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Morreu o encenador e escritor Jorge Listopad

O escritor, professor e encenador checo, radicado há várias décadas em Portugal, morreu no domingo, aos 95 anos, em Lisboa. Listopad encenou cerca de 60 peças de teatro e deixa 50 obras de prosa, poesia e ensaio.
Poeta, cronista e encenador premiado, Jorge Listopad nasceu em 1921, em Praga, mas vivia em Portugal, desde a década de 1950. Foto da página oficial do escritor, no Facebook.
Poeta, cronista e encenador premiado, Jorge Listopad nasceu em 1921, em Praga, mas vivia em Portugal, desde a década de 1950. Foto da página oficial do escritor, no Facebook.

O funeral realiza-se na quinta-feira, em Lisboa, segundo informação publicada na sua página oficial no Facebook, onde se pode ler também uma pequena biografia.

Poeta, cronista e encenador premiado, Jorge Listopad nasceu em 1921, em Praga, onde se doutorou em Filosofia, mas vivia em Portugal, desde a década de 1950. Aqui fez carreira na literatura, nos jornais e na televisão, embora a sua grande paixão sempre assumida fosse o teatro. Encenar, dizia, era a sua maneira de escrever para teatro, já que ser dramaturgo foi coisa que nunca lhe interessou. “Há [no teatro] uma sedução erótica, que sempre se quer”, disse Listopad ao jornal i, em 2012. “É uma tentação. No teatro, o actor aquece a sua personalidade, o seu interior. Esse aquecimento passa depois para os outros”.

Nesta entrevista também explicou como acabou um checo radicado em Portugal a chamar-se Jorge: “Jorge é o mesmo que Jíri [seu nome no Bilhete de Identidade checo]. Listopad é ‘Novembro’. Nasci em Novembro. Agora o Jorge tem a mesma raiz, estão todos ligados à terra; são lavradores. Portanto, sou o lavrador de Novembro.”

As suas mais recentes produções foram “A Instalação do Medo”, em 2014, no Teatro Municipal São Luiz, e “Meu Tio Jaguar”, em 2012, no Teatro Nacional D. Maria II. Listopad encenou cerca de 60 peças de teatro e deixa 50 obras de prosa, poesia e ensaio, em checo, português e francês.

Praga, Paris, Porto, Lisboa.

Jorge Listopad perdeu a família, durante a Segunda Guerra Mundial, perseguida pelo regime nazi de Hitler.

Depois de viver dez anos em Paris, onde chegou clandestinamente levando na mala apenas cinco dólares, uma camisa lavada e dois livros – a Bíblia e O Valente Soldado Svejk, de Jaroslav Hasek, livro editado pelo seu avô paterno, que começou a carreira como tipógrafo –, Listopad mudou-se para o Porto, onde foi um dos fundadores da RTP Porto, trabalhou como realizador de televisão e começou a colaborar com a imprensa portuguesa, assinando crítica de teatro, crónica e ensaio.

Foi no Porto que conviveu com a escritora Agustina Bessa-Luís, a poetisa Sophia de Mello Breyner, o cineasta António Reis e o poeta Eugénio de Andrade, que lhe corrigia os textos e de quem se tornou amigo.

Mais tarde mudou-se para Lisboa para lecionar no Instituto Superior de Ciência Política. Colaborou com vários jornais portugueses e checos, presidiu à Comissão Instaladora da Escola Superior de Teatro e Cinema, codirigiu o Teatro Nacional D. Maria II e, em 1981, fundou e dirigiu o Grupo de Teatro da Universidade Técnica de Lisboa.

“O Jorge Listopad tinha sobretudo uma imaginação prodigiosa, muito especial. Era um homem de poucas palavras, subtil, mas sempre com muita ironia”, disse ao Público José Carlos Vasconcelos, diretor do Jornal de Letras, no qual Listopad colaborava desde 1982.

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