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Nova lista de alvos do "Watergate grego" aumenta pressão sobre Mitsotakis

O semanário grego Documento publicou no sábado mais um capítulo do escândalo das escutas ilegais na Grécia, feitas pelo Serviço Nacional de Informações (EYP) através do software espião Predator. A lista inclui potenciais rivais de Kyriakos Mitsotakis no interior da Nova Democracia, o antigo líder do partido e primeiro-ministro Antonis Samaras, alguns atuais membros do governo e o magnata armador Vangelis Marinakis, que também é dono dos clubes de futebol Olympiakos e do ingês Nottingham Forest.
O escândalo já conhecido como "Watergate grego" rebentou no verão, quando se soube que o jornalista da CNN Grécia que investigava escândalos financeiros do Governo, Thanasis Koukakis, sido alvo do software espião que permite gravar todas as conversas, mensagens e aceder ao conteúdo do telemóvel. E adensou-se quando o líder do Partido Socialista e eurodeputado Nikos Androulakis apresentou queixa por ter sido também espiado pelo EYP. Ao todo serão pelo menos 30 políticos, jornalistas e empresários na lista de alvos de escutas, contou este domingo fonte judicial à Agência France Presse. O Supremo Tribunal ordenou uma investigação ao caso e o diretor do Documento afirmou que iria prestar depoimento esta segunda-feira.
O líder do governo tentou abafar o escândalo com a demissão do chefe do EYP, Panagiotis Kontoleon, e de Grigoris Dimitriadis, o sobrinho de Mitsotakis que ocupava o cargo de coordenação do gabinete do primeiro-ministro, culpando-os por "falhas operacionais". A comissão parlamentar de inquérito exigida pela oposição cedo viu o seu caminho barrado pela maioria conservadora, impedindo-a de ouvir testemunhas-chave, como os responsáveis pelo serviço de informações e os jornalistas visados, além do próprio Mitsotakis, e impondo um regime de sigilo aos seus trabalhos.
Agora, o Governo insiste que nada tem a ver com as escutas ilegais e que irá apresentar uma proposta ao Parlamento para proibir a venda de spyware como o Predator, que está no centro do escândalo.
Na passada sexta-feira, a comissão do Parlamento Europeu que investiga casos de escutas ilegais na Grécia e noutros países da UE apelou a uma investigação eficaz deste caso. "Não estou a ver uma busca vigorosa por culpados, lamentou a eurodeputada neerlandesa Sophie in 't Veld no final de uma visita de dois dias a Atenas, por entre apelos a que a questão seja esclarecida a tempo das eleições legislativas gregas marcadas para o próximo ano.
A eurodeputada belga Saskia Bricmont, dos Verdes, foi mais incisiva ao declarar nas redes sociais que "o paranóico primeiro-ministro grego é acusado de pôr sob vigilância as pessoas que suspeita serem contra ele, incluindo o seu círculo próximo. Isso explica a razão pela qual Mitsotakis não compareceu aos comités de inquérito nacional e europeu". E acrescentou: "Em qualquer democracia a sério um primeiro-ministro demitir-se-ia e seriam convocadas eleições antecipadas após um scândalo destes: 33 alvos de escutas pelo EYP, um serviço secreto sob responsabilidade direta do PM. O argumento da segurança nacional já não pode ser invocado".
O líder da oposição, Alexis Tsipras, apelou na sexta-feira a Mitsotakis que "pare de se esconder e dê respostas" sobre as escutas ilegais sobre membros da oposição, jornalistas e até os seus próprios ministros. Além da proibição da venda de spyware, o Syriza defende a substituição da liderança dos serviços secretos, que continua a invocar a "segurança nacional" para se recusar a dar explicações sobre o escândalo, e que as empresas proprietárias do Predator sejam obrigadas a divulgar o nome dos seus clientes no país. Quanto a uma eventual moção de censura, será uma hipótese a considerar quando tiver probabilidade de ser aprovada. O deputado do Syriza Stelios Kouloglou criticou ao Euractiv a postura complacente da Comissão Europeia e do Partido Popular Europeu face às ilegalidades de que é suspeito o primeiro-ministro grego. E afirma que Mitsotakis está a tentar agarrar-se ao poder por todos os meios, dado que se o perder "terá de enfrentar as consequências criminais do para-Estado que montou".
Para a Human Rights Watch, "este escãndalo de vigilência faz parte de um padrão de o Governo grego restringir a liberdade de imprensa, o que tem impacto sobre o estado de direito. Em 2022, a Grécia caiu 38 posições no index de liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras, tornando-o no último entre os países da UE". Além disso, prossegue a ONG, há preocupação acerca do "ambiente cada vez mais hostil para a sociedade civil no país".
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