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Milhões de argelinos manifestaram-se contra o sistema e o quinto mandato de Bouteflika

Milhões de pessoas manifestaram-se na passada sexta-feira por toda a Argélia, opondo-se à tentativa de impor o quinto mandato de Bouteflika, como um facto consumado. Os protestos vão continuar com desobediência civil e greve geral. Por Madjid Makedh.
Milhões de pessoas manifestaram-se por toda a Argélia, opondo-se à tentativa de impor o quinto mandato de Bouteflika, como um facto consumado
Milhões de pessoas manifestaram-se por toda a Argélia, opondo-se à tentativa de impor o quinto mandato de Bouteflika, como um facto consumado

A manobra dos detentores do poder foi desbaratada. A sua oferta política, apresentada no passado domingo (3 de março) para tentar mitigar a cólera das e dos argelinos não passou. O referendo da rua decidiu a questão.

O veredito é contundente: “Não ao quinto mandato!", “O povo quer a queda do sistema”. Milhões de pessoas, sem risco de equívoco no número, manifestaram-se na passada sexta-feira em todo o país, opondo-se à tentativa de impor como facto consumado a apresentação, por procuração, da candidatura do presidente Bouteflika no Conselho Constitucional. Assim, a proposta [supostamente] do presidente Bouteflika, lida pelo seu diretor de campanha Abdelghani Zaâlane, em que solicita um mandato de um ano para organizar a transição para “uma nova República” foi varrida de facto.

E o número de cerca de 6 milhões de assinaturas de eleitoras e eleitores, que teriam dado o seu acordo para o 5º mandato, já não tem qualquer peso face à maré humana que ocupou a rua e continuará a fazê-lo, sem dúvida, nos próximos dias. Por isso, se os defensores do regime contavam com um esgotamento do movimento, desencadeado no dia seguinte ao anúncio oficial da candidatura do chefe do Estado, já têm uma resposta.

Clara e sem possibilidade de ser mal interpretada. A mobilização popular conheceu o seu ponto culminante nesta sexta-feira 8 de março. Ninguém pode prever ainda o futuro deste protesto. Já estão a preparar-se novas formas de protesto, entre elas a desobediência civil anunciada para os próximos dias e que será marcada por uma greve geral em todo o país.

Uma verdadeira crise política

Em qualquer caso, com esta mobilização o povo reclama a recuperação do que é seu. Faz valer o conteúdo do artigo 7 da Constituição que estipula que “o povo é a fonte de todo poder. A soberania nacional pertence exclusivamente ao povo”. Aí temos uma resposta diferente à dos responsáveis dos partidos no poder que, durante longos anos, opunham este princípio constitucional a todas as vozes opositoras que reclamavam a alternância no poder.

E agora, atrever-se-ão ainda a confiscar o poder? Têm algum sentido as eleições de 18 de abril que eles se empenham em manter contra ventos e marés? Em qualquer caso, a crise política, segundo a opinião de todos as pessoas observadoras do cenário nacional, não tem precedentes. É, talvez, a mais grave de toda a história do país. Os partidários da “continuidade” não a viram vir do alto da sua torre de marfim.

Até um passado muito recente, eles achavam que na Argélia havia apenas essa clientela facilmente domável e que caía em todas as armadilhas que lhe armavam. Agora, o fogo chegou à sua própria casa. A crise instalou-se já no seio da FLN [Frente de Libertação Nacional], principal apoiante do quinto mandato e na qual se assiste a uma verdadeira cascata de demissões de quadros. O secretário geral da UGTA (União Geral de Trabalhadores de Argélia), Abdelmadjid Sidi Said, assiste, também ele, a uma verdadeira revolução no seio da central sindical, com várias uniões sindicais a porem em questão o direito de ele pronunciar-se em nome delas a favor do quinto mandato.

Artigo de Madjid Makedh, publicado em El Watan, traduzido para espanhol por Faustino Eguberri para Viento Sur. Tradução para português de Carlos Santos para esquerda.net

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