You are here

Nita Clímaco: a proibição de “Falsos preconceitos”

A PIDE considerou que “dada a imoralidade que o livro revela”, “não é de molde a ser autorizada a sua circulação no País”, e isto apesar de a obra ser de tal forma reaccionária que, afinal, se colocaria ao serviço do que o regime apregoava. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Pouco se sabe hoje sobre Nita Clímaco – há poucas informações sobre a sua identidade e a sua vida (nos arquivos da PIDE da Torre do Tombo não consta uma ficha sua) e a sua obra literária não foi alvo de grandes estudos. Contudo, acredita-se que Nita Clímaco, pseudónimo de Maria da Conceição Clímaco Tomé, terá nascido na década de 20 do século XX. Jornalista e escritora, viveu em Paris, onde foi correspondente da revista “Eva”, e o tema da emigração marcou fortemente a sua produção literária.

A sua relação com a PIDE, no curto período da sua produção literária, é assinalável: a autora escreveu cinco romances (Falsos Preconceitos, 1964; Pigalle, 1965; O adolescente, 1966; A salto, 1967; A Francesa e Encontros, 1968), tendo os três primeiros sido censurados. Apenas um deles veio a conhecer uma segunda edição (Falsos Preconceitos, numa edição revista pela autora e publicada pela Galeria Panorama, em 1967, destinada ao Brasil) e nenhum pode ser encontrado à venda nem em editoras nem em pontos de revenda (todas as edições foram edições de autora). Todos os livros indicam Paris e Lisboa como locais de impressão, embora todos tenham sido impressos em Portugal.

Falsos preconceitos (1964)

Falsos Preconceitos foi o primeiro romance que Nita Clímaco escreveu e publicou. Obra encorajada por Manuel de Campos Pereira e Urbano Tavares Rodrigues, como a autora viria a referir na dedicatória do seu romance seguinte, Pigalle (1965), viria a esgotar a sua primeira edição nos dez dias que se seguiram à sua publicação. À época, Nita Clímaco era já conhecida do público português, em virtude de ser correspondente internacional, tendo enviado para Portugal crónicas e entrevistas durante vários anos.

A acção desta obra gira à volta de Mariana, uma jovem de 25 anos, empregada num hospital, que vive em Lisboa. Mariana conhece Monique há três anos, em Cascais, quando esta a convida para passar com ela uns tempos em Paris. A capital francesa é apresentada como um lugar de cultura e progresso e Mariana sonha com “Paris romântico, de lenda, de filmes” (p. 10). Assim sendo, aceita o convite que lhe é feito.

Perto da sua partida, contudo, inicia uma relação afectiva com Filipe, médico no hospital em que trabalha. Filipe, no decorrer da narrativa, irá simbolizar um “amor tranquilo” (p. 74), desprovido de artifícios ou promiscuidades. O médico, por sua vez, irá sentir-se ameaçado por Monique, que julga homossexual: “A sua amiga, vê logo, pelo seu ar e à-vontade, é daquelas a quem as outras raparigas, principalmente as raparigas engraçadas como você, interessam mais do que aquilo que seria normal esperar.” (p. 25). Pedindo-lhe Mariana provas, este afirma não tê-las. Mariana, assim, talha o seu retrato de Monique, encontrando-lhe um “ar de rapaz” e dizendo ter “a impressão [de] que Monique é apenas uma revoltada contra os convencionalismos sociais, contra o que ela chama falsos preconceitos” (p. 26).

Uma vez chegada a Paris, Mariana conhece, pela mão de Monique, “Saint-Germain-des-Prés, reino dos tesos, berço do existencialismo, país do inverosímil, onde as convenções foram abolidas e cada um faz o que quer” (p. 40), assim como José e Alain, dois rapazes homossexuais. Os dois começam a fazer insinuações sobre uma possível relação amorosa/erótica entre as duas mulheres, embora Mariana, no início, seja incapaz de entendê-las:

– Não exageraste a tua hospitalidade e não a cansaste muito?

