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O que significa a vitória de Trump para o Médio Oriente?

O povo sírio será o primeiro a sofrer as consequências desta eleição. Outra vítima direta da eleição de Trump será o povo palestiniano na medida em que Netanyahu terá as mãos mais livres. Por Gilbert Achcar.
“As relações de Benjamin Netanyahu com os EUA melhorarão muito com uma presidência Trump” – foto de Trump e Netanyahu a apertarem as mãos
“As relações de Benjamin Netanyahu com os EUA melhorarão muito com uma presidência Trump” – foto de Trump e Netanyahu a apertarem as mãos

Em matéria de política externa em geral, e sobre o Médio Oriente em particular, Donald Trump, enquanto novo presidente dos Estados Unidos, destacar-se-á como um dos homens mais imprevisíveis que ocupou este lugar desde que o seu país começou a desenvolver uma política imperial ultramarina nos finais do século XIX.

Durante a campanha eleitoral, Trump contradisse-se permanentemente e mudou de posição ou de tom sobre numerosas questões. A julgar, no entanto, por alguns temas chave que tem repetido com frequência durante o último ano, o que se segue é o que se pode adivinhar neste momento sobre a forma como a sua presidência afetará o Médio Oriente.

O povo sírio será o primeiro a sofrer as consequências desta eleição. As fronteiras dos Estados Unidos serão fechadas às pessoas refugiadas sírias que queiram tentar instalar-se lá, com excepção talvez das cristãs na medida em que a agitação de Trump contra as pessoas refugiadas sírias está centrada no tema da islamofobia.

A fim de pôr fim ao fluxo de refugiados e refugiadas provenientes da Síria, Trump propôs a criação de uma “zona de segurança” nas fronteiras do país, em que as pessoas deslocadas sírias seriam concentradas em vez de ser autorizadas a ir para o estrangeiro como refugiadas. Gabou-se de fazer os Estados do Golfo pagar esta operação da mesma forma que pretende que o México pague o muro que tem intenção de construir na fronteira entre os dois países.

Em segundo lugar, Trump inaugurará uma nova política de amizade e de colaboração com o presidente russo Vladimir Putin, assente na conciliação com os interesses russos. No Médio Oriente, isto inclui um reconhecimento do papel da Rússia na Síria como positivo e apoiar o regime de Bachar al-Assad como o mal menor.

Logicamente, isto implica que os Estados Unidos exijam dos seus aliados tradicionais na região que deixem de apoiar a oposição armada síria. Washington apoiará com Moscovo um “governo de coligação” sírio que compreenda membros conciliadores da “oposição”. Isso poderá abrir a via a uma colaboração dos Estados Unidos com o regime de Assad em nome da “guerra contra o terror”.

Prosseguindo uma política favorecedora de “homens fortes” no poder, que partilha com Putin, Trump quererá melhorar as relações que Washington mantém tanto com o presidente egípcio Abdel-Fatah Al-Sissi como com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

Poderá tentar resolver os conflitos entre os dois homens e persuadi-los a unirem esforços contra um “terrorismo” que aceitará a definição de cada presidente segundo o que ele considere como terrorismo no seu próprio país.

Na medida em que Trump está disposto a antagonizar-se com o Irão, revogando o acordo nuclear negociado pela administração Obama, poderá até tentar seduzir a Arábia Saudita para que se junte ao que poderá aparecer como o triângulo sunita de Ancara, Cairo e Riade apoiado por Washington.

É aqui que reside a principal contradição da visão de Trump para o Médio Oriente (enquanto a sua posição hostil à China é a principal incoerência da sua visão global): superá-la implica arrastar tanto Moscovo como o regime de Assad para uma rutura com Teerão.

Por último, outro “homem forte” da região cujas relações com Washington melhorarão muito com uma presidência Trump é Benjamin Netanyahu. Assim, outra vítima direta da eleição de Trump será o povo palestiniano na medida em que Netanyahu terá as mãos mais livres para “lidar” com os palestinianos do que qualquer outro primeiro-ministro israelita desde Ariel Sharon após os atentados do 11 de setembro de 2011.

Artículo de Gilbert Achcar, publicado originalmente em inglês em aljazeera.com, traduzido para espanhol por Faustino Eguberri para Viento Sur e para português por Carlos Santos para esquerda.net

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