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“O acordo alcançado é extraordinariamente perigoso”

Naomi Klein denuncia as linhas vermelhas violadas pelo acordo e apela à participação nas mobilizações no sábado, pela justiça climática.
Fotografia dos protestos simbólicos em Paris no passado dia 29 de novembro na Praça da República, onde os sapatos substituíram as pessoas, que foram impedidas pelo governo francês de participar nas manifestações previstas. Foto de Duc/Flickr

Apesar de o governo francês ter banido os protestos durante a COP21 como consequência do estado de emergência decretado após os ataques terroristas de 13 de novembro, os ativistas do clima estão a planear um grande dia de manifestações em Paris. “Ocupando as ruas, estamos clara e inequivocamente a rejeitar a proibição oportunista e draconiana do governo de Hollande de qualquer marcha, protesto ou manifestação. Estamos a rejeitar as vergonhosas prisões preventivas dos ativistas do clima, as restrições sem precedentes na sociedade civil durante a COP, as restrições à liberdade de expressão e de movimento”, afirmou Naomi Klein na cimeira do clima das Nações Unidas.

Klein, autora do livro "This Changes Everything: Capitalism vs. The Climate." afirmou que o acordo que será atingido e divulgado em breve, que provavelmente ficará num aquecimento entre os 3 e os 4ºC, não é suficiente para garantir a nossa segurança e que, no fundo, será “extraordinariamente perigoso”. Na conferência de Copenhaga em 2009, of governos acordaram que um aquecimento de 2ºC seria o limite máximo tolerado, afirma a autora e ativista.

“Sabemos que o que o globo já aqueceu já é demasiado. Já estamos a viver na era do aquecimento perigoso. Já está a custar milhares de vidas e meios de subsistência, das Filipinas ao Bangladesh, da Nigéria a Nova Orleães ou às ilhas Marshall” afirmou Naomi Klein. “Estamos a descontar vidas” quando falamos no aquecimento perigoso como qualquer coisa de distante, acrescentou a ativista.

A violação de todas estas linhas vermelhas, que tinham sido estabelecidas antes da cimeira, é a razão pela qual a ativista apela à participação nos protestos no sábado, porque, segundo a autora, "é o nosso dever para com os que estão atualmente a sofrer e para com os que arriscam perder tanto se falharmos nesta corrida contra o tempo e pela justiça climática".

O acordo que será revelado no fim de semana vai “ultrapassar as linhas vermelhas científicas”, acusa Klein. Segundo a autora, não será respeitada a ideia de justiça climática, que defende a distribuição adequada de metas e responsabilidades, ou seja, que os países mais ricos, historicamente responsáveis pela maior parte das emissões de gases com efeito estufa e pela extração de recursos naturais dos países mais pobres (em África, na Ásia e na América do Sul), sejam os principais responsáveis pela redução das emissões. As linhas vermelhas legais também não serão cumpridas, porque “os Estados Unidos vieram para estas negociações anunciando que o acordo não poderia ser juridicamente vinculativo. Qualquer discussão sobre multas estava fora da mesa antes das negociações começarem”, disse Naomi Klein.

A violação de todas estas linhas vermelhas, que tinham sido estabelecidas antes da cimeira, é a razão pela qual a ativista apela à participação nos protestos no sábado, porque, segundo a autora, "é o nosso dever para com os que estão atualmente a sofrer e para com os que arriscam perder tanto se falharmos nesta corrida contra o tempo e pela justiça climática". Naomi Klein apela em especial à participação dos sindicatos e dos trabalhadores de Paris pois "o direito à reunião, o direito à dissidência, é central em todos os nossos movimentos e em todas as nossas vitórias, passadas e futuras, parce que "la liberté" n’est pas qu’un mot. C’est un devoir qu’on doit defendre ensemble, et la solidarité aussi" [em francês no original: "porque "a liberdade" não é apenas uma palavra. É um dever que temos de defender juntos, assim como a solidariedade"].

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