Esta pergunta foi sublinhada por um sorriso enigmático, que Mariana não compreendeu. (p. 53)

Mariana começa a julgar aquilo que vê, pergunta-se que tipo de prazer pode encontrar-se numa vida de “aventura” e “imprevistos” ( p. 55), perguntando-se se será “um prazer de sentidos contrários, como se diz, às leis da natureza” (p. 55). Custa-lhe entender que “dois homens se procurem pelo simples prazer dos sentidos, pelo conforto sexual que um possa procurar no outro, como José deve procurar em Alain” e acredita que depressa José será um “velho repugnante, estigmatizado pelo vício, apontado a dedo e inferior à sua própria condição humana” (p. 56).

Posteriormente, Mariana acaba por conhecer Eric, um pintor amigo de Monique, por quem, pela sua simpatia, sente uma atracção imediata. Pouco depois, “Mariana, trânsida de medo, depois dum tímido pedido de Monique, aceitou que esta se deitasse na sua cama” (p. 65). A partir daí, as duas começam, no apartamento de Monique, a dormir na mesma cama e, para Mariana, a francesa começa a substituir a imagem de Filipe. Depois dos primeiros momentos, contudo, Mariana começa a pensar em Eric. Tendo-o idealizado, começa a sentir que são “incompletas as carícias que passivamente deixava a outra proporcionar-lhe” (p. 72). Para mais, pergunta-se se “aquela sofreguidão de sensações que Monique ainda lhe não fizera conhecer, mas apenas deixado adivinhar” seria amor, perguntando-se ainda se poderia amar uma “mulher de espírito e ao mesmo tempo de sentidos” (p. 74), concluindo pela impossibilidade. Quanto a Filipe, acredita ter por ele “um “amor tranquilo”, de “prancha de salvação”, um amor que se confunde com “o respeito, com a admiração, com a amizade” (p. 74). Posteriormente, Mariana envolve-se com Eric, que, por sua vez, “representava a concretização dos carinhos e das práticas incompletas em que Monique a tinha viciado e excitado, mas que apenas haviam servido para a enervar, para tornar maior a sua vontade de amar, de se iniciar nos verdadeiros carinhos, de se entregar por inteiro aos prazeres do amor, dum amor sem limites e sem sentidos proibidos.” (p. 111). Até então, Eric havia somente tido experiências homossexuais e Mariana queria impedir que Eric “voltasse às práticas de um amor anormal” (p. 112).

No final da obra, Mariana descobre que Eric fazia parte de uma organização clandestina que realizava e distribuía filmes pornográficos, tendo esta sido descoberta pela polícia e noticiada na comunicação social. Eric acaba preso e Mariana escandalizada. Comentando a história, Monique diz-lhe: “Talvez sejas tu que tenhas razão e que os teus preconceitos de portugueses, que me fizeram rir, sejam justos e verdadeiros” (p. 148). Mariana parte para Portugal no dia seguinte, desejando deixar para trás a sua experiência em França. Uma vez regressada, já no fim da narrativa, toma rapidamente uma dose de comprimidos sedativos e adormece, adivinhando-se que se terá aí suicidado.

Recepção/censura de Falsos Preconceitos

A obra, cujo mês de publicação não consta da ficha técnica, foi interdita por despacho no dia 7 de Agosto de 1964. O parecer da PIDE diz o seguinte, de acordo com Cândido de Azevedo1:

Trata-se das aventuras de uma portuguesa que é convidada por uma amiga francesa a passar uns meses em Paris.

Tanto essa amiga como aqueles que a rodeiam são homossexuais.

Dada a imoralidade que o livro revela, julgo que não é de molde a ser autorizada a sua circulação no País. (p. 113/114)2

Para além disto, no relatório concernente a O adolescente, a PIDE viria a considerar que esta obra, assim como Pigalle, se pautava por uma “extrema imoralidade” (Azevedo, 1997, p. 116). A proibição da PIDE, pela existência de relações homossexuais existentes na obra a que a própria se refere no parecer, seria previsível à partida. Afinal, o Estado Novo reprimia todas as manifestações de homossexualidade, considerando esta orientação sexual não só imoral mas também criminosa (viria a ser descriminalizada apenas em 1982). Assim, pelas descrições da obra, seria expectável que o regime tentasse escondê-la. A homossexualidade era um assunto tabu e nenhuma obra que a referisse, ainda que levemente, poderia passar pelo crivo da censura.

