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Nicarágua: Sete movimentos e partidos juntam-se na Coalición Nacional Opositora

Sete organizações políticas da oposição assinaram na terça-feira, 25 de fevereiro, no ato de formação da Coalición Nacional, uma plataforma que pretende forçar o regime Ortega-Murillo a restaurar as liberdades democráticas. Por Matthias Schindler.
Ação de apresentação da Coalición Nacional Opositora
Ação de apresentação da Coalición Nacional Opositora

Sete organizações políticas da oposição, incluindo a Alianza Cívica e a Unidad Nacional Azul y Blanco (UNAB), assinaram na terça-feira, 25 de fevereiro, no ato de formação da Coalición Nacional, uma plataforma que pretende forçar o regime Ortega-Murillo a restaurar as liberdades democráticas, libertar todos os presos políticos e alcançar uma reforma eleitoral que leve a eleições livres e transparentes. A sua meta é derrubar, de maneira pacífica e constitucional, a ditadura orteguista na Nicarágua.

No total, houve sete organizações que assinaram – cercadas pela polícia de choque – a proclamação da plataforma batizada ‘A Coligação está em marcha!’. As organizações políticas integradas foram o Partido de Restauración Democrática (PRD), o Movimiento Campesino, o Partido Liberal Constitucionalista (PLC), a Fuerza Democrática de Nicaragua (FDN), o partido indígena Yatama, a Alianza Cívica e a UNAB. O partido Ciudadanos por la Libertad não se juntou à coligação, alegando que precisa de consultar as suas estruturas de base.

“Por meio desta proclamação, comprometemo-nos a continuar trabalhando na construção de uma coligação nacional plural, inclusiva e participativa, com representação democrática, justa e ponderada de todos, onde todo o nicaraguense que luta contra a ditadura tem um espaço. A bandeira azul e branca une-nos e, para reconstruir a Nicarágua, é essencial desterrar a ditadura do poder e da nossa cultura”, disse o ex-prisioneiro político Yubrank Suazo de Masaya.

“Nesta coligação, temos um propósito, uma visão compartilhada do país, com princípios e valores éticos que comprometem os seus membros a prescindir dos interesses particulares e a trabalhar para uma Nicarágua com liberdades, justiça, segurança, prosperidade e democracia. Uma Coalición Nacional que pratica uma nova maneira de fazer política, deixando para trás os vícios da reeleição e do caudilhismo que causaram tantos danos ao país e ao povo”, acrescentou Suazo.

Juan Sebastián Chamorro, da Alianza Cívica, disse que a Coalición Nacional não tem somente um objetivo eleitoral. “O objetivo da coligação é democratizar a Nicarágua, mas não deve permanecer apenas como uma condição eleitoral. Essa é uma parte importante, mas agora, é prioritário lutar pela libertação dos presos políticos, exigindo o retorno das liberdades públicas, para que possam fazer manifestações no país, para que possamos encontrar-nos ao ar livre. Para impulsionar reformas eleitorais e para apresentar uma opção eleitoral para governar sob as orientações de um plano nacional.”

Os opositores escolheram a data de 25 de fevereiro para apresentar a coligação, devido ao trigésimo aniversário do triunfo eleitoral da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro, que, liderando a Unión Nacional Opositora (UNO), conseguiu derrotar Daniel Ortega e a revolução sandinista nas urnas em 1990.

A atividade foi realizada sob um cerco policial feroz, que incluiu não apenas a militarização do local da reunião da assembleia, mas também de Manágua e várias outras cidades do país.

Um grupo de manifestantes da oposição reuniu-se para cantar o Hino Nacional no shopping Metrocentro, localizado perto do local onde a Coligação foi apresentada. Mas um forte dispositivo policial entrou no estabelecimento para expulsar à força aqueles que participaram no protesto e os jornalistas que queriam dar cobertura ao acontecimento.

Comentário:

A proclamação da Coligação começa com estas palavras: “Em 25 de fevereiro de 1990, a grande maioria dos nicaraguenses votou a favor da restauração da paz na Nicarágua, do fim da guerra sangrenta que trouxe tanta dor às famílias nicaraguenses e da abertura das portas à reconstrução democrática e pluralista do país, para superar o desemprego e a pobreza.” Mas esta interpretação dos resultados eleitorais de 1990 só é uma parte da verdade. A outra parte é que nos anos 1980 Washington chantageou o povo da Nicarágua a continuar com esta guerra se os sandinistas se mantivessem no poder. Além disso os governos conservadores e liberais introduziram uma política forte neoliberal, que causou o empobrecimento de grandes partes da população e, ao mesmo tempo, o enriquecimento de um novo grupo capitalista através de uma corrupção cada vez maior. O facto de mencionar na proclamação somente a interpretação mais reacionária dos resultados das eleições de 1990, mostra que nesta coligação estão juntas organizações e partidos desde a direita até à esquerda política. Não está claro de nenhuma maneira como se vai desenvolver esta Coligação Opositora. Mas não há dúvida que as forças dum sandinismo crítico e democrático – depois de tantas desilusões políticas e experiências horríveis perpetradas sob a denominação “sandinista” – representam uma minoria bem limitada.

Artigo e comentário de Matthias Schindler

Sobre o/a autor(a)

Técnico de construção de máquinas reformado. Politógo.
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