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Mais pobres quase não sentiram o recuo da inflação

Segundo o Banco de Portugal, o abrandamento da inflação em novembro e dezembro de 2022 teve um impacto desigual. Para quem tem menos, a inflação real em dezembro foi de 10,4%, enquanto para os mais ricos foi de 9%.
Foto de Paulete Matos.

O impacto do abrandamento da inflação não é sentido de forma igual por quem tem rendimentos diferentes. E o Banco de Portugal (BdP) veio confirmar isso mesmo, noticia esta segunda-feira o Jornal de Negócios.

Nos últimos dois meses de 2022, a inflação recuou e no fim de dezembro era de 9,6%. Mas se tivermos em conta os diferentes perfis de consumo, verificamos que as famílias com mais rendimentos sentiram uma inflação de 9% nas suas compras, enquanto para quem ganha menos, essa inflação continuou acima dos 10%.

Segundo o Bdp, este fenómeno não foi visível quando a inflação aumentou, com todas as famílias a sentirem a subida de preços de acordo com a variação da inflação. Foi só em novembro e dezembro, “contrastando com a descida da taxa de variação homóloga do IPC, a inflação estimada para os quintis de menor rendimento manteve-se em valores elevados”.

Assim, a inflação real sentida por quem tem menos rendimentos em Portugal foi de 10,4% em dezembro, 0,8 pontos percentuais acima da taxa de 9,6% anunciada pelo INE. Para quem tem mais foi de 9%, seis pontos abaixo da taxa anunciada.

O que explica a diferença é que nos gastos das famílias com menores rendimentos, a alimentação ocupa uma fatia maior das despesas, tal como a habitação e energia, e foi nestes produtos que os preços mais subiram. Pelo contrário, o abrandamento da subida dos preços ocorreu sobretudo em bens não essenciais. Daí resulta que o impacto da inflação atinja sobretudo os mais pobres, que já optam pelos produtos mais baratos e não conseguem assim escapar aos preços mais caros sem abdicar do consumo de bens essenciais, pois tanto o nível de poupança como de riqueza são muito reduzidos.

Este efeito é conhecido e já em agosto o BdP o referia, explicando que o contributo dos bens alimentares, habitação e energia representava “73% da variação do custo de vida” da famílias com menores rendimentos e apenas 40% das que têm mais rendimentos.

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