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Marisa recorda “rajada de esperança” de Pintasilgo em 1986

Decorre este domingo à noite, o debate que, pela primeira vez em Portugal, põe frente-a-frente duas mulheres candidatas ao cargo de Presidente da República. Para Marisa Matias, trinta anos depois de Pintasilgo, “é um sinal de maior maturidade” ter duas mulheres candidatas, mas destaca que há muito por fazer.
Foto de Paulete Matos

Corria o ano de 1986 quando, pela primeira vez em Portugal, uma mulher concorria ao mais alto cargo da nação, o de Presidente da República. Falamos de Maria de Lourdes Pintasilgo, cuja candidatura, segundo Marisa Matias, "teve importância por várias razões, não só por ser uma mulher, mas pela mensagem da candidatura, a mensagem muito forte de pôr a democracia a funcionar, pouco mais de dez anos depois do 25 de Abril, foi muito marcante e ficou até hoje". 

Quarenta anos após a democracia que instituiu o sufrágio universal, permitindo pela primeira vez o voto de todas as mulheres, e trinta anos depois da candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo, Portugal volta a ter candidaturas no feminino, com Marisa Matias e Maria de Belém, o que revela, segundo Marisa Matias, “a afirmação lenta das mulheres no quadro político nacional”. Ainda assim, diz que “não se pode ofuscar o positivo que tem pelo facto de estarmos muito atrasadas”.

“Trinta anos depois é um recomeço e é positivo haver duas mulheres candidatas. É um sinal de maior maturidade, embora falte muito", destacou. Recorde-se que desde as eleições em 1976, irão a votos, em presidenciais (2016 incluídas), 44 homens e apenas 3 mulheres.

Para Marisa Matias, Maria de Lourdes Pintasilgo "era alguém que inspirava confiança, simpatia, e que foi uma rajada de esperança", sublinhando que apesar de a história ser “ingrata porque conta sempre só a perspetiva dos vencedores", Maria de Lourdes Pintasilgo ficou na história mesmo não sendo uma vencedora.

Já no passado dia 21 de Dezembro, na sessão pública “Cidadãs”, Marisa havia lembrado um texto de Pintasilgo, que classificou como o seu “ponto de partida": 

“Muitas vezes o poder está disponível para gerirmos esse poder, para podermos agarrar nele e dele tirar o melhor rendimento, para podermos fazer ou inventar algo de novo. E não é mal nenhum pensar que esse sentido do nosso próprio poder nos fornece energia para a acção.
Muitas vezes não agimos porque, sobretudo nós enquanto mulheres, ainda lidamos mal com o poder.
Quando falo na questão do poder, vou ainda mais longe. É que uma parte integral da acção para uma mudança política – essa mudança que pode tornar as pessoas capazes de outra vida, ao menos com condições mais felizes – é uma redefinição do nosso «eu»: quem sou e como vivo em relação às coisas, aos objectos, em relação ao tempo, em relação ao poder. E nós, mulheres, temos que fazer para nós próprias essa redefinição” (Pintasilgo, 1982 , citada em Koning, 2005: 26).

O debate presidencial entre Marisa Matias e Maria de Belém decorre este domingo à noite, às 22h00, e será transmitido pela TVI24.

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