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Mais de um milhão nas ruas da Argélia para fazer uma "revolução alegre"

Gaïd Salah, chefe de Estado Maior das Forças Armadas, era um apoio seguro do presidente argelino Abdelaziz Bouteflika. Na passada terça-feira tinha surpreendido ao vir à televisão defender que o presidente em exercício fosse deposto constitucionalmente do seu cargo por incapacidade, dada a sua condição de saúde.
Se a intenção desta intervenção era apaziguar as manifestações ou salvar o regime, parece ter obtido o efeito contrário. Esta sexta-feira as manifestações voltaram a ser massivas. Pela sexta semana consecutiva. A dimensão dos protestos até aumentou e os manifestantes, que começaram simplesmente por protestar contra a possibilidade de Bouteflika se recandidatar a mais um mandato, colocam agora em causa “o sistema”. É difícil saber quantos eram mas muitos meios de comunicação social referem que, apenas em Argel, seria um milhão.
#Algérie maintenant #29Mars2019 pic.twitter.com/Ng8BAoXzGI
— Nadia Mehdid نادية محديد (@NMehdid) 29 de março de 2019
Nas ruas, a palavra de ordem mais ouvida responde ao mesmo tempo a Bouteflika e ao general: "Bouteflika, vais embora, leva Gaïd Salah contigo!"
Salah nem foi o primeiro a deixar entender que o regime está disposto a deixar cair o chefe de Estado para se manter no poder. Várias figuras políticas e organizações aliadas do regime já o tinham feito. São, aliás, cada vez menos aqueles que publicamente defendem uma manutenção de Bouteflika no cargo depois de terminado o mandato. Na sequência da sua polémica recandidatura, o presidente tinha decidido adiar as eleições que já estavam marcadas. Propunha-se ficar no poder o tempo suficiente para marcar uma conferência que supostamente iria liderar uma reforma profunda do sistema político argelino. Também esta manobra não funcionou. Bouteflika está cada vez mais sozinho mas o grupo por detrás dele persiste no poder.
Por isso, a “revolução alegre” insiste nas ruas. Desfila-se. Ultrapassam-se barreiras policiais. Canta-se. A música A Liberdade do rapper Soolkin soa desafiantemente. O seu refrão insiste que “a liberdade não nos faz medo”.
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