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Moções abriram debate na XII Convenção do Bloco

Representantes das cinco moções deram o pontapé de saída para o período de debate político da Convenção que decorre este fim de semana em Matosinhos. Publicamos aqui os vídeos das intervenções.
Convenção do Bloco
Convenção do Bloco. Fotos de Ana Mendes

O período de debate político da convenção bloquista arrancou ao início da tarde de sábado com as intervenções de apresentação das cinco moções de orientação política para os próximos dois anos do partido.

Pedro Filipe Soares (moção A): “Um Orçamento de esquerda terá o voto do Bloco”

Pela moção A, Pedro Filipe Soares começou por saudar as lutas dos povos da Palestina e do Sahara Ocidental contra a ocupação dos seus territórios. “Há quem não os esquece, quem com eles luta e a luta trará sempre a vitória”, afirmou o líder parlamentar do Bloco.

“Há quem queira resumir o debate à votação do próximo Orçamento do Estado”, prosseguiu Pedro Filipe Soares, respondendo que isso não tem sentido, uma vez que “é o Governo que tem de apresentar um Orçamento do Estado para avaliarmos”, dado que em 2019 “escolheu esse caminho” ao recusar renovar o acordo político anterior.

Uma coisa é certa, prosseguiu: “Alguma vez o Bloco faltou à esquerda” na defesa de direitos sociais ou das vítimas das diferentes opressões, questionou. A conclusão é que “esta é a esquerda que nunca faltou à esquerda” e por isso “um Orçamento de esquerda terá o voto do Bloco”, garantiu. O que está por se saber é se o PS o irá apresentar. E para já, apontou Pedro Filipe Soares, “os indícios não são positivos”, pois o PS “faz gáudio de ter poupado quando o país mais precisava de apoios” e revela “submissão aos interesses europeus”, ao “deixar para trás os trabalhadores”.

Por isso, em vez de respostas ao Orçamento que não existe, esta Convenção deve servir para “lançar a recuperação do país, aquela que conta com as pessoas e combate as desigualdades, o sistema financeiro e garante os serviços públicos e o futuro”, concluiu Pedro Filipe Soares.

Apresentação da Moção A: Sair da Crise, Lutar Contra a Desigualdade

Ana Sofia Ligeiro (moção E): Direção seguiu “linha de confronto mitigado que só serviu o PS”

A apresentação da moção E esteve a cargo de Ana Sofia Ligeiro, que destacou na sua intervenção a importância da “pluralidade de opiniões e liberdade para discutir, que será sempre a força deste movimento”. “Estamos cá para construir a solução política e a discussão interna sem condicionantes ao debate político”, afirmou a representante da moção E, em nome da “dissidência que permite o debate” e da recusa de “lógicas de verticalização da estrutura partidária”

A intervenção incluiu críticas ao percurso político dos últimos anos, que esta moção defende que é preciso “corrigir”, evitando “análises ambíguas” dos resultados eleitorais. Para Ana Sofia Ligeiro, o Bloco “perdeu peso reivindicativo junto do PS”, ao seguir uma “linha de confronto mitigado que só serviu o PS”.

A moção E defende que deve ser dada “prioridade na agenda política às questões laborais” e que a “contemporização da esquerda com a injustiça social favorece o crescimento da extrema direita”. Por outro lado, quer ver também discutidas a Europa e a dívida, a construção de uma sociedade ecossocialista e propostas para atacar a pobreza e desigualdades como o aumento do salário mínimo, divisão justa do trabalho, soberania alimentar, energética e financeira.

“Enquanto durar a austeridade, severa ou amena, estes direitos não estão garantidos”, prosseguiu Ana Sofia Ligeiro, destacando também a proposta de regionalização numa lógica de “repensar o país em comunidades mais autónomas” e com mais participação democrática.

Apresentação da Moção E: Enfrentar o Empobrecimento, Polarizar à Esquerda

João Patrocínio (moção Q): “Não é com discussões nos corredores no Parlamento que se faz a mudança política”

Pela moção Q, João Patrocínio trouxe um balanço crítico da atuação do partido. Para esta moção, a direção bloquista “continuou o caminho da mediatização excessiva e de uma  política de navegação à vista”, caracterizada pela importância dada “aos assuntos de cada semana” que resulta numa “política do mediatismo de curto prazo”.  Por outro lado, acrescentou João Patrocínio, acentuou-se o “foco absoluto no trabalho parlamentar, que se transformou na “medida de toda a atividade do partido” neste período marcado pela “verdadeira institucionalização”.