No entanto, e ainda que tenha uma relação homossexual a guiar a narrativa, o facto é que esta obra é profundamente conservadora e discriminatória, chegando a ser favorável ao que o Estado Novo apregoava. Ainda que, inicialmente, pareça querer opor a ideia de um Portugal socialmente tacanho, preso a uma moral católica, à de uma França moderna e aberta (fazendo-o, neste caso, através das considerações das próprias personagens em relação à sexualidade e à orientação sexual), acaba por condenar as relações homo-eróticas e por sugerir que Paris é um terreno de imoralidade, contrastando com Portugal. Para mais, a homossexualidade chega a ser perspectivada enquanto doença, na medida em que chega a falar-se de uma cura: “Tentei curar-me, mas nunca o consegui” (p. 107), diz Eric. Ao mesmo tempo, é vista como uma anormalidade pela protagonista, que quer impedir que Eric volte “às práticas de um amor anormal” (p. 112).

Para além disto, há uma clara diminuição qualitativa das relações homossexuais entre mulheres, sempre descritas como insuficientes: “[Eric] representava a concretização dos carinhos e das práticas incompletas em que Monique a tinha viciado e excitado, mas que apenas haviam servido para a enervar, para tornar maior a sua vontade de amar, de se iniciar nos verdadeiros carinhos, de se entregar por inteiro aos prazeres do amor, dum amor sem limites e sem sentidos proibidos.” (p. 111). Para além da relação homossexual ser encarada como proibida, é ainda considerada limitada e limitante: só as relações heterossexuais poderão ser de um “amor sem limites” e só com elas os amantes podem entregar-se “por inteiro aos prazeres do amor”. Esta ideia vai ainda de encontro à de uma ideologia patriarcal, pensando a sexualidade tendo os homens como referência. Neste caso, o papel das mulheres, mesmo numa relação homossexual, é considerado secundário, parecendo nem sequer passar obrigatoriamente pelo sexo: por ser considerado limitado, assume-se na narrativa que as relações homossexuais entre mulheres são sempre vilipendiadas em relação às outras, sejam elas homossexuais entre homens ou heterossexuais.

Seja por via das descrições das relações homossexuais, condenadas e diminuídas, ou pelo culminar da construção de uma personagem que inclui um negócio de realização e distribuição de filmes pornográficos, Paris, que é inicialmente apresentada como uma cidade moderna e livre, acaba por ser vista, à luz da narrativa, como um lugar de perversões, sem regras nem moral. Claro, esta descrição acaba por ser contraposta à de Portugal, outrora descrito como provinciano (no início da narrativa), mas finalmente apresentado como o lugar onde não ocorre a “libertinagem de Paris” (p. 152).

Os “falsos preconceitos”, a que Monique se refere algumas vezes, tratando ainda Mariana por “Mademoiselle Faux Prejugés” (p. 149), não seriam, assim, falsos, mas antes uma forma válida, e certeira, de se nortear moralmente as acções quotidianas. Os preconceitos, desta forma, apresentados como enraizados na cultura portuguesa, contrastariam com a devassidão que é, na narrativa, associada a França. Aliás, é a própria Monique quem o diz a Mariana: “Talvez sejas tu que tenhas razão, e que os teus preconceitos de portuguesa, que me fizeram rir, sejam justos e verdadeiros” (p. 148). Desta forma, aquilo que inicialmente é visto como tacanhez cultural é, no final da narrativa, o caminho para “o carácter”, ou não se acusasse Mariana “[d]a sua leviandade, [d]a sua falta de vontade e de carácter” (p. 151), estando a linha de fundo da narrativa não só moralmente próxima da apregoada pelo Estado Novo, mas também ao serviço da sua política anti-emigração, já que, apresentando o que existe fora de barreiras como imoral e promíscuo, ajuda a quebrar, no quarto ideológico e moral do regime, os incentivos para a saída do país.

Para saber mais sobre as obras das autoras portuguesas censuradas pela PIDE, clique aqui.

