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México protesta contra leilões de arte pré-colombiana em França

O governo mexicano pretende que as peças anteriores à colonização lhes sejam restituídas. A ministra da Cultura defende que estas “não são artigos de luxo para decorar uma casa” e critica que “o património cultural se tenha tornado uma mercadoria, quando representa a identidade dos povos”.
Estátuas no Museu Antropológico do México. Foto de DEZALB/Pixabay.
Estátuas no Museu Antropológico do México. Foto de DEZALB/Pixabay.

Em Paris, dois leilões de arte prévia à colonização espanhola estão a gerar polémica. O governo mexicano exige que as peças sejam restituídas mas o primeiro deles, realizado pela Artcurial, e que colocou à venda 37 peças, já aconteceu no passado dia 2 de novembro. O segundo, organizado pela Christie’s, está marcado para quarta-feira e contará com 139 artefactos.

Quer a embaixada mexicana em Paris quer a ministra da Cultura do país protestaram contra as vendas. Em comunicado citado pela ArtNews, a embaixada manifesta “preocupação profunda” com a legalidade da venda e alega que esta “retira a estes objetivos de valor incalculável a sua essência cultural, histórica e simbólica, transformando-os em mercadorias ou curiosidades ao separá-los do seu ambiente antropológico” e que “a comercialização de peças arqueológicas encoraja o crime internacional e cria condições favoráveis para o recrudescimento da pilhagem de património cultural através de escavações ilegais”.

Já Alejandra Frausto Guerrero, em carta aberta à leiloeira Artcurial, mencionou a Declaração de Intenções de Fortalecimento da Cooperação Contra Tráfico Ilícito de Propriedade Cultural, assinada pelos governos destes dois países em julho passado, e que continha um compromisso de restituição de peças culturais. Para além disso, vincou que o seu governo “lamenta e reprova de forma contundente esta venda, cujas peças constituem propriedade da Nação, inalienável e imprescritível, extraídas sem autorização e de maneira ilícita do território nacional, uma vez que a sua exportação está proibida pela legislação mexicana desde 1827”.

A governante pensa que “estas peças históricas não são artigos de luxo para decorar uma casa” e critica que “o património cultural se tenha tornado uma mercadoria, quando representa a identidade dos povos”.

O governo mexicano pressiona em várias frentes. A governante diz que o seu executivo avançou com “procedimento judiciais” e requereu ainda a intervenção da Unesco, que garantiu à France Presse estar a analisar a informação recebida para decidir se há alguma ilegalidade envolvida.

As leiloeiras em questão não deram qualquer resposta aos mexicanos. Quem o fez foi Henri Paul, presidente do Conselho de Vendas, o regulador do mercado de arte francês, que disse ao Le Figaro que o México não apresentou “justificações precisas” para sustentar a sua posição, não havendo assim provas de que “todos os objetos pré-colombianos vendidos em França provêm de um tráfico ilícito, como diz a ministra”. Além disso, defendeu que as leiloeiras “devem verificar a identidade dos proprietários das obras que vendem e não colaborar com o tráfico, sob pena de incorrerem em graves sanções”.

A cada novo leilão, os argumentos repetem-se, por vezes com desfechos diferentes. Em setembro passado, o governo mexicano tinha conseguido travar um leilão de 17 objetos culturais pré-colombianos em Roma. Estes foram devolvidos. E na passada sexta-feira, o estado alemão Saxónia-Anhalt decidiu devolver 13 peças que tinham sido descobertas numa propriedade. Por outro lado, também na Alemanha no mês passado, o governo mexicano não conseguiu deter um leilão de 30 peças. Em fevereiro deste ano também tinha falhado na tentativa de impedir outro leilão da Christie’s, em Paris, em que a venda de artefactos aztecas e maias rendeu perto de 2,5 milhões de euros.

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