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Mais de dois terços do museus prevêem vir a passar por dificuldades financeiras

Falta de trabalhadores, idade avançada das equipas dos museus, uma enorme quebra no número de visitantes e a perda de receitas são as principais preocupações dos participantes de um inquérito da comissão nacional do Conselho Internacional de Museus.
Biblioteca do Museu Nacional de Arte Antiga
Biblioteca do Museu Nacional de Arte Antiga, foto do respetivo museu, retirada de museudearteantiga.pt

De acordo com os resultados de um inquérito conduzido pela comissão nacional do Conselho Internacional de Museus (ICOM, em inglês), mais de um terço dos museus de Portugal contem vir a passar por dificuldades financeiras devido à diminuição drástica de visitantes. 

A falta de funcionários e a avançada média de idades das equipas dos museus, a quebra acentuada de visitantes, sobretudo estrangeiros, e a consequente diminuição de receitas são as principais preocupações manifestadas pelas entidades que responderam ao inquérito conduzido entre 24 de abril e 18 de junho. De acordo com a agência Lusa, que teve acesso aos resultados, 70,3% dos museus prevêem passar por dificuldades financeiras. 

94,6% dos museus que responderam esperam que a programação seja alterada devido à pandemia covid-19, com uma expectativa de 80% na possibilidade de recalendarização de exposições e atividades do serviço educativo.

O inquérito foi conduzido num período que englobou o encerramento e a reabertura dos museus após o estado de emergência. Assim, percebeu-se que o plano para reabertura estava elaborado em 51,4% das situações, e 89,5% consideravam ter condições para a reabertura, apesar de a estrutura da equipa implicar algumas condicionantes, devido a funcionários com necessidade de assistência à família (62,2%), pertencentes a grupos de risco (48,6%) e funcionários com idade superior a 60 anos em 48,6%, o que em si é um indicador do envelhecimento dos recursos humanos nos museus do país.

Com base nos testemunhos, concluiu-se que a grande maioria (83,3%) previa o encerramento, e, destes, 88% até previa o fecho total, sendo que na grande maioria (80%) foi a respetiva tutela que decidiu o encerramento devido à pandemia. 

O total das respostas permitem “traçar um quadro da realidade museológica nacional que reforça as grandes preocupações que têm vindo a ser expressas, agora exacerbadas pela situação inesperada e extrema que as sociedades a nível planetário vivem", conclui o ICOM-Portugal.

O Conselho reuniu um total de 68 respostas de 38 instituições, entre as quais constam museus nacionais, municipais, privados e de associações. Destes, “54% das quais não eram membros do ICOM-Portugal, e indica que à data do encerramento, a partir de 14 de março, 89% tinha um Plano de Contingência, que foi implementado por 90%”, noticia a Lusa. As respostas correspondem a 41% de instituições não dependentes do Estado (privada, associativa, ou outra), com 35% de tutela municipal, 19% dependentes de Direções Regionais de Cultura e 13,5% da Direção-Geral do Património Cultural

"É notório que se agravaram as situações problemáticas, e a preocupação em adaptar-se a uma nova realidade, de como vai ser lidar com as várias restrições, em particular com os públicos seniores e os grupos escolares”, explica Maria de Jesus Monge, presidente do ICOM-Portugal. 

"Todas as falhas que existiam antes vieram a agravar-se, nomeadamente a falta de condições e de recursos humanos nos museus da tutela do Estado”.

O ICOM-Portugal não considera o cenário global dramático, se for comparado com as situações vividas noutros países. Porém, chamam a atenção para o facto de estes resultados demonstrarem “uma grande fragilidade, expressa na pequenez das equipas, na precariedade face a situações imprevistas e, escondida na frieza dos números, a existência de um grande número de profissionais sem vínculo permanente que são os que mais sofrem quando a programação é brutalmente afetada”, conclui Maria de Jesus Monge.

O ICOM é uma organização não governamental, criada em 1946, dedicada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, tangível e intangível, através de orientações de boas práticas.

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