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O Bloco desde a fundação foi claro “contra todos os imperialismos”

No jantar de aniversário do Bloco, Catarina Martins saudou a decisão do TPI sobre Putin, mas disse que não se deve “recuar um milímetro na exigência de julgamentos de todos os crimes de todas as guerras”.
Jantar de aniversário do Bloco em Braga. Foto de HUGO DELGADO/LUSA.
Jantar de aniversário do Bloco em Braga. Foto de HUGO DELGADO/LUSA.

No jantar de aniversário do Bloco de Esquerda, na noite desta sexta-feira, em Braga, Catarina Martins começou precisamente por recordar a efeméride da “esquerda que se encontra”, “que aprende” e luta “pelas mudanças que contam no tempo no tempo das nossas vidas”.

A evocação serviu para lembrar que no seu manifesto fundador, o “Começar de Novo”, o Bloco era já “muito claro no seu combate a todo o tipo de imperialismos”. E porque “não se escolhe entre imperialismos”, o partido empenhou-se desde então em lutar “contra todos” os imperialismos e em estar “sempre do lado da auto-determinação dos povos, dos direitos humanos em qualquer sítio do planeta”.

A partir deste mote, a coordenadora do Bloco saudou a “decisão inédita do Tribunal Penal Internacional de emitir um mandato de captura contra Vladimir Putin pelos crimes de guerra na Ucrânia”, aos quais “não podemos fechar os olhos”. Mas acrescentou duas notas importantes: “que é bom que a decisão do TPI não atrase o julgamento de todos os crimes de guerra na Ucrânia” e que a decisão de “ir atrás de um país que não é subscritor do TPI se estenda também a outras guerras e a outros crimes”. E aqui lembrou ainda “quantas vezes os Estados Unidos da América não foram penalizados pelos crimes de guerra”. Portanto, ao mesmo que saudou a decisão do TPI, afirmou que que não se deve “recuar um milímetro na nossa exigência de julgamentos de todos os crimes de todas as guerras”.

O Governo “deixa os problemas acumularem-se”

Nesta noite, lembrou também a “justa greve da Função Pública” contra “a maioria absoluta incompetente” de um PS “que todos os dias diz que está tudo bem... mas deixa os problemas acumularem-se e nunca resolve absolutamente nada”.

“Há bem pouco tempo”, o executivo dizia sobre a inflação “primeiro que era transitória, por isso o melhor era não fazer nada”, depois já não era transitória “mas também não se podia aumentar os salários porque isso é que criava a inflação”. “O que é extraordinário porque os salários não aumentaram e a inflação galopa”, comentou a coordenadora bloquista.

Mais tarde, anunciou um acordo de rendimentos “que ia ser uma maravilha”. Só que “estamos em março e já todas as promessas do Governo ruíram, já toda a gente sabe que não tem mais salário, que tem menos, que os preços continuam a aumentar”.

“Quem vive do seu salário, da sua pensão e não sabe como vai pagar as contas não pode perdoar ao Governo querer jogar com as nossas vidas, ou pensar que o povo é tonto e não percebe o que está a acontecer”. E o que acontece é que “os lucros dos grandes grupos económicos não param de aumentar, os dividendos dos acionistas não diminuem, anunciam-se recordes, diminuir só mesmo os salários e pensões”.

Por isso, diz “há um país que sai às ruas, que exige mais, exige sensatez, respeito por quem trabalha”. É uma “força que vai crescendo no nosso país” e que “só ela pode trazer futuro à nossa economia”. O “processo que estamos a viver, e a que chamam inflação”, explicou, “é na verdade um duplo assalto ao país: assalto ao salário de quem trabalha porque está a pagar o que não deve por aquilo que precisa e assalto ao país porque tira de cá o dinheiro, a riqueza que é produzida por quem trabalha que vai para um qualquer offshore e não pagará a escola, a justiça, o hospital, o centro de saúde, aquilo que é fundamental à nossa democracia e que é a razão pela qual trabalhamos e pagamos impostos”. Daí, concluiu ser “importante manter a mobilização nesta exigência radical de uma economia sensata que proteja o país e respeite quem trabalha”.

Macron e os ataques autoritários contra o trabalho não podem passar em lado nenhum

E porque este combate “não é só em Portugal”, Catarina Martins voltou a trazer à baila a dimensão internacionalista do partido, virando o olhar para “as marés de greves no Reino Unido e as lutas fortes que vemos por toda a Europa a levantar-se por essa exigência radical de sensatez nas economias e respeito por quem trabalha”.

Mas dedicou especial atenção a França onde “tem havido mobilizações extraordinárias de milhões de pessoas contra as propostas de Macron”. Este “decidiu usar um artigo de uma lei para poder aumentar a idade da reforma sem passar pelo Parlamento”, o que classificou como “uma medida excecional, autoritária, digna de ditaduras”. “É isto o neoliberalismo europeu: passar por cima da democracia para assaltar as pensões e os salários de quem trabalha”, enfatizou.

A porta-voz bloquista deu nota igualmente de que transmitiu a solidariedade do partido a Jean-Luc Mélenchon e a todos os que lutam nas ruas de França na certeza “que estamos lado a lado num combate comum pela dignidade de quem trabalha” e que este “respondeu que estão cientes da responsabilidade que têm e sabem que neste momento em França se joga não só a idade da reforma dos trabalhadores franceses mas a ideia da própria democracia e respeito pela organização dos trabalhadores em toda a Europa”.

Para o Bloco, “Macron e os ataques autoritários contra o trabalho não podem passar em lado nenhum”. Ocasião para sublinhar que “as tentações autoritárias estão um pouco por todo o lado” e “também em ataques mais ou menos subtis que vão sendo feitos à direito à greve aqui mesmo em Portugal”.

A habitação é a luta de toda a gente

A finalizar a sua intervenção, Catarina Martins focou-se no problema da habitação face ao qual “estão todas as gerações à rasca”: “os mais novos que não conseguem encontrar uma casa, ter autonomia, mas está toda a gente. Por ser uma “luta de toda a gente”, apelou à manifestação de dia 1 de abril rua pelo direito à habitação porque este “não pode ser uma mentira e porque as mentiras que o governo tem contado não resolvem nenhum dos problemas da habitação”.

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