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O último inverno do gás na Europa

Para acabar com a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos de garantir a rápida eliminação do gás fóssil na Europa. O próximo inverno tem de ser o último inverno do gás na Europa. Artigo assinado por 80 ativistas e académicos de todo o mundo.
Enquanto centenas de activistas bloquearam a Conferência Europeia do Gás em Viena para impedir mais caos climático e pobreza, apelamos a todos os movimentos e organizações para que reajam contra o poder da indústria dos combustíveis fósseis. Para acabar com a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos de garantir a rápida eliminação do gás fóssil na Europa e de construir um novo sistema energético para as pessoas e para o planeta. O próximo inverno tem de ser o último inverno do gás na Eur
Enquanto centenas de activistas bloquearam a Conferência Europeia do Gás em Viena para impedir mais caos climático e pobreza, apelamos a todos os movimentos e organizações para que reajam contra o poder da indústria dos combustíveis fósseis. Para acabar com a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos de garantir a rápida eliminação do gás fóssil na Europa e de construir um novo sistema energético para as pessoas e para o planeta. O próximo inverno tem de ser o último inverno do gás na Europa. O início da subida nos preços da energia começou no Outono de 2021, quando os lockdowns de Covid começaram a aliviar e quando começou a espiral de inflação que ainda estamos a viver. A crise do custo de vida actual foi provocada pela indústria dos combustíveis fósseis que, como resultado, obteve lucros recordes. No ano passado, a Saudi Aramco anunciou 161,1 mil milhões de dólares de lucro, a ExxonMobil 59 mil milhões de dólares, a Shell 40 mil milhões de dólares e a TotalEnergies 36 mil milhões de dólares, para mencionar apenas alguns. Estes lucros obscenos levaram a uma inflação maciça numa economia global deliberadamente dependente dos combustíveis fósseis, em particular do gás fóssil. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), só o gás fóssil é responsável por mais de 50% do aumento dos custos médios da produção de electricidade. Sobre esta realidade, outras empresas aumentaram oportunisticamente os seus preços sob o pretexto da inflação e instalou-se a crise do custo de vida: aumentos maciços de preços na alimentação, transportes, bens essenciais, habitação, em suma, de tudo. O ano passado vivemos o verão mais quente da Europa nos últimos 500 anos, a maior seca da história da China e inundações que devastaram um terço do território do Paquistão, matando milhares e afectando 33 milhões de pessoas. Este é o nível de destruição climática, ambiental e social em que já estamos a viver hoje. A invasão da Ucrânia pela Rússia, em Fevereiro de 2022, g

Enquanto centenas de activistas bloquearam a Conferência Europeia do Gás em Viena para impedir mais caos climático e pobreza, apelamos a todos os movimentos e organizações para que reajam contra o poder da indústria dos combustíveis fósseis. Para acabar com a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos de garantir a rápida eliminação do gás fóssil na Europa e de construir um novo sistema energético para as pessoas e para o planeta. O próximo inverno tem de ser o último inverno do gás na Europa.

O início da subida nos preços da energia começou no Outono de 2021, quando os lockdowns de Covid começaram a aliviar e quando começou a espiral de inflação que ainda estamos a viver. A crise do custo de vida actual foi provocada pela indústria dos combustíveis fósseis que, como resultado, obteve lucros recordes. No ano passado, a Saudi Aramco anunciou 161,1 mil milhões de dólares de lucro, a ExxonMobil 59 mil milhões de dólares, a Shell 40 mil milhões de dólares e a TotalEnergies 36 mil milhões de dólares, para mencionar apenas alguns.

Estes lucros obscenos levaram a uma inflação maciça numa economia global deliberadamente dependente dos combustíveis fósseis, em particular do gás fóssil. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), só o gás fóssil é responsável por mais de 50% do aumento dos custos médios da produção de electricidade. Sobre esta realidade, outras empresas aumentaram oportunisticamente os seus preços sob o pretexto da inflação e instalou-se a crise do custo de vida: aumentos maciços de preços na alimentação, transportes, bens essenciais, habitação, em suma, de tudo.

