You are here

"Não nos roubem o Natal", clamam trabalhadores da Soares da Costa

Os trabalhadores da Soares da Costa paralisaram e manifestaram-se, nesta sexta-feira, para reivindicarem o pagamento de salários e subsídios em atraso e protestarem contra o despedimento coletivos de 500 pessoas. A Soares da Costa é controlada em 66,7% pela GAM Holdings, do empresário angolano António Mosquito.
Concentração dos trabalhadores da Soares da Costa junto aos estaleiros da empresa, em Vila Nova de Gaia, exigindo o pagamento de salários em atraso e protestando contra a vontade da empresa de despedir 500 trabalhadores – Foto da Lusa

Despedimento coletivo de 500 pessoas

A administração da empresa de construção Soares da Costa anunciou nesta quarta-feira, 16 de dezembro de 2015, a sua vontade de proceder a um despedimento coletivo de 500 trabalhadores. A Comissão de Trabalhadores disse à agência Lusa que a Soares da Costa tinha em janeiro 1.060 funcionários.

Segundo a Lusa, um comunicado da administração da empresa, assinado pelo seu atual presidente executivo Joaquim Fitas, justifica a vontade de despedimento coletivo de tantas pessoas com as "repercussões nefastas" para a empresa da crise e a “estagnação do mercado de construção” em Portugal e em Angola. Para o executivo de Joaquim Fitas é “inevitável o redimensionamento e reestruturação” e refere que a empresa vem acumulando prejuízos anuais superiores a 60 milhões de euros, que entre 2013 e 2014 o volume de negócios caiu cerca de 30% e que “a estrutura não se adaptou aos desafios e manteve-se inelástica, pesada e sem que o negócio conseguisse cobrir os pesados custos”.

Em entrevista ao “Público”, o atual presidente executivo da empresa diz que a Soares da Costa fechará 2015 com um volume de negócios de 300 milhões de euros, mais de 90% realizado nos mercados externos.

António Mosquito ainda detém 66,7% da Soares da Costa?

Segundo a Lusa, a Soares da Costa é controlada em 66,7% pela GAM Holdings, detida pelo empresário angolano António Mosquito, que entrou no capital da construtora no final de 2013, sendo os restantes 33,3% da SDC - Investimentos (ex-Grupo Soares da Costa).

Em entrevista ao “Público”, Joaquim Fitas diz que quando António Mosquito adquiriu 66,7% da empresa encontrou “os cofres vazios e o volume de negócios em queda” e diz que “os propósitos iniciais do empresário se mantêm”, e que são os de transformar a Soares da Costa “num grande empreiteiro em Portugal e na África Austral, a partir de Angola”.

O jornal lembra que António Mosquito saiu de presidente não executivo da Soares da Costa em novembro passado e refere que “se especula sobre uma eventual venda da participação de António Mosquito na Soares da Costa, na sequência da sua saída da presidência”.

O jornal “Diário de Notícias” desta quinta-feira diz que António Mosquito, para além de ter saído dos órgãos sociais da Soares da Costa em meados de novembro passado, “terá vendido todas as ações do grupo” e lembra que António Mosquito “também controla 27,5% do Global Media, que detém o DN e Dinheiro Vivo [assim como, JN e TSF]”.

Não nos roubem o Natal”

Os trabalhadores da Soares da Costa realizaram nesta quinta-feira uma paralisação e concentração junto aos estaleiros da Rechousa em Gaia, para reivindicar o pagamento de salários em atraso e apelar à reversão do processo de despedimento coletivo de cerca de 500 funcionários.

"Não nos roubem o Natal", "Com os valores de Abril e a Luta de Maio: A luta continua!" ou "Os nossos filhos têm direito ao Natal" - são algumas das frases das faixas dos trabalhadores que se concentraram junto aos estaleiros em Gaia, segundo a agência Lusa.

À comunicação social, José Martins da CT da Soares da Costa disse que a falta de pagamentos, nomeadamente da totalidade do mês de novembro e do subsídio de férias, "arrasta-se no tempo", não sendo "virgem nem inédita".

"O lema da empresa era ‘nós ganhamos pouco mas é certinho' e neste momento continua pouco mas já não é certo (…). Como diria [Fernando] Pessoa ‘quando a alma não é pequena, tudo vale a pena'. O novo primeiro-ministro tem aqui uma boa oportunidade de mostrar aos portugueses que é diferente do Governo que saiu. Nesse sentido há sempre esperança", declarou José Martins.

O representante da CT disse ainda: "Fala-se sobre o setor financeiro, fala-se de mais um banco em dificuldades, mais um auxílio do Governo, mas relativamente à construção civil e outros setores importantes, de que é que se fala? Rigorosamente nada. Temos cerca de 275 mil a 300 mil na construção civil e estamos à espera que todos emigrem?".

Termos relacionados Sociedade
(...)