O embuste de Marrocos no processo de Gdeim Izik

27 de March 2017 - 9:16

Ao longo das últimas semanas, vários foram os episódios que marcaram fortemente a vida dos Saharauis. Um deles foi o início do julgamento dos 24 presos políticos do grupo de Gdeim Izik, na cidade de Rabat, em Marrocos. Por Né Eme.

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Marrocos continua a tentar perpetuar a sua ilegal ocupação do Sahara Ocidental e a exploração dos seus recursos naturais
Marrocos continua a tentar perpetuar a sua ilegal ocupação do Sahara Ocidental e a exploração dos seus recursos naturais

Todos os observadores internacionais presentes neste “embuste” judicial foram unânimes em afirmar a sua preocupação perante o julgamento a decorrer no Tribunal da Relação de Salé em Marrocos – contra os 24 presos políticos Saharauis: “é um julgamento injusto e sem provas incriminatórias fidedignas” e condenam “o uso de provas obtidas sob tortura.”

Este julgamento baseia-se, simplesmente em divergências políticas. Se por um lado e com toda a legitimidade os Saharauis querem a sua independência e autodeterminação por outro Marrocos continua a tentar perpetuar a sua ilegal ocupação do Sahara Ocidental e a exploração dos seus recursos naturais, enquanto engorda os seus cofres, nem que para isso viole o direito internacional (artigos 6 e 67 da 4ª Convenção de Genebra no que diz respeito à protecção de civis em tempo de guerra, datado de 12 de agosto de 1949 (http://www.gddc.pt/direitos- ), os direitos humanos e, pior ainda, a vida e integridade de todo o povo do Sahara Ocidental.

Todos os 24 arguidos foram detidos nos territórios ocupados do Sahara Ocidental. Todos eles foram transferidos para fora deste território, levados para prisões situadas no país ocupante – Marrocos - a centenas de quilómetros da sua terra natal.

Todos eles são civis presos por forças militares da potência ocupante.

Todos eles foram alvo de tortura física e psicológica.

Detidos em celas sem o mínimo de condições básicas de higiene.

Não lhes é facultado o acesso à assistência médica.

Afinal, tudo lhes é negado.

Nada que nos espante, mas tudo é tudo o que vai contra as convenções que Marrocos assina, provavelmente sem ler. Apenas porque sim, porque é bom para a sua dita “democracia” de fachada. Apoiado por França, suportado por Espanha e encoberto pela dúbia névoa que o seu dinheiro compra em sujas transações com países aliados que cobardemente só mostram uma das suas duas faces.

O que foi Gdeim Izik

Gdeim Izik foi um acampamento de protesto/resistência Saharaui, em Outubro de 2010 composto por 7 mil Jaimas (tendas) e cerca de 20.000 Saharauis nos arredores da capital do Sahara Ocidental, El Aaiun para exigir tudo o que lhes é negado (direitos económicos e sociais) desde a invasão de Marrocos em 1975 aquando da retirada e abandono de Espanha. Foi algo surpreendente, erigido passo a passo de forma pacífica, organizada e estruturada.

Em 8 de Novembro de 2010 Marrocos provido de toda a sua crueldade, ataca o acampamento desmantelando-o à força.

Li uma vez uma publicação, onde sobressaia uma frase de Abderrahmen Zeyú que foi libertado, embora sem perceber porquê, uma vez que era acusado dos mesmos “delitos” que os seus companheiros, onde dizia: “Não pediremos perdão ou benevolência, nem mesmo amnistia porque não somos criminosos, ainda que saibamos que Marrocos não é justo nem nos tribunais e julgamentos nem nas sentenças”. Esta frase reflete, do meu ponto de vista toda a realidade deste povo que sabe, estar apenas a exigir o que lhe é devido. De um povo que agiu consciente da sua lealdade para com a sua pátria, e que acima de tudo se manifesta pacificamente com dignidade e determinação.


Ao longo dos dias em que se realizaram audiências, Marrocos utilizou os média, para manobrar a opinião pública

Ao longo dos dias em que se realizaram audiências, Marrocos utilizou os média, para manobrar a opinião pública. Nada que espante pois também é uma habitual prática sua. Subornou civis marroquinos para que se manifestassem em frente ao tribunal a favor da “marroquinização” do Sahara Ocidental, cortou o acesso à internet na zona onde se situa o tribunal, impedindo as comunicações e o envio de notícias, foram colocados altifalantes nas imediações do tribunal, que ruidosamente “cantavam” músicas numa desesperada tentativa de não deixar ouvir a voz dos Saharauis que gritavam vários slogans de onde destaco: “Não há outra solução senão o Estado Saharaui Livre e Independente” - é justo!".

A EquipeMedia fez uma publicação, em jeito de resumo deste “evento” e passo a citar uma parte que, como eles dizem, não fora a gravidade da situação o caso dava uma comédia. Mas infelizmente a seriedade marroquina é a sentença real e o resto uma miragem:

“Hoje (Março de 2017) na bela cidade de Salé (Rabat, Marrocos) ex-refúgio para piratas e corsários, segue-se mais uma luta soterrada pelas autoridades marroquinas já que é sua intenção uma vez mais, distorcer o processo e revesti-lo de justiça, e esse é o trabalho dos piratas do século XXI socorrendo-se de todas as mais sujas artimanhas. E nesta matéria senhores leitores, asseguramo-vos de que eles percebem muito”. E isso não é tudo porque eles decidiram juntar aqui a mais alta sociedade, a "elite" dos "notáveis" Saharauis e outros "iluminados" de El Aaiun ocupado, abrigando-os em hotéis e levando-os depois para o tribunal, com a intenção de mostrar como estes Saharauis (vendidos à melhor oferta) rejeitam os condenados numa tentativa de mostrar uma unidade completa da "sociedade marroquina" contra os réus. Mas amigos leitores da Equipe Media, se pensavam que a imaginação dos serviços secretos marroquinos acabava aqui, nós mesmos nos surpreendemos pela criatividade dos serviços secretos, e se não fosse a gravidade do que está a acontecer, seria até cómico, já que usam os imigrantes africanos na ânsia de unir mais e mais grupos na sua cruzada contra os heróis de Gdeim Izik e os seus apoiantes.”

És Africano? Ainda não legalizaste a tua situação em Marrocos? Não te preocupe nós temos a solução. Mostra-nos o amor que sentes por Marrocos e pelo seu rei, e nós ajudamos-te a obter documentos. E como faço eu isso? Tranquilo, vai para as imediações do tribunal de Salé (Rabat, Marrocos) e junta-te aos ali presentes que erguem imagens do Rei e grita: viva o Rei! Viva Marrocos! Fora os Saharauis! E tranquilo, logo irás receber a tua recompensa. No próximo dia 20 quando o processo retomar os ataques continuam, disseram eles aos PIRATAS do século XXI.”

Na realidade quem deveria estar sentado na cadeira do réu, deveria ser Marrocos e todo o seu séquito de apoiantes corruptos e facínoras.


Nota: Entretanto e porque a Equipe Media está a fazer toda a cobertura mediática das sessões, e as vai publicando foi alvo de censura por parte do Facebook.

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