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Nito Alves: "Ou libertam os jovens que estão presos ou prendem todos os ativistas"

Em entrevista à DW África, Nito Alves criticou o regime "ditatorial" de José Eduardo dos Santos e as "fraudes" eleitorais que se preparam para dar vitória ao MPLA.
Manuel Chivonde Baptista Nito Alves, mais conhecido por "Nito Alves”
Manuel Chivonde Baptista Nito Alves, mais conhecido por "Nito Alves”

Em entrevista à DW África, o ativista angolano Nito Alves considerou as próximas eleições gerais no seu país um simulacro eleitoral, porque haverá fraudes para dar vitória ao MPLA.

Manuel Nito Alves, do grupo dos 17 ativistas condenados por atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores, qualifica como “um simulacro” as eleições em Angola. Critica o regime de José Eduardo dos Santos, que prendeu e condenou sete jovens por terem exigido que o ato eleitoral de Agosto próximo seja livre e transparente. O ativista cívico angolano pede a libertação imediata dos restantes ativistas e lamenta o silêncio dos partidos da oposição, da sociedade civil e de organizações não governamentais, bem como da imprensa nacional e internacional face a novas violações dos Direitos Humanos.

A recente detenção de sete jovens, membros da designada Comissão Nacional dos Ativistas Angolanos, condenados a 45 dias de prisão efetiva por terem exigido eleições livres e transparentes, faz parte da estratégia de intimidação perpetrada pelo regime no poder em Angola, no ano em que se realizam eleições no país, afirma Nito Alves.

“Considero que sim, prendendo e intimidando as pessoas para elas não protestarem enquanto decorrer o processo eleitoral. O regime pode estar mais feroz, praticamente a perseguir os activistas, os políticos, os cidadãos que pensam diferente. Ainda assim, digo também que as baterias estão carregadas e vamos até as últimas consequências políticas face ao regime de José Eduardo dos Santos e o seu MPLA. Ou libertam os jovens que estão presos ou prendem todos os activistas, a sociedade civil em geral e o povo angolano”, disse Nito Alves.

Características de um Estado ditatorial

Nito Alves considera que a detenção dos ativistas e a repressão da liberdade de expressão é uma das características de um Estado ditatorial.

“Por parte do partido no poder não espero absolutamente nada de bom. Só espero algo de ridículo e nojento – desculpe a expressão. Sendo um Estado autoritário e ditatorial, na pessoa do general Kopelipa, do general José Maria ou do Leopoldino ou de quem mandou matar os meus amigos Isaías Cassule e Alves Kamulingue, só um ingénuo pode acreditar na sensibilidade de Eduardo dos Santos para haver liberdade em Angola”.

Liberdade depende dos próprios angolanos

Nito Alves diz ainda que os ativistas têm plena consciência de que a liberdade em Angola “depende dos próprios angolanos”. Entretanto, o ex-preso político diz estar “abatido psicologicamente” devido ao silêncio à volta das novas detenções e violações dos direitos humanos no seu país.

“Não consigo compreender como é que se encontram presos sete jovens, que defendiam a liberdade e eleições justas e transparentes, e os partidos na oposição do meu país – falo da UNITA, CASA-CE, PRS, Bloco Democrático e outros ‘partidecos’ que estão na oposição – não dizem absolutamente nada. As organizações não-governamentais e alguns supostos grupos de pressão ao Governo não dizem absolutamente nada. A imprensa nacional e internacional, aquela que temos como independente, também não dizem absolutamente nada.”

Por outro lado, Nito Alves, que esteve várias semanas em Lisboa, pede a união efetiva de todos os partidos da oposição, a exemplo do que aconteceu no Senegal, como estratégia possível para derrubar e afastar José Eduardo dos Santos. No entanto, as próximas eleições, no seu entender, são um simulacro eleitoral, porque haverá fraudes para dar vitória ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que assim se manterá por mais tempo no poder. (DW)

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