O ano passado vivemos o verão mais quente da Europa nos últimos 500 anos, a maior seca da história da China e inundações que devastaram um terço do território do Paquistão, matando milhares e afectando 33 milhões de pessoas. Este é o nível de destruição climática, ambiental e social em que já estamos a viver hoje.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, em Fevereiro de 2022, garantiu rédea livre para o açambarcamento e especulação. As forças por trás das crises já em movimento foram libertadas. O encerramento parcial do fluxo de gás da Rússia para a União Europeia foi utilizado pela indústria dos combustíveis fósseis para fazer recuar os fracos avanços já acordados nas metas de redução de emissões. Projectos de infra-estruturas de gás que já estavam cancelados foram reativados, começou a construção de novos portos de GNL, foram aprovados gasodutos para gás fóssil camuflados de "hidrogénio", todos eles prolongando a rentabilidade do sector por décadas.

A diversificação energética na Europa significou a mudança do fornecimento de gás da Rússia para os Estados Unidos, para a Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Nigéria, e o avanço de projectos catastróficos como o oleoduto da África Oriental (EACOP) ou o gás da Bacia do Rovuma, em Moçambique, alimentando a expansão do fracking, numa nova ronda de fortalecimento dos monopólios, do neocolonialismo e de devastação das comunidades.

Para parar a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos da rápida eliminação do gás fóssil, seguida do petróleo e do carvão. Precisamos que o último inverno do gás na Europa aconteça em 2023-2024. Quando chegarmos ao final desta década, precisamos de olhar para o gás fóssil como uma memória distante.

A crise energética e do subsequente custo de vida tem sido utilizada para reavivar a indústria dos combustíveis fósseis, paga pelos povos deste mundo, estrangulados pelo capital fóssil e pelos seus monopólios. A crise tem sido ainda agravada pelo facto de os bancos centrais terem optado por aumentar as taxas de juro, o que significa mais pessoas despejadas das suas casas, mais execuções hipotecárias, falências e desemprego. Todo o investimento actualmente feito em combustíveis fósseis garante uma dependência contínua, uma crise contínua do custo de vida e uma crise climática cada vez mais catastrófica.

Estamos apenas no início dos nossos problemas, pois estas as crises ainda estão a multiplicar-se e a intensificar-se, com um possível contágio ao sector financeiro. As decisões tomadas pelos governos e bancos centrais, de expandir as infra-estruturas de gás e de aumentar as taxas de juro, não são um mal menor perante uma situação problemática, são a raiz do mal.

As empresas de combustíveis fósseis estão a fazer estes lucros porque os governos se recusaram a utilizar o seu poder político, entregando-o em vez disso às administrações e aos acionistas de empresas de gás fóssil. A crise do custo de vida, tal como a crise climática, é irresolúvel se a dependência dos combustíveis fósseis não acabar. Não estamos na mesma situação de há dez anos atrás, não temos tempo para estar de novo a lutar contra novos projectos massivos de petróleo e gás em todo o mundo: temos de acabar com esta indústria nesta década.

Enquanto centenas de pessoas utilizaram os seus corpos para bloquear a Conferência Europeia do Gás em Viena nos últimos dias, por detrás de suas portas fechadas, os executivos do petróleo e do gás trabalharam lado a lado com funcionários governamentais de topo para proteger os investimentos dos accionistas e manter o caminho suicida rumo ao caos climático. Temos de fazer frente ao lucro e ao poder em todo o lado, em particular ao capital fóssil.

Para parar a crise do custo de vida e evitar o caos climático, precisamos da rápida eliminação do gás fóssil, seguida do petróleo e do carvão. Precisamos que o último inverno do gás na Europa aconteça em 2023-2024. Quando chegarmos ao final desta década, precisamos de olhar para o gás fóssil como uma memória distante.

