O debate no Parlamento espanhol era sobre o Orçamento e a ministra da Igualdade, Irene Montero, dava explicações sobre a afetação de verbas na sua pasta. Mas não escapou às críticas da direita sobre o tema político do momento no país vizinho, a entrada em vigor da lei conhecida como "só o sim é sim" e que altera a tipologia penal dos crimes de violação e abuso sexual no sentido de proteger as vítimas e impedir a sua revitimização em julgamento. Face aos pedidos de revisão de penas de condenados, alegando que a nova lei lhes é mais favorável, alguns juízes têm baixado as penas aplicadas a agressores sexuais, apesar de o Procurador Geral Álvaro García Ortiz ter dado ordens aos procuradores para não apoiarem revisões de penas quando os anos de cadeia das condenações anteriores estejam no intervalo dos previstos na nova lei.
Com as decisões daqueles juízes, nas últimas semanas muitos políticos do PP e do Vox - que antes se opuseram à nova lei com o argumento de que todos os homens se arriscavam a ser presos a partir de agora - acusam agora o Governo e em especial a ministra Irene Montero, do Podemos, de ter feito uma lei para "libertar violadores".
Mas na sessão parlamentar de quarta-feira, a deputada do Vox Carla Toscano foi longe demais nos ataques à ministra. Além de lhe chamar "libertadora de violadores", afirmou também que o seu "único mérito é o de ter estudado em profundidade Pablo Iglesias", o ex-líder do Podemos e companheiro de Irene Montero. De imediato a esquerda parlamentar se insurgiu no plenário contra o insulto e Alfonso de Célis, o vice-presidente do Congresso que ocupava naquele momento o lugar da Presidente, pediu que as palavras da deputada da extrema-direita fossem retiradas da ata da sessão.
"Vamos travar este bando de fascistas com mais direitos", responde Irene Montero
Irene Montero interveio em seguida, pedindo que ficasse registada na ata "a violência política que se está a exercer neste momento na sede da soberania popular para que não se apague, para que depois de mim não venha mais nenhuma, para que todo o mundo possa lembrar a violência política e quem a exerce".
"E também para que se possa saber que as feministas e as democratas somos mais e vamos travar este bando de fascistas com mais direitos", concluiu a deputada, sendo aplaudida de pé pela maioria dos deputados presentes.
Basta de violencia política pic.twitter.com/5SM51tkqNh
— Irene Montero (@IreneMontero) November 23, 2022
Depois da resposta firme de Irene Montero, as redes sociais encheram-se de mensagens de solidariedade com a ministra espanhola, a começar pelo chefe do executivo Pedro Sánchez e outros membros do Governo, até dirigentes de outros partidos, incluindo do PP. A solidariedade contra os insultos machistas de que foi alvo veio também de outros países, incluindo a dos presidentes da Argentina e do Chile, Alberto Fernández e Gabriel Boric ou da coordenadora bloquista Catarina Martins.
A violência machista da extrema-direita espanhola no parlamento ofende e representa um perigo concreto para todas as mulheres. Nenhuma hesitação na denúncia desta violência e toda a solidariedade com @IreneMontero https://t.co/lnkuftxII8
— Catarina Martins (@catarina_mart) November 23, 2022