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Maioria presidencial bateu em retirada no parlamento francês

Depois de conseguirem chumbar por apenas um voto as refeições a um euro nas cantinas universitárias, os deputados da maioria abandonaram a sala e o projeto contra o desmembramento da empresa pública de energia acabou aprovado de forma quase unânime.
Foto Assembleia Nacional francesa.

Foi agitada a sessão parlamentar de quinta-feira em França, reservada à discussão e votação de propostas apresentadas pelo grupo socialista. E a oposição espera que seja um prenúncio do que acontecerá quando o tema mais quente da política francesa - a reforma das pensões com a subida da idade de reforma para os 64 anos, rejeitada pela grande maioria da população - for a debate e a votação na Assembleia Nacional.

Na parte da manhã, discutia-se a proposta do grupo socialista para baixar o preço das refeições nas cantinas universitárias para um euro, em resposta à crise que está a levar muitos estudantes a recorrer aos bancos alimentares. O grupo parlamentar Renascença, do presidente Macron, tinha aprovado várias alterações ao projeto em comissão. Agora em plenário, votava-se o regresso ao projeto original e o resultado surpreendeu a bancada e a ministra do Ensino Superior presente no hemiciclo, ao chumbar aquelas alterações por apenas um voto de diferença.

A partir daí, os deputados macronistas desdobraram-se em intervenções em defesa da sua proposta de ter as refeições a um euro apenas para os estudantes bolseiros, com o argumento de que generalizar a medida seria injusto e igualitarista. E sobretudo, olhavam para o relógio à espera que chegassem mais deputados da sua bancada para evitar a derrota na votação final do projeto, relata o Mediapart.

O alargamento das refeições escolares a um euro acabou chumbado por apenas um voto de diferença. Mas para o deputado socialista Arthur Delaporte, o que se assistiu no hemiciclo foi "um 'crash test' para a maioria" que deixou exposta a sua fragilidade.

O isolamento do grupo macronista ficou ainda mais evidente na sessão da tarde, na votação de outra proposta socialista sobre a nacionalização da EDF e contra o desmembramento da empresa, acompanhada de medidas para alargar o "escudo tarifário" que passaria a proteger da subida abrupta dos preços da eletricidade alguns setores como o da panificação e o pequeno comércio, entre outros. Além do resto da oposição, a proposta tinha também o apoio do grupo Republicanos, a ala direita que dá apoio parlamentar ao governo liderado por Elisabeth Borne.

"O Governo está sozinho, sozinho contra todos"

Ao longo de toda a tarde, os deputados macronistas recorreram a todo o tipo de expedientes regimentais para atrasar o debate, que esteve interrompido várias vezes. E já depois das 18h30, surgiu o golpe de teatro, com a líder da bancada da Renascença a anunciar que o grupo abandonaria a sala porque a introdução da medida sobre o "escudo tarifário" num projeto de lei sobre a nacionalização da empresa viola a Constituição, ao introduzir nova despesa pública. Após a debandada, a proposta acabou aprovada com 205 votos a favor, apenas um contra e quatro abstenções, e segue agora para o Senado.

"Esta é a primeira vez na história da V República em que um texto será votado na ausência da maioria. Você representa, senhor ministro [da Indústria, Roland Lescure], uma realidade que é agora irrefutável. O Governo está sozinho, sozinho contra todos. É um abandono do cargo", afirmou antes da votação o deputado comunista Sébastien Jumel.

Depois, a sessão prosseguiu sem a presença dos deputados da maioria e o PS francês - que ao início temia o bloqueio de todas as suas propostas por parte da bancada macronista, tal como já tinha acontecido na sessão dedicada às propostas da França Insubmissa - acabou por ver os restantes projetos aprovados, sobre temas que à partida seriam mais consensuais, como a proteção de menores vítimas de violência ou a criação de um provedor do Ambiente.

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