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“O espaço Schengen é por onde vai começar a romper a Europa”

O historiador e fundador do Bloco é entrevistado na edição desta segunda-feira do i sobre o atual estado da Europa e dos principais conflitos mundiais. Fernando Rosas assume que “o futuro da Europa não é risonho” e que a resposta à crise dos refugiados podem bem ditar o fim do processo de construção europeia.
“Veja o que se está a passar na Grécia. O país recebe dezenas de milhares de refugiados por dia. Dada a sua situação geográfica, é uma das portas de entrada dos refugiados na Europa. Devido à política da troika, a Grécia está mergulhada numa profunda crise económica e social, absolutamente esmagadora e imposta pelo exterior. E a UE não quer prestar nenhuma ajuda à Grécia para lidar com a situação dos refugiados”, resume o historiador, concluindo que “esta política vai acabar com o espaço Schengen e a liberdade de circulação, e estas políticas dominantes vão acabar com a União Europeia, sobre isto não tenho dúvidas nenhumas”.
Para o historiador, “a política neoliberal, designadamente em matéria de refugiados (…), tem uma política fortissimamente racista, e no plano interno, dividindo os países como Estados com uma economia de primeira e de segunda, vai ter fortíssimas consequências: por um lado, tornar o espaço Schengen totalmente irrealizável”.
“Que há problemas? Tem de haver, são um milhão de pessoas. Se há choques culturais? O que é preciso é tentar democraticamente geri-lo, integrando essas pessoas, e sobretudo contribuir para a paz e resolver os problemas nos países de origem”, defende Fernando Rosas, lembrando que a ação das potências mundiais na Síria e na Líbia só contribuíram para agravar o problema.
“O espaço Schengen é por onde vai começar a romper a Europa. Os países a fecharem as suas fronteiras para não acolherem refugiados vão acabando com as políticas de mobilidade. O espaço Schengen, hoje, na Europa central e de leste, é uma ficção”, regista Fernando Rosas, enunciando em seguida alguns sinais que fazem lembrar os tempos do nazismo, como a identificação externa dos refugiados.
“Que há problemas? Tem de haver, são um milhão de pessoas. Se há choques culturais? O que é preciso é tentar democraticamente geri-lo, integrando essas pessoas, e sobretudo contribuir para a paz e resolver os problemas nos países de origem”, defende Fernando Rosas, lembrando que a ação das potências mundiais na Síria e na Líbia só contribuíram para agravar o problema.
Quanto à possibilidade de alterar a relação de forças no quadro institucional da UE, Rosas é mais cauteloso: “Talvez sim, talvez não”. “Há uma coisa que me mete muita impressão: mesmo com este governo do PS, não estou a ver ninguém nem coligações de governos interessados em tentar ganhar a Europa para outro tipo de regras, mesmo que fossem moderadamente aceitáveis. A Itália tem problemas, a Grécia tem problemas, a França tem problemas, a Espanha tem problemas, Portugal tem problemas, eu continuo a perguntar porque é que os governos que tentam resolver os problemas, independentemente das suas orientações específicas, não se entendem para fazer uma frente comum de países do Sul, no sentido de alterar algumas regras que foram criadas exclusivamente para perpetuar a dependência dos países periféricos. Acho que o futuro da Europa não é risonho”, conclui.
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Era uma vez a Europa
A Europa sempre foi a vergonha do mundo e continua a ser! Não sei bem porquê, mas talvez seja por ser uma das partes do mundo que esteve sempre dividida, mesmo agora, como União Europeia, uma falsa bandeira e uma fraude em todos os níveis.
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