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“Numa UE em desagregação precisamos da confiança de quem quer mudar o futuro”

Na sessão internacionalista, que teve lugar na noite desta sexta-feira e antecede a X Convenção do Bloco de Esquerda, intervieram Luís Fazenda, que deu as boas-vindas, Sylvia Gabelmann, do movimento Blockupy, Éric Toussaint, do Comité pela Anulação da Dívida do terceiro Mundo e participante das Conferências por um Plano B para a Europa, Zoe Konstantopoulou, ex-presidente do parlamento grego e também participante das Conferências por um Plano B para a Europa, a eurodeputada Marisa Matias, Arthur Moreau, participante do movimento Nuit Debout, e Catarina Martins.
“A responsabilidade da esquerda recusar falsas escolhas e lutar por um projeto novo”
“O que se passou a noite passada não foi uma ilha de xenófobos e de antipatia a saírem de uma união de acolhimento e de simpatia”, salientou a porta-voz do Bloco sobre o Brexit, lembrando que “a crise dos refugiados, os muros que se erguem, o vergonhoso acordo com a Turquia, a selva de Calais” são políticas da União Europeia (UE). “Os dirigentes europeus que hoje aparecem chocados com os britânicos querem iludir o mal que têm feito a toda a UE”, destacou.
A deputada avisou que “nos próximos meses, o maior risco é o da aceleração da desagregação da democracia”, recordando que a UE tem sempre respondido assim às crise: “está a correr mal? Avança mais um passo para substituir a democracia pela centralização dos poderes. Os europeus não gostam? Avança mais um passo para calar os europeus”.
“Numa União Europeia em desagregação nada pior do que a resignação ou o medo. Precisamos do sorriso e da confiança de quem quer mudar o futuro, em Espanha, em Portugal, em França, na Escócia, em Inglaterra, em toda a Europa”, frisou a porta-voz do Bloco de Esquerda.
Em conclusão, Catarina Martins sublinhou que “a responsabilidade da esquerda”, em cada país e na Europa, é “recusar falsas escolhas e lutar por um projeto novo”. “A Europa que vale a pena já só existe no futuro e defende-se hoje nas lutas pela soberania popular”, realçou.
“O movimento social não pode adormecer se as condições institucionais são melhores”
No início da sessão internacionalista, Luís Fazenda deu as boas-vindas, em nome da comissão internacional do Bloco, realçou que esta sessão desta vez privilegiou a presença de movimentos em vez de partidos, sublinhando que os movimentos sociais proliferam na Europa e ouvi-los é vital. Salientou ainda a necessidade de alianças, com movimentos e partidos, com o objetivo de alterar a relação de forças, reforçando a esquerda.
Sylvia Gabelmann, do movimento Blockupy, explicou que o seu movimento é uma rede de ativismos com presença em vários países e que apoia os movimentos que lutam pela solidariedade, contra as políticas austeritárias e contra a direita. Lembremos que o movimento se destacou nas grandes manifestações em Frankfurt, no combate ao austeritarismo e à políticas do BCE.
Éric Toussaint, do Comité pela Anulação da Dívida do terceiro Mundo e participante das Conferências por um Plano B para a Europa, defendeu que é preciso um plano B alternativo às políticas da UE e da direita e às imposições da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu.
Toussaint criticou a “capitulação do governo de Tsipras”, apontando que o primeiro erro do governo do Syriza “foi assinar o acordo de 20 de fevereiro [de 2015]” e defendeu que a Grécia devia ter suspendido o pagamento da dívida externa.
Toussaint considerou que o Brexit “é a maior crise da UE desde a sua criação”, “uma derrota da CE e das classes dominantes europeias”, realçou que “a UE era o quarto de onde não se podia sair, agora o quadro mudou”. A finalizar, afirmou que “agora, pode haver alternativa de esquerda a favor de uma integração dos povos, a favor dos povos” e que “esta [a atual] integração europeia é uma integração contra os povos”.
A ex-presidente do parlamento grego, Zoe Konstantopoulou, afirmou o seu “orgulho” para com o povo grego e para com todos os povos que lutam pelos seus direitos, acusou a CE e o BCE de usarem “extorsão contra o povo grego”, criticou Tsipras pela capitulação face à UE e acusou-o de ter dissolvido o parlamento grego, “em acordo com os credores”. Zoe denunciou ainda as políticas de austeridade de que o povo grego está a ser vítima, nomeadamente a precariedade do trabalho e as privatizações ao desbarato da propriedade pública.
Marisa Matias afirmou que a Europa vive “uma desagregação” e criticou as políticas que têm dominado os partidos socialistas na Europa, nomeadamente a “passividade, desorientação ou convicção liberal agressiva, que é o que se passa com o governo francês”.
A eurodeputada salientou o papel dos movimentos sociais, destacando que “o movimento social não pode adormecer só porque as condições institucionais são melhores”, realçando a propósito o “caso da luta dos estivadores do porto de Lisboa”. “A vitória da luta e a vitória de ter uma vitória”, afirmou a eurodeputada, sublinhando que “os estivadores mostraram que a luta vale a pena”.
“É decisivo que a esquerda não se limite ao espaço institucional”, realçou Marisa, referindo que “precisamos de derrotar o medo”, denunciando “o acordo vergonhoso que as instituições europeias assinaram com a Turquia” e defendendo que “a força da esperança precisa de partidos, mas também de movimentos”.
Por fim, interveio Arthur Moreau, participante do movimento Nuit Debout, que salientou a importância do movimento que se desencadeou em França e os debates que o atravessam.
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