Haverá dificuldades técnicas, já que o sistema actual foi construído para alimentar o monopólio dos combustíveis fósseis, mas esta é, antes de mais, uma questão política. Não ficaremos parados enquanto os governos de todo o espectro político escolhem repetidamente o caminho do colapso e das contínuas crises sociais e económicas, para salvar a indústria dos combustíveis fósseis. Apelamos a todos os movimentos e organizações a mobilizarem-se e a usar toda a sua energia e imaginação contra as forças do caos, rumo ao último inverno do gás.

Alejandra Jiménez (México), Alex Foti (Itália), Alfons Pérez (Catalunha), Alice Gato (Portugal), Alice Hu (EUA), Amazon Sathananthar (Malásia), Anabela Lemos (Moçambique), Andreas Malm (Suécia), Andreas Ytterstad (Noruega), Ange Princwill Nfor (Camarões), Ani Marincean (Roménia), Anselm Schindler (Áustria), Ayisha Siddiqa (Paquistão), Breno Bringel (Brasil) Camille Barbagallo (Reino Unido), Charlotte Valøe (Dinamarca), Chloe Mikolajczak (Bélgica), Christian Zeller (Áustria), Cigdem Ozbas (Turquia), Daniel Ribeiro (Moçambique), Daniela Subtil (Portugal / Alemanha), David Fajardo Torres (Equador), Dean Bhekumuzi Bhebhe (Zimbabué), Dorothy Guerrero (Filipinas/ Reino Unido), Eduardo Giesen (Chile), Elijah Dero (Uganda), Eric Toussaint (Bélgica), Esteban Servat (Argentina), Francesca Loughran (Irlanda), Gail Bradbrook (Reino Unido), George Monbiot (Reino Unido), Helena Martins (Brasil), Ilham Rawoot (África do Sul), Inés Sánchez (Espanha), Jawad Moustakbal (Marrocos), Jeff Ordower (EUA), João Camargo (Portugal), João Telles Melo (Brasil). Josep Corpas (Catalunha), Justin Mutabesha (RD Congo), Karl Andreasson (Suécia), Kevin Buckland (EUA/Catalunha), Kjell Kühne (Alemanha/México) , Kohei Saito (Japão), Kristina Hamplova (República Checa), Leon Burghardt (Alemanha), Leonor Canadas (Portugal), Lidy Nacpil (Filipinas), Lorraine Chiponda (Zimbabué), Lucy Cadena (Hungria), Makoma Lekalakala (África do Sul), Manuel Grebenjak (Áustria), Maria Campuzano (Catalunha), Mariana Rodrigues (Portugal), Mark Bergfeld (Alemanha / Bélgica), Martin Lallana (Espanha), Max Hollweg (Áustria), Mitzi Tan (Filipinas), Moritz Kramer (Áustria), Náme Villa del Ángel (México), Nawojka Ciborska (Polónia), Neville Van Rooy (África do Sul), Nnimmo Bassey (Nigéria), Noah Herfort (Reino Unido / EUA), Oscar Mooney (Irlanda), Pascal Mirindi (RD Congo), Pascoe Sabido (Reino Unido), Pieter Sellies (Países Baixos), Poul Bjørn Berg (Dinamarca), Robbie Gillett (Reino Unidos), Rodrigo Meruvia (Bolívia), Roland Ruhke (Alemanha), Simone Tulumello (Itália / Portugal), Sophie Bjerregaard (Dinamarca), Svitlana Romanko (Ucrânia), Ulrich Steenkamp (África do Sul), Vanessa Dourado (Brasil / Argentina), Verena Gradinger (Áustria), Xiomara Acevedo (Colômbia).

Artigo assinado por 80 ativistas e académicos de todo o mundo, publicado em publico.pt a 29 de março de 2023

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