Em Madrid, Valência, Castelló, Alicante, Saragoça e Oviedo houve este domingo marchas em defesa dos cuidados de saúde primários. Foram milhares as pessoas que exigiram uma saúde “de qualidade, universal e acessível para os cidadãos” respondendo ao apelo de mais de uma centena de organizações da sociedade civil.
Segundo a organização, em Madrid terão sido 15.000 manifestantes. Aí se contestaram os cortes no setor que levaram a uma falta de recursos e à consequente “intolerável” deterioração da qualidade. O cortejo madrileno juntou os líderes das duas principais centrais sindicais do país, CCOO e UGT. Segundo a agência EFE, Unai Sordo, das Comisiones Obreras, exigiu um investimento de pelo menos 7,2% do PIB na saúde e que um quarto da verba seja dedicada para os cuidados de saúde primários. A ele se juntou Pepe Álvarez, da UGT, na defesa de mais investimento público nos cuidados básicos. Por sua vez, Marciano Sánchez Bayle, porta-voz da Federação Espanhola em Defesa da Saúde Pública, apontou que a saúde primária é “a grande esquecida” do setor da saúde, sofrendo de falta de investimento, de profissionais e acessibilidade com muitos centros de saúde ainda encerrados ou com horários reduzidos no contexto da pandemia.
Manifestación SALVEMOS LA ATENCIÓN PRIMARIA
Vamos a por todas.
¡CUESTIÓN DE VIDA O MUERTE!
Los trabajadores y los ciudadanos, ELEGIMOS VIDAhttps://t.co/ayKThfjwNO pic.twitter.com/ooXRHx2mNw
— PlataformaCS_Madrid (@PlataformaCS_M) December 12, 2021
Madrid, um desastre sanitário
Isabel Díaz Ayuso, a presidente de direita da Comunidade de Madrid, foi a grande visada pelas críticas e ouviram-se pedidos para a sua demissão. Os cortes na saúde atingiram em força esta região que é a que menos investe na saúde em percentagem do PIB em Espanha, de acordo com os números compilados pelo El Diario: em 2019, Madrid tinha gasto apenas 3,7% nesta área, a Catalunha também registou um baixo investimento com 4,9%, o que contrasta com a média nacional de 5,6% e com os valores aplicados na Extremadura (8,6%) e nas Astúrias e Castilla-La Mancha (7,6%). Para 2022, Ayuso apresenta um orçamento em que destina menos 178 milhões de euros do que tinha executado em 2019, ainda antes da pandemia.
Em plena pandemia foram encerrados os serviços de urgência dos cuidados de saúde primários e muitos dos trabalhadores da saúde que tinham sido contratados no âmbito da crise pandémica começaram a ser notificados por SMS no final do mês passado de que o seu contrato acabará a 31 de dezembro de 2021. Serão cerca de 7.000 despedimentos, entre enfermeiros, auxiliares e técnicos de laboratório, entre os quais 690 médicos. Os sindicatos opõem-se à decisão e lembram os números elevados de pessoas em listas de espera na saúde: desde o início da pandemia as listas de espera em Madrid aumentaram 3.500%. Em fevereiro de 2020 havia 230 pessoas à espera há mais de 180 dias por uma operação, em outubro de 2021 esse número subiu para mais de 9.000. As pessoas que esperam há mais de um ano também se multiplicaram por dez.
O setor da saúde tem-se mobilizado contra Ayuso com ações como concentrações de médicos, a última delas em dezembro, contra o “abuso de Ayuso”: para além dos despedimentos e da precariedade, estão em causa as más condições laborais, a falta de recursos e consultas a cada três minutos. Ou a tomada de posição de mais de vinte diretores de centros de saúde que suspenderam funções e se declararam “inabilitados” para trabalhar depois de o governo local da região da capital ter cortado com as substituições em caso de baixas. O objetivo era poupar nas horas extraordinárias pagas aos clínicos que aumentavam os horários dos seus turnos. Foi lançado igualmente um manifesto por 51 organizações sindicais, sociedades científicas e associações de defesa da saúde pública classificando a situação dos cuidados de saúde primários como “crítica”.