1Azevedo, Cândido de (1997). Mutiladas e Proibidas. Para a história da censura literária em Portugal nos tempos do Estado Novo. Porto: Caminho.

2 Infelizmente, não se conseguiu apurar a fonte usada por Cândido de Azevedo. No serviço electrónico de busca de processos individuais da PIDE da Torre do Tombo, não consta o nome de Nita Clímaco. Para mais, a documentação da censura a livros que deu entrada no Arquivo Nacional proveniente da Biblioteca Nacional não está completa, faltando inúmeros relatórios. Assim sendo, não é possível aceder a vários, incluindo todos os referentes a Nita Clímaco, através da pesquisa na página online da Digitarq.

Para saber mais sobre as obras das autoras portuguesas censuradas pela PIDE, clique aqui.

Sobre o/a autor(a)

Doutorada em Literatura, investigadora, editora e linguista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.
Comentários (1)

Neste dossier:

As obras das autoras portuguesas censuradas pela PIDE

Nas últimas semanas, estivemos a olhar para a história da censura literária em Portugal, focando-nos nas obras das autoras que a PIDE censurou. Neste dossier, podemos ver análises de todas essas obras - um total de 21, escritas por 9 autoras. Dossier organizado por Ana Bárbara Pedrosa.

Escritoras portuguesas e Estado Novo: 9 autoras e 21 obras censuradas

No decorrer do Estado Novo, foram censuradas 21 obras de 9 autoras portuguesas. Salta à vista o número reduzido e a variedade de percursos destas obras, que têm ainda valores literários muito diferentes. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Três Marias: a censura de “Novas Cartas Portuguesas”

"Algumas das passagens são francamente chocantes por imorais (...) Sou do parecer que se proíba a circulação no País do livro em referencia, enviando-se o mesmo à Polícia Judiciária para efeitos de instrução do processo-crime." Por Ana Bárbara Pedrosa.

Maria Teresa Horta: a censura de “Minha Senhora de Mim” (1971)

"Minha Senhora de Mim (1971) compõe-se de 59 poemas. Neles, a autora usa a forma poética das cantigas de amigo medievais, usando a literatura canónica – e, portanto, a tradição literária – para desafiar um status quo." Por Ana Bárbara Pedrosa.

Maria Teresa Horta: a censura de “O delator”

"É uma peça nitidamente marxista, sem ponta por onde se lhe pegue: se fizesse cortes seria da primeira à última linha. Por isso reprovo.", pode ler-se num parecer da PIDE. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fiama Hasse Pais Brandão: a censura de "Quem move as árvores" (1970)

"As relações dialógicas são constantes na obra de Fiama: se em O Testamento vimos que vida e peça se confundem, dialogando, em Quem move as árvores há um paralelismo temporal com alcance no passado, entre a época da monarquia e o Estado Novo. Em nenhum dos casos o povo escolhe, o poder é imposto." Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fiama Hasse Pais Brandão: a censura de três peças num volume

"Auto da Família, consiste numa versão ou visão desprimorosa e desrespeitosa do Natal de Cristo, apresentando Maria e José como dois criminosos que, depois de terem morto, para os comerem, a vaca e a mula do presépio, abandonam o filho à porta do lavrador, proprietário da estrebaria onde os deixara alojar." Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fiama Hasse Pais Brandão: a censura de “O Museu”

O tom absurdista da peça dificulta a sua análise, na medida em que, para além de não haver grandes relações dialógicas até nos próprios diálogos, se torna difícil descortinar as intenções da autora. No entanto, são mostrados dois grupos numa relação conflitual, em que um está submisso ao outro, recebendo acriticamente as suas instruções, viabilizando acontecimentos que servem os interesses do segundo. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fiama Hasse Pais Brandão: a censura de “O Testamento”

"A peça de Pais Brandão sugere que não pode haver espectadores na vida, que toda a gente tem de intervir em tudo o que à vida pública diz respeito, e é por isso que peça e vida se confundem, mostrando a autora que em tudo há relações dialógicas". Por Ana Bárbara Pedrosa.

