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Mulheres indígenas marcham em Brasília

5 mil mulheres de 172 povos de todos os biomas do Brasil e de todas as gerações marcharam esta sexta-feira na capital brasileira sob o lema “reflorestando mentes para curar a terra”.
"Mulheres Originárias: Reflorestando mentes para Cura da Terra!". Imagem via Twitter de @ApibOficial

“Temos a força do ventre, temos a força da mãe terra, temos a força da nossa ancestralidade! #Fora Bolsonaro!”, foi uma das principais palavras de ordem na II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, marcha que levou mais de 5 mil mulheres de 172 povos de todos os biomas do Brasil a marcha em Brasília esta sexta-feira.

“Nós, mulheres indígenas, seguimos em marcha há mais de cinco séculos. E continuaremos marchando por direitos, não queremos mais ver as nossas meninas violentadas em nome do patriarcado e do racismo”, pode ouvir-se numa das intervenções durante a marcha organizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Marcada para 9 e 10 de setembro, a marcha foi reorganizada para se realizar apenas esta sexta-feira devido à presença de grupos fascistas armados, identificados com roupa com a palavra Agro. Estes grupos invadiram a Esplanada dos Ministérios “com olhares coniventes do Governo do Distrito Federal e em apoio a Jair Bolsonaro”, bloqueando o local aos manifestantes, pode ler-se num esclarecimento da APIB.

E questionam: “quem é o Agro que financia esses criminosos? Quem são os golpistas que querem a todo custo impedir o Supremo Tribunal Federal de julgar o processo da Terra Indígena Ibirama-Lalkãnã do povo Xokleng”, processo neste momento em discussão no Supremo Tribunal Federal que poderá marcar a política de demarcação de terras no Brasil.

As comunidades indígenas do Brasil foram duramente afetadas pelas políticas de Bolsonaro, seja pela promoção da indústria agrícola, que ataca os territórios indígenas e mata as populações através de milícias privadas, seja pela ausência de assistência médica face à pandemia da covid-19, o que levou a APIB a apresentar pela primeira vez uma queixa no Tribunal Penal Internacional contra Jair Bolsonaro por genocídio dos povos indígenas.

Até agosto, foram registadas 58017 pessoas indígenas infetadas pela covid-19, resultando na morte de 1162 pessoas de 163 comunidades indígenas.

Segundo a APIB, o Brasil tem cerca de 850 mil indígenas de entre mais de 300 comunidades. Desde o início da crise pandémica, os povos mais afectados pelas políticas do Governo Bolsonaro foram os munduruki, yanomami, tikuna, guarani-mbya, kaingang e guarani kaiowá. 

Os alertas contra a atuação de Bolsonaro face aos povos indígenas têm vários anos. Em 2019, especialistas brasileiros que trabalham sobre a política de proteção indígena alertaram para um “genocídio em curso” contra tribos isoladas, devido aos cortes de investimentos na área e por interferências “ideológicas” na atuação da Fundação Nacional do Índio, organização pública dedicada à proteção dos povos indígenas. A pandemia da covid-19 agravou a tendência anterior.

“Viemos de todo o país realizar nosso encontro de mulheres, em um diálogo sobre as nossas pautas e acompanhar o que pode ser o julgamento mais importante para os direitos indígenas no país em décadas. O Marco temporal é uma aberração jurídica, elaborada por aqueles que financiam essas manifestações antidemocráticas, e que a todo custo, historicamente, tentam calar nossa voz, subjugar nossos corpos, assim como já fizeram no passado”, conclui a APIB.

 

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