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O novo governo peruano durou quatro dias

Contestado à esquerda por representar uma viragem à direita, acabou por se descobrir que o novo primeiro-ministro era uma personagem ainda mais duvidosa do que o seu errático percurso político demonstrava. Héctor Valer está acusado de violência doméstica e de várias outras situações graves.
Castillo encontrou-se com Bolsonaro em Porto Velho na Rondônia, o que lhe valeu críticas à esquerda. Foto de Alan Santos/Agência Brasil.
Castillo encontrou-se com Bolsonaro em Porto Velho na Rondônia, o que lhe valeu críticas à esquerda. Foto de Alan Santos/Agência Brasil.

O presidente do Peru acabou por demitir o novo governo do país apenas quatro dias depois de lhe ter dado posse. Pedro Castillo tinha nomeado Héctor Valer como primeiro-ministro mas este não resistiu à onda de indignação gerada depois de se ter descoberto que tinha sido, em 2016, acusado na polícia de violência doméstica contra a sua filha e ex-mulher.

Contra o ex-chefe do executivo estão pendentes ainda várias outras acusações de agressão, nomeadamente da psicóloga de um banco em que trabalhou, durante a realização de um teste, e de um segurança do prédio onde morara que, aliás, abandonou deixando para trás por pagar uma dívida de vários meses de renda. Já se sabia quando foi nomeado que tinha dívidas fiscais milionárias de uma empresa sua mas ficou-se a saber igualmente que está a ser investigado por conluio no âmbito de um negócio municipal.

Desde logo, a nomeação de Valer tinha sido problemática politicamente. À direita estava longe de acalmar os pedidos de destituição e a oposição feroz protagonizada pelo fujimorismo. Ao passo que à esquerda tinha sido rejeitada por representar uma viragem à direita. Valer, advogado e empresário, ligado à Opus Dei, fez campanha contra o agora presidente antes de ter mudado de lado. Para além de ter tido vários partidos ao longo do tempo. No parlamento, no breve período desta legislatura, começou por ocupar a bancada do partido de extrema-direita, pelo qual foi eleito, para depois passar para outra bancada parlamentar do centro-direita e acabar por se juntar a dissidentes do Peru Livre, o partido que apoiara Castillo.

A queda do primeiro-ministro implica a queda automática de todo o executivo. Mas a questão agora, para além de saber quem o presidente nomeia e se esta nomeação confirma a sua viragem à direita, simbolizada esta semana também pelo encontro amistoso com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, é também se o resto do elenco ministerial é para manter. O escândalo relacionado com o novo governo não se limitava à figura de Valer. O jornal argentino Página 12 recenseia a lista de acusações que pendem sobre os ex-ministros e que revelam uma cultura de violência contra as mulheres. Os ministros dos Transportes e da Defesa também enfrentam acusações de violência doméstica: o primeiro, criticado por ser defensor das “máfias do transporte público informal”, terá agredido a sua ex-companheira; o segundo é acusado pela sua mulher de violência psicológica. A ministra da Mulher e para as Populações Vulneráveis não tem acusações deste tipo sobre si mas é polémica por ser uma “recalcitrante opositora à igualdade de género e homofóbica”. Sobre o ministro do Interior pende uma acusação de narcotráfico e de abuso de autoridade quando era polícia. E o ministro da Cultura fez publicações “racistas, xenófobas e contra a esquerda” nas suas redes sociais no “passado recente”.

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