalhadores da OGMA em luta - Foto de Tiago Petinga/Lusa (arquivo)

Dia 8 de Julho os trabalhadores das OGMA tiveram mais uma acção de luta, com um pré-aviso de greve emitido pelo Steffas (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos Fabris das Forças Armadas) que abrangia as 24 horas desse mesmo dia. Uns dias antes era apresentado com um grande aparato o novo avião militar da Embraer o KC-390 , com direito a presenças ilustres como António Costa, o atual primeiro-ministro de Portugal. Até aqui tudo muito bem, pena que o pouco trabalho que ainda é executado para a força aérea portuguesa (C-130 e P-3 ) esteja infelizmente com os dias contados, o que a confirmar-se será um duro golpe e uma grande perda para uma empresa que construiu a excelência do seu nome com base no seu trabalho com a Força Aérea Portuguesa. Já agora porque razão os helicópteros Kamov que foram adquiridos pelo Estado Português em 2006, não fazem a sua manutenção e reparação nas OGMA, em vez de estarem parados, quando deveriam estar a combater fogos florestais? O Estado detentor de 35% da empresa não pode continuar a assobiar para o lado...

Como existem muitas e boas razões para confrontar o Estado que até agora tem pactuado sem questionar o accionista maioritário, o STEFFAS entendeu e bem, apresentar uma declaração no Ministério da Defesa nesse mesmo dia 8, no intuito de denunciar as injustiças e as muitas situações de atropelo à lei laboral que inevitavelmente castigam e muito os trabalhadores.

O Bloco de Esquerda mostrou mais uma vez que está do lado de quem trabalha e produz riqueza, marcando presença em frente do Ministério da Defesa com os deputados parlamentares Pedro Filipe Soares e Isabel Pires, além da deputada do PCP Rita Rato.

A última actualização da tabela salarial que a empresa fez foi há 5 anos com o irrisório aumento de 0,5%. Assim um trabalhador que ganha 600 euros, teve um aumento de 3 euros por mês!

A empresa apresentou um lucro de 11,6 milhões de euros em 2015, e nos últimos 5 anos esse lucro foi de aproximadamente 35 milhões à custa do profissionalismo, suor e dedicação dos seus trabalhadores.

A empresa tem optado por uma descarada manobra de propaganda na comunicação social apregoando que parte dos seus lucros são repartidos pelos seus funcionários, mas na verdade esse prémio não é para todos e beneficia proporcionalmente quem aufere os salários mais elevados e penaliza os que são mais mal pagos

A empresa tem optado por uma descarada manobra de propaganda na comunicação social apregoando que parte dos seus lucros são repartidos pelos seus funcionários, mas na verdade esse prémio não é para todos e beneficia proporcionalmente quem aufere os salários mais elevados e penaliza os que são mais mal pagos (os operários, aqueles que mais contribuem para os bons resultados da empresa). O facto disto acontecer fomenta as injustiças e consequentemente causa uma divisão entre os trabalhadores. Por seu lado a atualização da tabela salarial abrange todos.

Assim com o passar dos anos o empobrecimento dos trabalhadores e a perda do poder de compra tem sido uma infeliz realidade. A precariedade tem vindo a aumentar (são centenas os trabalhadores a laborar por conta de Empresas de Trabalho Temporário) e são inúmeros os casos de excelentes profissionais efetivos com provas dadas há 10 anos ou mais na empresa, que ganham menos de 700 euros na fabricação ou reparação de aeronaves.

Quando alguém diz num jornal que o salário médio da OGMA é de 1.400 euros, então existe um determinado número de pessoas que inflaciona essa média exponencialmente...

A divulgação dos salários de todos os funcionários da OGMA foi algo que já foi solicitado pelo STEFFAS, mas foi sempre negado pela direção dos recursos humanos da empresa. Seria interessante verificar as gritantes desigualdades entre os ganhos da administração, responsáveis de área e supervisores, e o dos trabalhadores que tantas vezes sacrificam a sua vida pessoal e familiar a troco de horas extraordinárias mal pagas para compor um pouco o seu precário salário.

O regulamento de carreiras, as chamadas progressões estão sempre sujeitas ao crivo final das chefias, logo um trabalhador por mais dedicado que seja, se fizer uma greve, se participar em plenários do sindicato, se não estiver abrangido pelo novo acordo de empresa ou se não tiver o código de Ética e Conduta assinado, não tem hipóteses de ser progredido porque não está “alinhado” com a empresa.

O constante clima de repressão e a falta de perspetivas de uma melhoria das condições de vida favorece um clima de desânimo, sendo a causa principal do êxodo de jovens bons profissionais

O constante clima de repressão e a falta de perspetivas de uma melhoria das condições de vida, uma ambição perfeitamente legítima para quem tanto trabalha em prol da competitividade e produtividade da empresa, favorece um clima de desânimo, sendo a causa principal do êxodo de jovens bons profissionais, mais-valias que a empresa não consegue segurar.

Está enraizada a ideia que o sindicalismo só está ao alcance de um trabalhador quando este passa a efetivo. A melhor forma de defender melhores salários para novos e velhos passará sempre por arranjar mecanismos que possam permitir que a nova geração entre em cena e dê voz aos seus problemas e anseios sem correr o risco de sofrer represálias. Quando existem pessoas a executar o mesmo trabalho que um operário efetivo com vários anos de casa por pouco mais que o salário mínimo, tal facto é o que inevitavelmente puxa o salário deste para baixo.

A empresa tem hipóteses e condições para proporcionar melhores condições aos seus trabalhadores, a atualização da tabela salarial estará sempre no topo das suas reivindicações. É preciso que os trabalhadores possam criar pontes entre si para combater a precariedade e repressão que sofrem diariamente na pele!

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