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Mulheres, minorias étnicas e pessoas LGBT sofrem com 'epidemia de invisibilidade' em Hollywood

Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia conclui que indústria de cinema dos EUA vive 'crise de inclusão' e que a televisão é 'reduto promissor' para minorias. Por Carolina de Assis.
O elenco da série Orange is the New Black, produzida pelo Netflix, considerada um exemplo em diversidade de representação.

Pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia divulgaram na passada semana os resultados de uma extensa pesquisa que examinou a diversidade da representação na indústria de cinema e TV dos Estados Unidos. A conclusão do estudo corrobora os protestos de diversos nomes da indústria nos últimos meses, que têm chamado a atenção para a sub-representação de minorias sociais como pessoas negras e mulheres no cinema e na TV norte-americana: Hollywood “ainda funciona como um clube de garotos brancos e heterossexuais”.

Uma “crise de inclusão”

“Não é um simples problema de [falta de] diversidade. É uma crise de inclusão”, afirmou Stacy L. Smith, responsável pelo estudo e pela Iniciativa sobre Media, Diversidade e Mudança Social da Escola de Comunicação e Jornalismo da universidade norte-americana. Segundo a pesquisadora, a sub-representação de mulheres, minorias étnicas e pessoas LGBT nos filmes e nas séries de TV de Hollywood reflete a ausência destas pessoas em cargos de liderança e nas equipas de produção da mulimilionária indústria de cinema e TV dos Estados Unidos.

"Hollywood “ainda funciona como um clube de garotos brancos e heterossexuais”, conclui o estudo.

Dos 414 títulos analisados pela pesquisa – 109 filmes lançados em 2014 e 305 séries de TV exibidas entre setembro de 2014 e agosto de 2015 –, cerca de 50% não continham um único personagem de origem asiática e cerca de 20% não continham um único personagem negro. “Antes do #OscarsSoWhite [OscarTãoBranco], vem #HollywoodSoWhite [HollywoodTãoBranca]”, afirmou Smith, numa referência ao movimento de boicote à cerimónia do Oscar deste ano devido à falta de pessoas negras entre os indicados para os prémios de atuação, apoiado pelos atores Will Smith e Jada Pinkett Smith e pelo diretor Spike Lee, entre outros.

O recorte de género mostra que apenas 33% dos personagens com falas eram mulheres, e somente 28,3% destas não eram brancas – 10% a menos do que a realidade da população norte-americana, alegam os pesquisadores. A desigualdade aumenta com a idade dos personagens no cinema e na TV: entre aqueles com mais de 40 anos, 74,3% eram homens e 25,7% eram mulheres.

Do total de 11.306 personagens com fala analisados, apenas 2% se identificavam como lésbicas, gays, bissexuais ou transgénero.

Do total de 11.306 personagens com fala analisados, apenas 2% se identificavam como lésbicas, gays, bissexuais ou transgénero. A pesquisa identificou somente sete personagens trans neste universo – 4 deles eram personagens da mesma série de TV.

Empresas são impermeáveis às mudanças

A discrepância é ainda maior por detrás das câmaras: 87% dos 414 títulos analisados foram dirigidos por pessoas brancas, e somente 3,4% dos 109 filmes lançados por estúdios de Hollywood em 2014 foram dirigidos por mulheres. Apenas duas destas mulheres eram negras: Ava DuVernay, diretora do filme “Selma”, sobre a marcha liderada por Martin Luther King entre as cidades de Selma e Montgomery em 1965, e Amma Asante, diretora de “Belle”, que conta a história da personagem-título, filha de uma escrava e de um almirante da Marinha Real britânica no século XVIII.

O estudo também elencou os 10 maiores estúdios dos EUA num “índice de inclusividade” que considera a percentagem de mulheres, membros de minorias étnicas e pessoas LGBT entre os personagens e de diretoras e roteiristas envolvidas nas produções para cinema e TV.

Nenhum dos seis maiores estúdios passaram dos 20% no ranking, mas empresas que estão a produzir para a TV nos EUA, como a Disney, CW, Hulu e Amazon, superaram o índice de 65%, indicando “redutos promissores” na televisão, diz Smith.

“Quando procuramos ver onde o problema está melhor ou pior, o ápice dessa nossa empreitada é: todo o mundo no cinema está a fracassar, todas as empresas analisadas. Elas são impermeáveis às mudanças. Mas há redutos promissores na televisão” que mostram que a mudança é possível, acredita a professora. “Agora temos provas de que elas podem fazer e podem ter sucesso nisso.”

Publicado no site Opera Mundi em 22 de fevereiro de 2016.

Subtítulos da responsabilidade do esquerda.net

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