Natália Correia: a censura de “O Encoberto”

"Trata-se do desenvolvimento em estilo de 'paródia' de assunto histórico, com não poucas pinceladas pornográficas, à maneira de 'Natália Correia', com alusões ao povo português ou a figuras históricas com expressões de chacota e uma clara intenção de ridicularizar", pode ler-se no relatório da PIDE. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Natália Correia: a censura de “A Pécora”

Nesta peça, Natália Correia denunciou os poderes da Igreja e a relação estabelecida entre esta e o Estado, assim como o comércio religioso. Ao mesmo tempo, o povo tem consciência do seu poder colectivo. O Estado Novo não gostou. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Natália Correia: a censura de “O vinho e a lira”

"Como a função destes Serviços não é de índole literária não cabe aqui a apreciação do valor literário desta obra que me parece nulo. Todavia há que assinalar as suas intenções e expressões que considero muito más.", pode ler-se no parecer da PIDE. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Natália Correia: a censura de "O Homúnculo"

O Homúnculo contaria com a rápida censura, sendo de imediato apreendida, e, pasme-se, com a admiração de Salazar. No cenário, a autora denuncia ainda os pactos implícitos e explícitos entre os vários poderes que estruturavam a ditadura salazarista. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Nita Clímaco: a proibição de “O adolescente”

As orelhas da capa do livro faziam propaganda a dois livros proibidos. Assim, a PIDE proibiu também a circulação deste romance. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Natália Correia: a censura de “A comunicação”

Este é um texto em que a autora apresenta uma ambiguidade entre poesia e teatro. A PIDE considerou que “o estilo irreverente e por vezes pornográfico da linguagem em frequentes passagens de algumas das quadras” obrigava à “reprovação da peça”, já que a sua “Indispensável sequência” impossibilitava “quaisquer cortes de saneamento”. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Nita Clímaco: a proibição de “Pigalle”

Como em "Falsos Preconceitos", o romance parece inicialmente querer contrastar uma moral retrógrada portuguesa com uma França livre e moderna. Acaba por mostrar uma França imoral, perversa, desta vez palco de negócios de tráfico e redes de prostituição. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Nita Clímaco: a proibição de “Falsos preconceitos”

A PIDE considerou que “dada a imoralidade que o livro revela”, “não é de molde a ser autorizada a sua circulação no País”, e isto apesar de a obra ser de tal forma reaccionária que, afinal, se colocaria ao serviço do que o regime apregoava. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Maria da Glória: a proibição de “A Magrizela”

Nesta obra, não apenas há muitas situações sexuais como há muitas variantes que hão-de ter sido ainda mais problemáticas para os censores: sexualidade infantil, necrofilia (praticada por crianças), atracção sexual de uma criança pelo pai adoptivo, relações eróticas homossexuais, relações eróticas grupais, várias relações extra-conjugais. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Carmen de Figueiredo: a proibição de “Vinte anos de manicómio!”

O romance não foi censurado assim que foi publicado. É que, "como era feito por uma escritora”, os censores da PIDE nunca supuseram “que esta tivesse escrito com tanta realidade”.  O livro tem “um realismo tão cru e descrições de tal basévia e lubricidade que custa a crer terem sido escritas por uma mulher”. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Carmen de Figueiredo: a proibição de “Famintos”

A PIDE censurou a obra “Famintos”, de Carmen de Figueiredo, considerando que esta se “refere a uma vida familiar romanceada, com descrição de acidentes trágicos, revelando caracteres mórbidos, aberrações sexuais e outras taras”. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fotografia: ephemerajpp.com

Maria Archer: a proibição de "Casa sem pão"

"Casa sem pão" (1957) foi o segundo livro de Maria Archer proibido pela PIDE e deu azo não apenas ao processo mais longo sobre qualquer uma das suas obras, mas também ao processo mais longo que tratamos neste dossier. Por Ana Bárbara Pedrosa.

Fotografia: cvc.instituto-camoes.pt

Maria Archer: a proibição de "Ida e volta duma caixa de cigarros"

A PIDE censurou a obra "Ida e volta duma caixa de cigarros", de Maria Archer, considerando que este “não atingiu o alcance moral” e que a autora “compraz-se na volúpia do pormenor sensual”. Por Ana Bárbara Pedrosa.