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A “mais devastadora” gripe das aves de sempre na Europa

Pelo menos 50 milhões de aves de criação foram já abatidas e mais de 50.000 aves selvagens morreram devido ao H5N1, apesar da contabilidade destas estar ainda amplamente por fazer. E o surto vai continuar avisam os especialistas.
Trabalhadores dos serviços veterinários da Dinamarca abatem milhares de perus. 06 de janeiro de 2022. Foto de CLAUS RASMUSSEN/EPA/MADS/Lusa.
Trabalhadores dos serviços veterinários da Dinamarca abatem milhares de perus. 06 de janeiro de 2022. Foto de CLAUS RASMUSSEN/EPA/MADS/Lusa.

As autoridades sanitárias europeias dizem que entre outubro e setembro de 2022, “a Europa foi atingida pela epidemia de influenza aviária altamente patogénica mais devastadora”. Segundo as contas da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, do Centro Europeu de Prevenção e de Controlo de Doenças e do laboratório de referência da União Europeia, 37 países europeus foram afetados por um surto do vírus H5N1 com mais de 2.500 focos detetados. Pelo menos 50 milhões de aves de criação, galinhas, patos ou perus, foram mortas. Um número que não inclui abates preventivos que possam ter sido feitos à volta dos focos.

E, depois disso, a situação até piorou. “Pela primeira vez” não houve uma separação marcada entre duas vagas epidémicas com o vírus a não ter desaparecido com o verão e com as contaminações a crescerem com a chegada do inverno. A comparação deste outono com o do ano passado mostra um crescimento de 35% no número de explorações pecuárias afetadas. Entre 10 de setembro e 2 de dezembro, cerca de 400 focos foram detetados em 18 países europeus, com França, Reino Unido e Hungria a serem os mais atingidos.

A gripe das aves também foi detetada 63 espécies selvagens e em 600 vezes mais ocorrências. A Organização Mundial de Saúde Animal estima que mais de 50.000 aves selvagens tenham morrido desde outubro de 2021, especialmente na Europa e na América. Na Europa, as aves selvagens têm sido mais atingidas nas zonas costeiras de países como o Alemanha, em França, na Holanda e no Reino Unido. Contudo, ressalva que o número é difícil de contabilizar e pode estar subestimado. Só nos próximos anos, com a contabilização das aves migratórias que regressaram ou não se conseguirá ter mais certezas.

A gravidade da situação no que toca à vida selvagem fez alguns especialistas referirem-se ao que está a decorrer como uma nova “Primavera Silenciosa”. Trata-se de uma referência ao livro de 1962 de Rachel Carson que denunciou a grande escala das mortes de aves causadas por pesticidas, especialmente o DDT. James Pearce-Higgins, diretor científico do British Trust for Ornithology esclarece ao Guardian que “a última vez que experienciámos perdas de aves selvagens em tão larga escala e tão rápidas no Reino Unido terá sido com os impactos do DDT nas aves de rapina nas décadas de 1950 e 1960 associadas à Primavera Silenciosa, ou com o declínio generalizado das aves das terras agrícolas durante as décadas de 1970 e 80 como resultado da intensificação da agricultura”.

A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar está “atualmente a avaliar a disponibilidade de vacinas” e “examina eventuais estratégias de vacinação”, anunciando resultados apenas para o segundo semestre de 2023. Entretanto, espera-se que a gripe das aves “persista para além da próxima época de acasalamento com consequências imprevisíveis” diz um relatório da última conferência do International Seabird Group.

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