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O Pinhal de Leiria ardeu. O que fazer no imediato?

O Bloco de Esquerda acabou de apresentar um Projeto de Resolução na Assembleia da República que recomenda ao Governo a reflorestação e gestão pública sustentável do Pinhal de Leiria.
Pinhal de Leiria, 80% ardeu no dia 15 de outubro de 2017 – Foto de Miguel A. Lopes
Pinhal de Leiria, 80% ardeu no dia 15 de outubro de 2017 – Foto de Miguel A. Lopes

Esta era a maior mata florestal do país e ardeu em 80%. A proposta do Bloco passa pela manutenção da propriedade e gestão pública da mata e formação imediata de uma Comissão Técnica que estude e avalie as condições locais, do solo ao clima, de forma a produzir um plano de reflorestação e gestão sustentáveis para uma nova mata, capaz de responder aos desafios do futuro. Este processo de reflorestação levará o seu tempo e precisa de ser participado. Temos muitos especialistas no país que devem ser ouvidos e integrados imediatamente, do levantamento e análise das condições de campo às particularidades de cada serviço (preservação de biodiversidade, captura de carbono, proteção dos sistemas dunares, turismo e lazer, adaptação às alterações climáticas, preservação de património histórico, etc.). Esta nova mata tem de ser pensada, construída e gerida para garantir a sua plena multifuncionalidade. Só assim teremos uma mata resiliente e que responda ao interesse público.

Muitas das medidas a tomar, no médio e longo prazo, como o método de reflorestação, a composição da mata do ponto de vista das espécies a plantar e a privilegiar, devem aguardar pelo plano de reflorestação e gestão a produzir pela Comissão Técnica, mas há medidas que não podem esperar. Por isso o Bloco propõe que sejam tomadas medidas de proteção e melhoria da fertilidade do solo de forma faseada. No imediato é preciso proteger os recursos hídricos, evitando grandes arrastamentos das cinzas e dos próprios solos, para tal temos poucos dias até às primeiras chuvas intensas.

Exemplos de medidas a promover no imediato:

  • Reconstrução e recuperação de infraestruturas afetadas, nomeadamente no que diz respeito à drenagem e condução de águas pluviais;
  • Abertura de valas segundo as curvas de nível ou de sulcos, de forma a reduzir a velocidade da água e promover a infiltração, reduzindo a erosão e o arrastamento das cinzas;
  • Utilização de madeiras queimadas e troncos de árvores para construção de barreiras de retenção das cinzas, devidamente escoradas ao solo e perpendiculares ao maior declive;
  • Construção de prezas ao longo das linhas de água para retenção de resíduos.

 

Para a concretização destas medidas em tempo útil, as autarquias e organizações locais podem dar um contributo essencial, mobilizando meios. O eventual envolvimento de cooperativas e associações de agricultores poderia aumentar bastante os recursos necessários à sua concretização.

 

Na sequência das medidas anteriores, que atenuam os riscos iniciais, é necessário nos meses seguintes:

  • Evitar a circulação de equipamentos pesados fora das estradas e trilhos apropriados para tal;
  • Cortar árvores em deterioração, manter e reforçar as barreiras de retenção de cinzas e detritos anteriormente construídas;
  • Aplicação de resíduos orgânicos sobre o solo, reutilizando madeiras ardidas localmente e reduzindo a erosão;
  • O material ardido e coletado se devidamente destroçado pode ser utilizado para realização de coberturas orgânicas nas linhas de plantação, no momento da reflorestação, evitando a utilização de herbicidas;
  • Durante a primavera será necessário controlar o crescimento da vegetação e em especial das espécies invasoras que surgem depois do fogo e que são indesejáveis;

 

Para melhor determinar as medidas a aplicar e garantir a sua coordenação, mas também para garantir aprendizagens futuras, o Bloco propõe no seu Projeto Resolução a instalação imediata de um Laboratório in-loco para medidas de recuperação pós-fogo com a possibilidade de visita de populações, técnicos municipais, sapadores e outros atores com intervenção na floresta.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro agrónomo
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