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“O investimento predatório não deixa riqueza nem cria empregos”

O primeiro Encontro do Alentejo Litoral do Bloco de Esquerda, que se realizou este domingo, serviu para que fossem discutidas as questões ambientais, a agricultura intensiva, o transporte ferroviário e os direitos laborais.

Este domingo, em Santiago do Cacém, Catarina Martins destacou “as questões ambientais e o seu impacto na transformação da paisagem, dos solos e na utilização da água.” A coordenadora do Bloco alertou para os riscos do “investimento predatório, que não deixa riqueza nem cria empregos” e criticou “a falta de investimento público na região, nos domínios da saúde, transportes e mobilidade.”

“É tempo de agir já e de exigir respostas”, afirmou Catarina Martins, ao recordar o sucesso da mobilização popular contra os furos de prospecção de petróleo em Aljezur.

O Encontro do Alentejo Litoral surge num “momento oportuno, na preparação do programa do Bloco de Esquerda para as próximas eleições”, acrescentou Catarina Martins. Ao referir-se aos direitos laborais, a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda anunciou que “o Bloco de Esquerda vai defender, já em Janeiro de 2020, o aumento do ordenado mínimo nacional para o valor do ordenado mínimo na Função Pública e este também deverá subir.”

Os restantes intervenientes dos painéis do Encontro do Alentejo Litoral debateram as monoculturas, o olival intensivo, o amendoal, o eucalipto e o cultivo em estufas.

Ricardo Vicente, engenheiro agrónomo, defendeu a definição de zonas de proteção e proibição, espaçamentos mínimos entre unidades e áreas máximas em continuidade, a implementação de infraestruturas ecológicas para enquadramento paisagístico, a proteção de linhas de água e a promoção da biodiversidade funcional. “Não podemos permitir que o eucalipto tenha a expressão territorial que tem hoje”, afirmou

“É preciso agir rapidamente. Estamos cercados de plástico por todo o lado”, afirmou Pedro Gonçalves, deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Odemira, alertando para o facto de que, apesar de apenas um terço do perímetro de rega do Mira estar ocupado com estufas, “o território já não tem capacidade para os muitos trabalhadores que os industriais do plástico querem lá meter em ghettos”.

Para Danilo Moreira, sindicalista e ativista ambiental, “há que repensar o trabalho e como nos organizávamos antes, para dar ocupações aos que trabalham em fábricas e instalações poluentes que têm de ser encerradas, como a central termoeléctrica de Sines.”

A jurista Marcela Candeias exemplificou o pesadelo ambiental vivido pelos habitantes de Fortes (concelho de Ferreira do Alentejo), afetados pelas emanações poluentes de uma fábrica de transformação de bagaço de azeitona situada a 300 metros da aldeia.

Nos transportes e na mobilidade, Carlos Gaivoto (engenheiro mestre em transportes) e Manuel Margarido Tão (doutorado em economia de transportes) saíram em defesa do transporte ferroviário, apelando à urgência da recuperação da Linha do Alentejo, numa óptica de segunda radial nas ligações entre Lisboa e o Algarve, passando pelo aeroporto de Beja. “É o único investimento que o pode tornar competitivo”, sublinhou Manuel Tão. O mesmo investigador defendeu a importância das ligações ferroviárias do Porto de Sines a Madrid. No entanto, Assunção Duque, do núcleo do Bloco em Sines, alertou para as consequências da expansão do terminal portuário, entre as quais, “o fim da praia de S. Torpes, tão apreciada por surfistas e famílias”, em paralelo com o anunciado encerramento da central termoeléctrica de Sines, uma das mais poluentes do país.

Bruno Candeias, membro da concelhia do Bloco de Esquerda em Santiago do Cacém, elegeu três bandeiras para esta campanha: “na agricultura, é urgente parar com as monoculturas e o trabalho precário; nos transportes, é necessário reactivar a linha Sines-Ermidas para o transporte de passageiros e a ligação da Funcheira para Beja; na indústria e no desenvolvimento portuário, há alternativas e é possível fazer a transição, que deve começar pelas energias renováveis”.

A abertura dos trabalhos esteve a cargo de Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda por Setúbal.

O segundo Encontro do Alentejo Litoral irá realizar-se em 2020.

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