Em resumo, prosseguiu, “é cada vez menos o partido-movimento para se tornar um partido como os outros”. Para a moção Q, “não é com discussões nos corredores no Parlamento que se faz a mudança política”. E embora reconheça a importância do voto contra o último Orçamento do Estado, sublinha que “a geringonça ainda não desapareceu do imaginário da direção”.

Entre as propostas apresentadas pela moção Q está a “prioridade à renovação da democracia interna”, dando espaço “ao crescimento das bases em vez da centralização excessiva do poder”. E também o destaque aos temas da luta pela paz e do ecossocialismo, que “tem de marcar o centro da política programática e não ser uma flor da lapela”. Para João Patrocínio, “estas são as causas de um partido anticapitalista do século XXI”.

A moção Q criticou ainda a redução do número de delegadas e delegados à Convenção, por entender que “nenhuma medida sanitária justifica que se reduza a representatividade das moções”. Salientou que não é a primeira vez que apresentam estas críticas na Convenção, “ao contrário dos que preferiram saltitar entre o apoio e a oposição, conforme lhes deu jeito”. E concluiu com a esperança de que esta não se transforme em “mais uma convenção-comício, em que se responde à comunicação social em vez do debate com os camaradas”.

Apresentação da Moção Q: Quebrar Correntes, Lutar Pelo Socialismo

Américo Campos (moção C): “A grande maioria dos aderentes nada têm a ver com as correntes do século XX”

Na sua intervenção de apresentação da moção C, Américo Campos recuou ao tempo da Revolução Russa e às ações de Lenine, Trotski e Estaline para explicar como “é pitoresco que três russos envolvidos numa revolução mal sucedida há mais de 100 anos influenciem um partido de esquerda do século XXI em Portugal”.

A referência justifica-se por esta moção apontar que as duas moções com mais delegados eleitos à Convenção “são sustentadas por três tendências: uma leninista, uma trotskista e uma estalinista”. É que embora “a extrema-esquerda sectária e dogmática” tenha decidido “abandonar os conselhos dos seus mentores russos” em 1999, Américo Campos diz que “estes não saíram das mentes de muitos dos seus seguidores”.

No entanto, “a grande maioria dos aderentes nada têm a ver com as correntes do século XX” e querem um Bloco “virado para o futuro, para a democracia, liberdade e socialismo”, apontou ainda Américo Campos.

“Temos de nos libertar da poeira da história, aproximarmo-nos do povo e dos seus anseios. E só conseguiremos alcançar o nosso objetivo estratégico se formos fieis aos nossos princípios e valores, o que passa por livrarmo-nos da tralha estalinista”, defendeu o representante da moção C, alertando também que está provado que “quando confundimos tática e estratégia e mudamos de estratégia em vez de tática, a base de apoio penaliza-nos eleitoralmente”. A concluir, desejou que fiquem resolvidos o que identifica como os principais problemas internos do Bloco, como “os défices organizativos e de democracia interna” do partido.

Apresentação da Moção C: Mais Democracia, Mais Organização

Paula Rosa (moção N): “Não haverá verdadeira mudança na sociedade se não houver resposta clara aos deserdados”

Pela moção N, Paula Rosa criticou a redução do número de delegados justificada pela situação pandémica, apontando que essa decisão “retirou representatividade nacional” à Convenção. Numa intervenção mais dedicada aos temas políticos do que às questões internas, a moção N defendeu a necessidade de “recuperar a palavra revolução” e “contrariar o crescimento da extrema-direita”. Apresentou-se em nome da “diversidade que esteve na origem do Bloco" e defendeu que “não haverá verdadeira mudança na sociedade se não houver resposta clara aos deserdados”.

“Saber ouvir empaticamente é mais importante que discursar, é a garantia de que as ações estão ancoradas na realidade concreta”, prosseguiu Paula Rosa, defendendo uma estratégia de “proximidade e transformação” que consiga revalorizar a saúde, a educação, o poder local e o ecossocialismo. “Não deixemos que a revolução seja utopia, ainda que a façamos de forma tranquila e ponderada”, sublinhou.

“Negociar não é ceder, é reconhecer que por dentro do sistema ele pode ser reformado”, defende a moção N, afirmando-se “contra o continuísmo interno”. Nesta intervenção, Paula Rosa destacou a importância da luta antirracista, que passa por “reconhecer o racismo estrutural na sociedade” portuguesa, numa altura em que as estatísticas internacionais “colocam-nos ao lado de Orban”. Além do combate à infiltração da extrema direita nas forças de segurança, esta moção defende que o país deve ter também “formação antirracista obrigatória para professores e alunos, polícia, justiça e titulares de cargos políticos”.

Apresentação da Moção N: Por Uma Revolução Tranquila

Termos relacionados Política, XII Convenção
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